Proibição de canudos no comércio pode tirar autonomia de pessoas com deficiência

A proibição do fornecimento de canudos de plástico no comércio em Mato Grosso do Sul foi aprovada pelos deputados estaduais na última quinta-feira. Enquanto os comerciantes e ambientalistas podem encarar a medida como positiva, o projeto de lei pode impactar a rotina das pessoas com deficiência. A falta de uma coisa tão simples como um […]

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Pessoas com deficiência temem precisar de ajuda para tarefas simples como a da imagem: beber um milkshake. (Foto: Leonardo França)
Pessoas com deficiência temem precisar de ajuda para tarefas simples como a da imagem: beber um milkshake. (Foto: Leonardo França)

A proibição do fornecimento de canudos de plástico no comércio em Mato Grosso do Sul foi aprovada pelos deputados estaduais na última quinta-feira. Enquanto os comerciantes e ambientalistas podem encarar a medida como positiva, o projeto de lei pode impactar a rotina das pessoas com deficiência. A falta de uma coisa tão simples como um canudo de plástico pode tirar a conquista de uma vida inteira: a autonomia.

Proibição de canudos no comércio pode tirar autonomia de pessoas com deficiência
Rosa Maria precisa do canudo para tomar bebidas sozinha. (Foto: Arquivo Pessoal)

A estudante Rosa Maria, de 59 anos, conta que levou muitos anos até conseguir sua independência. Entretanto, a proibição dos canudos de plástico no comércio pode tirar sua conquista. Com os braços curtos, ela tem dificuldade de segurar copos de vidro, que são mais pesados. Até mesmo um cafezinho se torna uma dificuldade se servido em uma xícara grande. É nestas horas que o canudo se mostra mais do que necessário.

“Eu conquistei minha independência ao longo da vida. Saio sozinha, vou em balada e barzinhos, mas [com a proibição] vou depender de um colega para levar o refrigerante até a boca. Se eu for tomar café com os colegas, vou ser dependente de novo?”, questiona.

Há pouco tempo, a estudante passou na pele os transtornos que sofreria se os canudos fossem proibidos de vez em MS. Em uma viagem a Foz do Iguaçu (PR), Rosa Maria precisou de ajuda para tomar um suco de laranja porque a lanchonete não oferecia o canudo. “Ainda bem que meu esposo estava comigo e colocou o líquido na minha boca. Se eu estivesse com uma pessoa estranha, teria que pedir ajuda?”.

A falta do canudo também pode causar constrangimento a pessoas com outros tipos de deficiência. A jornalista e ativista dos direitos da pessoa com deficiência, Sarah Santos, explica que no caso de autistas, canudos feitos de outros materiais, como o acrílico podem causar náuseas.

Proibição de canudos no comércio pode tirar autonomia de pessoas com deficiência
Sarah é ativista dos direitos da pessoa com deficiência e acredita que os legisladores precisam incluir pessoas com deficiência na discussão. (Foto: Divulgação)

“[No caso de] pessoas com paralisia, elas babam muito e não dá para usar o canudo de papel. Pode existir uma alternativa sustentável para cada pessoa com deficiência, mas a nossa briga é por não terem nos inserido na narrativa deste projeto. Por não terem considerado que existe uma parcela da população que utilizam os canudos de plástico por necessidade, não luxo”, diz.

Sarah ainda ressalta que a falta dos canudos de plástico pode prejudicar a acessibilidade das pessoas com deficiência. Enquanto que para uma pessoa sem deficiência o projeto pode causar apenas um desconforto, para as PcD, é uma questão muito importante. “Ou ela não vai conseguir beber ou vai precisar de ajuda. A ideia de acessibilidade não é você ter uma pessoa para te ajudar, mas sim ter autonomia e independência para coisas básicas”.

Para a ativista, não quer dizer que as pessoas com deficiência são contra a redução de lixo, mas que a comunidade precisa ser incluída na discussão. Uma alternativa é disponibilizar os canudos apenas para quem precisa. “Assim como quando solicitamos o adaptador de plástico de hashi quando vamos em um restaurante japonês”, exemplifica.

Projeto aguarda sanção

Os deputados de Mato Grosso do Sul aprovaram em definitivo a proibição de fornecimento de canudos de plásticos em estabelecimentos comerciais no Estado. Com apoio de 14 parlamentares e 3 contrários, a proposta segue para sanção do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

O deputado Pedro Kemp (PT), autor do projeto, informou que a proposta foi inspirada em leis vigentes em outros estados do país e que tem como objetivo preservar o meio ambiente. “O projeto não saiu da minha cabeça. As pessoas me questionam por que não proibir sacos plásticos, mas o objetivo é promover educação ambiental”, discursou.

A ideia não incomodou donos de lanchonetes e clientes da Capital. Para a maioria, a conservação do meio ambiente está em primeiro lugar. Ainda assim, há quem reclame da dificuldade para tomar um milkshake, por exemplo, sem o canudo.

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