“Temos que lutar para não perder o que conseguimos. Se a gente se deixa, então perde. Se a gente lutar, consegue”. É assim, com uma simples frase, que a espanhola e referência em María Esther Martínez Quinteiro define a postura a ser tomada atualmente, não só no Brasil, mas em todo o mundo.

E foi desenvolvendo estudos a partir de ideias como essas que ela, pesquisadora da de Salamanca, contribuiu ao longo dos anos na ampliação dos horizontes dos direitos humanos, sendo agora agraciada com o título de doutora honoris causa pela (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

A cerimônia realizada na noite desta quinta-feira (7) na UFMS a selou a entrega do título, oficialmente concedido em 28 de novembro de 2018, sendo o 23º dos 27 concedidos pela UFMS. Em especial, María Esther é a primeira, independente de gênero, pesquisadora internacional a receber a honraria da universidade sul-mato-grossense.

“Recebo esse título com muita alegria e emoção. A UFMS é muito importante para mim, por várias razões. Já faz duas décadas que venho sempre aqui, onde tenho muitos amigos e colaboradores. Aqui surgiu o primeiro núcleo de direitos humanos no Brasil, foi o pioneiro. Estou encantada de estar aqui”, revela María.

Atuando nos direitos humanos, professora recebe título de honoris causa da UFMS
Pesquisadora destacou valores da democracia e dos direitos humanos em seu discurso (Leonardo de França, Midiamax)

Mesmo enxergando um mau momento atual no campo dos direitos humanos, com ataques a base de sustentação da democracia, María mantém o otimismo diante do panorama. “Todos os momentos maus tem saída, não são eternos. Passamos por problemas, porém penso que podemos melhorar bastante. É coisa de tempo”, diz, completando em seguida.

“Estamos vivendo uma crise sistêmica da democracia. Os direitos humanos são a sustentação da democracia. Então, o que vejo, em geral, é que há um problema muito grande no mundo, com muita destruição de movimentos de educação e direitos humanos. O momento não é bom em nenhum país”, frisa, em conversa com o Jornal Midiamax.

Já em seu discurso, María fez questão de destacar a importância da manutenção da democracia e de se desenvolver a consciência crítica necessária para atuar no campo dos direitos humanos. “Me sinto agraciada e feliz, muito obrigado”, finalizou, ao falar sobre o título de doutora honoris causa.

Atualidade e vida dedicada à pesquisa

O início acadêmico de María Esther foi na História Contemporânea, de onde partiu para os Direitos Humanos, onde dedicou tempo e construiu sua carreira como pesquisadora, sendo admirada em vários locais. Entre esses admiradores está a professora universitária e ativista dos direitos humanos, Tatiana Ujacow.

“A María é uma pesquisadora por excelência, uma intelectual que expandiu a área dela. Tive a oportunidade fazer uma palestra pelo IDH-MS (Instituto de Direitos Humanos de Mato Grosso do Sul) onde fui acolhida por ela em Salamanca em uma ocasião memorável. Ela me mostrou o trabalho desenvolvido por ela e vi a importância que aquela mulher tem para aquela universidade e tantas outras”, comenta Tatiana.

A professora, que leciona na Fadir (Faculdade de Direito), ainda destaca a atualidade da linha de pesquisa de María. “São muito atuais. Essa é a importância de quem trabalha, se dedica a pesquisa científica e acadêmica. Ela trata de questões que muitas pessoas não enfrentam com profundidade e ela consegue enfrentar, expandir e fazer isso ainda de uma forma internacional”, conclui Tatiana.

Já o reitor da UFMS, Marcelo Turine, destaca a contribuição de María para a pesquisa acadêmica. “É uma honra ter a professora em nossa galeria de doutores honoris causa, título máximo que concedemos, pois ela acrescenta muito conhecimento em uma temática importantíssima para a paz no mundo. A presença dela contribui conosco na criação do mestrado em Direitos Humanos e de várias pesquisas”.

A diretora da Fadir, Ynes da Silva Félix, foi quem propôs a titulação. “A María teve um papel fundamental no aprofundamento do nosso trabalho e no ensino dos direitos humanos. Ela formou uma escola na Universidade de Salamanca”, justifica.

Outra que prestigiou a solenidade de María Esther foi a presidente do IDH-MS, professora Rosangela Leiko Kato. “É muito importante essa homenagem para a professora María Esther. O professor José do Nascimento, fundador do instituto, a trouxe ao Brasil e expandiu com conhecimentos de ambos essa rede que nós temos sobre direitos humanos, não só no Brasil, mas também no exterior”, explica.

María Esther Martínez Quinteiro

María nasceu na conhecida Santiago de Compostela, capital da Galícia, região no noroeste espanhol, no ano de 1946. Quando nasceu, a Espanha vivia as consequências da guerra civil desencadeada pelo golpe militar de 1936 e que culminou com a ditadura do general Franco, que durou até 1975. Na UFMS, é professora visitante da Fadir.

Ela graduou-se em Filosofia e Letras pela Universidade de Santiago de Compostela, onde também atuou como professora. Depois, ela se transferiu para a Universidade de Salamanca para ministrar a disciplina de História Contemporânea. E foi lá que construiu toda sua história na pesquisa científica e acadêmica.

O local era um centro de efervescência política antifranquista, tendo María participado de muitas greves de alunos e professores que se estenderam até a morte de Franco e a queda do regime ditatorial implantado por ele.

A partir da implantação da democracia, as condições de trabalho, as novas oportunidades e as políticas de igualdade foram ampliando de forma progressiva as chances e a independência pessoal e acadêmica dela e também das mulheres na Espanha.

Entre suas obras publicadas, estão os livros “La mujer en la historia, el arte y el cine”, “Discurso de género, variantes de contenido y soportes”, “De la palabra al audio-visual”, “Comiendo del fruto prohibido” e “Mujeres, ciencia y creación a través de la historia”.