O drama de quem fugiu da crise na Venezuela e encontrou refúgio em Campo Grande
Motivada pelo cenário de crise vivido na Venezuela, a imigração de estrangeiros no Brasil representa um caos político, econômico e institucional. A falta de emprego e de recursos básicos para a sobrevivência resultou em uma situação de miséria, fome, agravamento de doenças e violência no país vizinho. Fugindo desses problemas, Enzo Gonzáles encontrou refúgio em […]
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Motivada pelo cenário de crise vivido na Venezuela, a imigração de estrangeiros no Brasil representa um caos político, econômico e institucional. A falta de emprego e de recursos básicos para a sobrevivência resultou em uma situação de miséria, fome, agravamento de doenças e violência no país vizinho. Fugindo desses problemas, Enzo Gonzáles encontrou refúgio em Campo Grande e conversou com o Jornal Midiamax sobre o drama vivido por ele.
A crise econômica na Venezuela se intensificou após a morte do presidente Hugo Chávez, em março de 2013, por problemas decorrentes de um câncer. Seu herdeiro político, Nicolás Maduro, assumiu o governo no mês seguinte, para um mandato de seis anos. Em 2015, após 18 anos de domínio chavista, a oposição conquistou maioria no Parlamento, o que fez eclodir um conflito entre poderes.
Nesse cenário, o Tribunal Superior de Justiça, aliado de Maduro, restringiu as funções legislativas da Assembleia Nacional. Em abril de 2016 uma série de protestos tomou as ruas de Caracas, exigindo a saída de Maduro. Ao fim de quatro meses de confrontos, o saldo era de 125 mortos e uma crise de proporções humanitárias.
Além de em seu primeiro discurso como líder do parlamento, Juan Guaidó insistir que a Assembleia Nacional não reconhecerá o novo mandado de Nicolás Maduro, que começou em 10 de janeiro deste ano, alegando que as eleições antecipadas de maio de 2018 foram “irregulares”, outros líderes internacionais como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL), também não reconhecem o mandado de Maduro.
Fome, busca por trabalho e esperança
Por causa disso, milhares de venezuelanos começaram a migrar para outras regiões à procura de melhores condições de vida e oportunidades de emprego. Um dos principais destinos escolhidos pelos imigrantes foi o Brasil. Muitos chegam doentes e famintos, em situação precária. Alguns casos são alarmantes, em função da falta de medicamentos e interrupção dos tratamentos aos quais estavam sendo submetidos.
Psicologicamente, os venezuelanos chegam degradados, com a tristeza no olhar de quem precisou deixar para trás suas casas, parentes, filhos e esposas, buscando conseguir meios para levá-los a um novo local e recomeçar suas vidas.
Drama esse que é vivido por Enzo Jesus Gonzáles Marin, 30 anos, auxiliar de pedreiro e pintura, que fugindo no início da crise da Venezuela veio para o Brasil e aqui está há 3 anos, entrando pelo estado de Roraima. Sofrendo com a falta de trabalho, e reclamando de que o salário baixo não dava para sobreviver no país vizinho, teve como opção atravessar a fronteira de seus país de origem.
Chegando em Roraima na cidade de Boa Vista, conseguiu no Núcleo de Registro de Estrangeiros da Policia Federal a solicitação de refúgio, o Venezuelano Enzo Jesus conta que começou a fazer “bicos” e em seguida conseguiu uma passagem para Manaus onde trabalhou por cerca de 2 anos, até ser mandado embora, sem ter mais obras na cidade, tomou a decisão de vir para Mato Grosso do Sul e está em Campo Grande há aproximadamente 15 dias.
Ofertas de emprego, segundo Enzo Jesus, até existem, algumas pessoas dão esperança de que no próximo mês ele possa ser contratado. A sonhada oportunidade de trabalho no ramo da construção civil, por enquanto, não veio.
Quando perguntado sobre a família, ele explica que todos ficaram na Venezuela, e que mantinha contato quando tinha celular, porém precisou vender para conseguir dinheiro para sobreviver, e faz cerca de 2 meses que não tem contato com seus familiares. Enzo Jesus lembra de uma conversa com sua mãe sobre a situação cada vez mais complicada na Venezuela. “Não tinha como trabalhar, a comida estava ficando cada vez mais cara, e o sofrimento era grande em todo o país”.
Mesmo há três anos no Brasil, o refugiado diz que a maior dificuldade ainda é aprender a falar o português. “O país é muito acolhedor, brasileiro gosta muito de ajudar, qualquer pessoa te dá um prato de comida, um copo dá água, isso é muito importante”.
O Enzo Jesus, relata que consegue abrigo no Cetremi, local destinado a moradores de rua em Campo Grande, e que por lá há mais um venezuelano que passa pela mesma situação e está em busca de emprego e sobrevivendo através de doação e a boa vontade do povo brasileiro.
Com esperança de a situação melhorar na Venezuela, e de poder voltar ao país onde nasceu, Enzo Jesus afirma que “não tenho vergonha, e nem medo, o Maduro sabe que não está trabalhando direito, e que o País está sofrendo e que venezuelanos estão sofrendo pelo mundo a fora, passando humilhação e tendo que se virar, espero que isso acabe e eu possa voltar”.
Enzo Jesus Gonzáles pode ser encontrado no Centro da Capital. “Eu fico durante o dia aqui no semáforo da Rua 26 de Agosto com a Avenida Ernesto Geisel ou no Cetremi [saída para Três Lagoas] no final do dia”.
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