Inconformação, tristeza e lágrimas são alguns dos sentimentos e reações de comerciantes da Rua Naviraí – na Vila Margarida, onde foi morto o morador de rua, conhecido como Marcos, na madrugada desta quinta-feira (26).

Marcos era alto, moreno, tinha a barba grande, cabelo curto e usava uma tira na cabeça onde pendurava um isqueiro. Além das características físicas, as pessoas também o descrevem como gentil, educado, comunicativo e nem um pouco agressivo.

Uma mulher, dona de um trailer na rua onde o crime aconteceu, chora ao lembrar de Marcos, que segundo ela, era seu primeiro cliente todos os dias. “Eu abro meu negócio sempre às 5h30 da manhã e ele ficava cuidando para ver eu chegar. Passava a mão no cabelo, no corpo, fazendo movimento de que estava se limpando, arrumava a roupa que usava e vinha tomar o café da manhã”, conta emocionada.

Morte de morador de rua assusta e comove comerciantes na Vila Margarida
A dona do trailer mostra a garrafa térmica que levou com leite para o morador de rua (Foto: Ana Palma, Jornal Midiamax)

Sem maldade ou malícia, Marcos tomava seu café, as vezes chá, e na tarde desta última terça-feira (25) pediu para a dona do trailer que levasse um pouco de leite para beber na manhã seguinte, mas infelizmente não apareceu para tomar. A mulher, arrasada com o acontecido, chora. “Hoje eu trouxe o leite que ele me pediu, tá aqui na garrafa térmica. As vezes trazia comida, dava água mesmo sem ele me pedir. Eu tinha muito respeito por ele e ele também me respeitava”, conta.

Um outro rapaz, que também não quis se identificar, ficou sabendo da trágica morte de Marcos nesta tarde de quarta-feira (26) que, para ele, se tornou cinza. “Marcos era muito querido pelos comerciantes dessa região, nunca maltratou ninguém, ele tinha os problemas dele, mas não atacava a população e também não ficava pedindo as coisas, conversava com a gente tranquilamente. Estou arrasado em saber que ele se foi. Quanta maldade de quem fez isso”, declara em lágrimas.

Família em primeiro lugar

Mesmo com todos os problemas psiquiátricos que Marcos tinha, a dona do trailer conta que ele conversava muito com ela sobre a família e se orgulhava em falar dos filhos. “Ele recebia um benefício mensal e todo mês a primeira coisa que fazia era pagar a pensão dos três filhos. O que sobrava ele gastava. Ontem mesmo ele veio aqui me falar que mandou o dinheiro para os filhos e sobrou R$ 400 reais. Pela manhã, foi comprar uma bicicleta com o recurso que sobrou. Todo feliz com a aquisição, me entregou a nota fiscal e pediu para guardar caso alguém suspeitasse que a bike não era dele”.

“Ele ainda chegou a me falar que iria de bicicleta até Ponta Porã visitar a mãe que há seis meses não a via. Disse que sairia hoje bem cedo e um dia ia chegar lá. Mas o sonho dele logo se acabou depois que a polícia passou aqui, ontem mesmo, e levou a bicicleta acusando-o de roubo. Ele chegou a falar que eu estava com a nota fiscal da compra, mas eles não acreditaram e não vieram ver o comprovante”, conta ela.

O esposo da dona do trailer, certa vez, chegou a ligar para a mãe de Marcos, que teria passado o contato. Segundo ele, durante a conversa, a mãe do rapaz disse que entregou o filho nas mãos de Deus, porque o que ela tinha para fazer por ele, ela fez.  Chegou a interná-lo em várias clínicas, mas ele mentia dizendo que estava bem e voltava na estaca zero.

Para completar a tristeza da mulher, ela conta que os taxistas da rua a culpavam de o morador de rua nunca sair da região. “Chegaram a me falar que eu segurava ele aqui por ficar alimentando e cuidando dele, mas eu o via como um ser humano e o tratava com respeito. Eu jamais tratei mal alguém, nem mesmo um animal, e Marcos era muito especial para mim, ainda não me conformo com sua ida”, lamenta.

O caso

O morador de rua foi assassinado a facadas durante a madrugada desta quinta-feira (26) e encontrado em uma calçada na Vila Margarida, em . Marcos tinha cortes na mão direita e na cabeça.

Junto ao corpo havia duas pontas de cigarro e um cartão de passe de ônibus ao portador. A vítima trajava bermuda preta, camisa branca, casaco tipo colete preto e se agasalhava com cobertor xadrez verde e cinza.