Prefeitura lançou campanha de conscientização

 Se depender de moradores da Capital, a iniciativa da Prefeitura de tentar convencê-los a não dar esmola a moradores de rua deve sofrer resistência, não de forma intencional, mas por se tratar de uma questão de sensibilidade. Comovidas pela situação de vulnerabilidade de quem pede, torna difícil recusar dar ajuda.

A vendedora autônoma Sônia da Silva, 54 anos, exemplifica bem esse dilema. Ao falar com o Jornal Midiamax, nesta quarta-feira (18), após o lançamento da campanha, ela contou a história de uma vez que não conseguiu deixar de auxiliar um homem que vivia na rua e alegava não ter comido nenhuma refeição por dois dias.

“Aí eu fiquei com dó e dei dinheiro”, justifica Sônia. “No momento você não pensa, o coração não deixa”.

Por outro lado, ela reconhece que a ajuda pode ser prejudicial, pois incentiva a manter o pedinte a viver em vias públicas, ou até mesmo usar o dinheiro para comprar drogas ou bebidas alcoólicas. “Sei que alguns não merecem, mas tem vez que não tem o que fazer. Não dá para falar ‘a Prefeitura não quer eu dê’”, embora prometa resistir das próximas vezes.

"Eu fico com dó e dou dinheiro", diz Sônia da Silva.

Já o fotógrafo Valdenir dos Santos, 53 anos, pensa exatamente como a administração do município. “Nunca dei esmola, não é função minha. O governo que deveria retirar esse povo da rua”, dispara. Ele defende que outros façam igual, pois já viu, na praça onde trabalha, pessoas pedindo dinheiro sem precisar.

“Aqui tinha duas mulheres bonitas que viviam pedindo dinheiro e dava para ver que tinham uma boa vida. Até que um dia veio o governo e levou elas embora, nunca mais apareceram.

Só que o pensamento de Valdenir foi exceção entre os ouvidos pela reportagem. “Acho que não custa ajudar o próximo, mas vai da consciência de cada um”, diz a estudante Beatriz Ortega, 18 anos. “Não dou mais [dinheiro], mas comida eu vou dar, não dá para negar comida”, complementa Amanda Xavier.

Algo que fica evidente na conversa com pedestres na região central da cidade, é a falta de conhecimento sobre as ações da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), que recolhe moradores de rua e presta assistência para que superem o momento de vulnerabilidade.

O ajudante de serviços gerais José Luiz Pereira, 19 anos, diz que não recusa ajuda exatamente porque nunca viu ações da Assistência da Prefeitura para moradores de rua, além do sentimento de “pena” pelos que pedem ajuda.

“Isso é um problema [dar esmola], só que tem situações que não tem como não dar, tem pessoas que pedem acompanhadas de criança”, diz José Luiz. “Mas, com certeza, se souber que a Prefeitura garante que vai tirar essas pessoas da rua, minha ajuda pararia”.