A falta de médicos nos postos de saúde ( tanto nas Unidades Básicas de Saúde e quanto nas Unidades Básicas de Saúde da Família) é apontada pela principal causa para a superlotação e demora nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) em Campo Grande. Sem estrutura adequada e com poucos profissionais para o atendimento, os pacientes ignoram os postos de saúde e recorrem diretamente às UPAs para atendimentos de baixa complexidade e que não sejam urgentes.
A coordenadora do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Maria Auxiliadora Vilalba Fortunato, afirma que a saída para desafogar a saúde pública é valorizar a atenção básica. “Para desafogar a situação, tem que fortalecer a atenção básica, fazer um trabalho de investir no profissional e na estrutura, para que a população possa olhar com outros olhos. Hoje em dia, o usuário vê como algo que não funciona, o paciente não consegue consulta, não tem equipe para atender”, explica.
O investimento da estrutura física, nos equipamentos e na equipe das unidades básicas de saúde são a saída para dar fim à superlotação das unidades de pronto atendimento, segundo a coordenadora. “A UPA é adequada para casos de emergência, mas as pessoas vão lá por que sabem que serão atendidas. Já nas UBS e UBSF dos bairros, o paciente não consegue atendimento, não tem agenda, tem muitas coisas que precisam melhorar para que o paciente volte a frequentar a unidade básica”, diz.

O motorista de ônibus Jurandir Arce, de 49 anos, precisou de uma consulta de rotina porque fará uma cirurgia nos próximos dias. Como não tinha sintomas graves, procurou uma unidade perto de casa, a UBS Jockey Club, mas havia poucos médicos para a demanda de pacientes. “Que eu saiba só tem dois médicos lá, aí eles distribuem a senha 3 horas da madrugada e acaba muito rápido, é difícil agendar”, explica Jurandir. Já segundo o site da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), há sete médicos na UBS.
Campo Grande possui 10 UBSs e 30 UBSFs, segundo informações no site da Sesau. De acordo com o CMS, a Capital tem 900 médicos na rede pública de saúde e os profissionais se sentem desvalorizados nas unidades básicas. “Falta médico, principalmente na UBS. Eles não são valorizados, o local é precário, os médicos não querem ficar lá. Todo o problema deságua na atenção básica de saúde”, afirma a coordenadora.
Pacientes na UPA à espera de vagas nos hospitais
Mais um motivo para a superlotação nas UPAs é o caso de pacientes que aguardam por leitos em hospitais de Campo Grande. O Conselho montou um grupo de trabalho, que fará visitas aos hospitais para verificar o motivo da falta de leitos.
Maria Auxiliadora afirma que após as visitas, será feito um relatório para ser apresentado em audiência pública na Câmara Municipal. “Vai ter audiência, temos pacientes que aguardam até 15 dias na UPA esperando por uma vaga. Isso não pode continuar desse jeito, temos pessoas falecendo”, afirma Maria Auxiliadora.
Morte sem atendimento na UPA
A demora no atendimento médico voltou a chamar a atenção nesta semana devido à morte de um idoso na UPA Leblon. Miguel Lisboa, de 74 anos, morreu na madrugada do domingo (3) enquanto aguardava atendimento. A família da vítima acusa ter havido negligência e relata que, apesar dos sintomas de infarto, o idoso só recebeu atendimento médico quando desmaiou.
Nesta quarta-feira (6), o prefeito Marquinhos Trad (PSD) se manifestou a respeito da morte do idoso. O prefeito lamenta o caso, afirma que foi uma fatalidade e afirma que não houve negligência. “Naquele dia tinha 5 clínicos gerais e 4 pediatras, todos eles assinaram chegaram no dia certinho, não é verdade que não tinha médicos lá dentro. No histórico, os próprios parentes falaram que ele estava sentindo fortes dores abdominais há mais de 30 dias”, diz.
O Secretário Municipal de Saúde, Marcelo Vilela, afirma que o idoso sofreu de um infarto fulminante e as possibilidades de reverter eram muito raras. No vídeo, a pessoa que faz a massagem cardíaca era a própria médica. “A médica não divulgou que era médica com medo da população a agredir porque aquela pessoa que filmou não é um familiar”, explica o secretário.