Por que a violência contra a criança sensibiliza mais do que outros crimes?

Com apelo muito maior a crimes envolvendo adultos, os crimes cometidos contra crianças geralmente recebem maior comoção pela sociedade e, quando esses crimes envolvem suspeitos que ocupam cargo social que seriam “acima de qualquer suspeita”, a reação é ainda maior. Na Operação Luz na Infância 2, entre os presos em Mato Grosso do Sul estão […]

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Com apelo muito maior a crimes envolvendo adultos, os crimes cometidos contra crianças geralmente recebem maior comoção pela sociedade e, quando esses crimes envolvem suspeitos que ocupam cargo social que seriam “acima de qualquer suspeita”, a reação é ainda maior.

Na Operação Luz na Infância 2, entre os presos em Mato Grosso do Sul estão policial, empresário, engenheiro, arquiteto, técnico em eletrônica e um músico. O Jornal Midiamax tem acompanhado a Operação Luz na Infância, ação nacional que desencadeou também no Estado.

Através das redes sociais, os moradores manifestaram repúdio contra os suspeitos que, por ocuparem posições de destaque na sociedade, ‘não poderia imaginar que cometessem tais atrocidades contra inocentes’. Uma leitora chega a citar o professor de escola pública da Capital que é suspeito de abusar sexualmente de pelo menos sete alunos.

Mas por que crimes envolvendo crianças acabam tendo apelo social muito maior do que qualquer outro crime? A reportagem conversou com dois especialistas da área da psicologia e psiquiatria que explicaram os motivos.

Para o psicólogo Ângelo Motti, professor da UFMS e especialista em Psicologia Social, todas as vezes em que alguém fere crianças ou idosos, a reação natural da sociedade é reagir de uma forma mais sensibilizada. “A sociedade tem um estabelecimento de que são pessoas vulneráveis, por condições, são incapazes de responder pela sua capacidade. Então toda vez que alguém agride, há uma comoção porque são pessoas frágeis, tem umas condições de inferioridade em relação ao adulto”, disse.

Ainda segundo o psicólogo, a criança seria como uma representação mística para as pessoas. “ A criança tem um aspecto no coletivo de que é divino, onde tudo começa, a inocência, esse simbolismo de que seria um ser divino, por isso, quando se toca, quando se fere esse ser divino, mostrasse as imperfeições da raça humana”, comenta Ângelo. “A pedofilia não escolhe classe, ela pode estar em qualquer pessoa”, declarou o psicólogo.

O psiquiatra forense Marcos Estevão Moura comenta que os crimes praticados contra as crianças sempre serão de maior sensibilidade, pois os pequenos demostram fragilidade e são indefesos.

“É um ser [criança] frágil de informação, é uma pessoa que está iniciando a vida e acaba que o trauma afeta a sua história de vida. É diferente até do para o idoso e para o deficiente físico, que também são pessoas que causam essa sensibilização na sociedade”, comenta o psiquiatra.

Quando os crimes envolvem pessoas de classe social elevada, é inevitável que esse apelo acaba sendo maior. “Também tem o lado do autor, aquela pessoa que ninguém esperava que cometesse isso, que é aquele que as pessoas comentam ‘não é possível, era uma pessoa boa, ajudava os outros’, isso é muito complicado”, finalizou.