“Estamos passando fome”: o drama dos funcionários da Vyga, sem salário, ticket e 13º

Salários, vale alimentação, vale transporte e décimo terceiro atrasados proporcionaram uma ceia natalina parca para funcionários da empresa Vyga, terceirizada de limpeza e manutenção que presta serviço a órgãos do governo do Estado por um contrato anual de quase R$ 20 milhões. Com o salário referente ao mês de novembro atrasado, assim como as parcelas […]

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(Foto: Minamar Junior | Midiamax)
(Foto: Minamar Junior | Midiamax)

Salários, vale alimentação, vale transporte e décimo terceiro atrasados proporcionaram uma ceia natalina parca para funcionários da empresa Vyga, terceirizada de limpeza e manutenção que presta serviço a órgãos do governo do Estado por um contrato anual de quase R$ 20 milhões.

Com o salário referente ao mês de novembro atrasado, assim como as parcelas do 13º e auxílios como vale transporte e alimentação, a empresa tem sido pressionada por uma promessa de pagamento pelo menos de uma parte do que deve. A última delas seria de que o pagamento cairia há uma semana, antes do Natal, mas as contas continuaram vazias.

Na ocasião, o Steac-MS (Sindicato do Trabalhadores nas Empresas de Asseio e Conservação de Mato Grosso do Sul) afirmou que acionaria a Justiça do Trabalho para obrigar a empresa a pagar. Segundo a entidade, a Vyga afirma que o atraso é decorrente da falta de repasse por parte do governo do Estado. A empresa não atende as ligações do Jornal Midiamax e o governo do Estado não respondeu a nenhum dos pedidos de informação enviados nos últimos dias.

Neste momento, portanto, a situação dos trabalhadores tornou-se ainda mais grave: a lembrança da ceia natalina com arroz e feijão – apenas – sinaliza que já há dias a comida falta sobre a mesa e que os funcionários da terceirizada precisam contar com a solidariedade de amigos e familiares.

“São dois meses de aluguel atrasado, sem ticket-alimentação, sem salário. Já precisei pagar meu transporte para trabalhar. Se não fossem meus irmãos me ajudando eu não sei o que faria. Tenho três filhos que não têm mais o que comer. Estamos passando fome. Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo algum dia”, afirma à reportagem uma funcionária de 34 anos que, assim como os demais entrevistados, terá a identidade preservada.

Terceirizada numa das secretarias do governo do Estado, outra funcionária encontrou alívio ao receber doações em dinheiro e uma cesta básica de servidores concursados.

“Olha, se não fosse isso a gente ia estar passando fome, porque eu não tenho a quem recorrer, minha família é muito pobre. Tenho duas crianças e a gente passou o Natal na vizinha porque ela ficou com pena. Moro de aluguel e a dona da casa já falou que se mês que vem não pagar o atrasado, ela põe pra fora. Tem dia que eu vou dormir e começo a chorar, porque é uma situação muito triste”, afirma outra funcionária.

Atraso que virou rotina

De acordo com os relatos, os atrasos da Vyga voltaram a se agravar em agosto. Receber o pagamento só no fim do mês tornou-se hábito e funcionários até se “acostumaram” com o descaso.

“Mas, dessa vez foi demais. A gente não entende como que fazem isso com as pessoas, é muito desrespeito. Eu preciso comprar remédio e não posso, meu filho tem asma. Quando começou a atrasar demais eu tive que voltar a morar com minha mãe, que é aposentada com um salário mínimo. Minha esposa vende cosméticos e por isso a gente não fica sem ter o que comer”, traz outro relato.

“Tá difícil, porque a empresa não tá pagando. Eu tô passando por necessidade. pago aluguel, vem minhas contas, ta tudo comendo juros. Não recebi nem minhas férias, trabalho em três setores diferentes. Estou comendo porque minha família ta me ajudando e o pessoal do serviço ajudou com cesta. Você acha justo eu trabalhar em três setores diferentes e não ter dinheiro para pagar minhas contas e passar necessidade em casa? Eu não sei mais o que fazer”, afirma outra funcionária. “Eu sou solteira, não tenho marido, dependo desse emprego. Não está fácil. Colocamos nas mãos de Deus. Estou com vergonha, porque não tenho como pagar o aluguel e daqui a pouco o dono vai pedir a casa. Eu vou morar aonde? Na rua?”, completa.

Pressão

Desde o início de dezembro o Jornal Midiamax acompanha o drama dos funcionários terceirizados, situação que, segundo relatos, agravou-se em agosto deste ano. Em janeiro de 2019, eles completarão dois meses sem receber os salários regulares, além do 13º e demais benefícios. A justificativa dada aos funcionários é de que o governo do Estado não executou os repasses.

Em 2018, a empresa Vyga – Prestadora De Servicos De Conservacao E Asseio Ltda teve o valor de R$ 19.948.821,90 empenhados para a execução de limpeza, conservação e outros serviços aos órgãos do governo do Estado. Desse valor, R$ 19.016.912,95 já foram liquidados. Efetivamente depositados à empresa, estão R$ 18.052.516,23, conforme o Portal da Transparência.

Na manhã desta sexta-feira (28), um grupo de 9 funcionárias terceirizadas de Campo Grande compareceu à firma e teria recebido a informação de que a Vyga está empenhada em compensar o pagamento apenas do 13º salário por volta das 11h. Sindicato e a empresa não atenderam as ligações da reportagem até a publicação.

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