De 736 candidatos, um campo-grandense levou o prêmio, entre os 25 vencedores, do Green Talents – “Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável”. Jamil Alexandre Ayach Anache, de 29 anos, se tornou o 17° brasileiro a levar o prêmio desde a sua criação, em 2009.

O resultado da premiação foi divulgado pela Revista Galileu, onde detalha que o prêmio foi promovido pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha, seleciona alguns dos jovens pesquisadores mais promissores do mundo nas áreas de ciência e sustentabilidade.

A pesquisa do campo-grandense para o doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP que chamou a atenção dos jurados. Em seu trabalho, Jamil participa de um grupo que visa monitorar a função hidrológica do Cerrado, e a consequência de substituir a vegetação do bioma nativo por pasto para boi ou cana-de-açúcar.

“O cerrado hoje em dia faz parte da fronteira de expansão agrícola no Brasil. É um bioma que está ameaçado em sua forma natural. Mais de 50% da área do Cerrado hoje é ocupado pela atividade agrícola”, afirmou Anache à revista.

“O pasto é muito comum no cerrado. O solo do bioma tem aptidão à pastagem, e com o etanol e o advento dos biocombustíveis, principalmente em São Paulo, essas áreas de pasto foram convertidas em cana-de-açúcar”, continuou. “Então a gente compara os usos para entender como que essa substituição pode impactar na ciclagem da água.”

Jamil explica que a pesquisa ainda está no início e que é difícil encontrar grandes áreas de Cerrado para fazer as avaliações necessárias. No entanto, os pesquisadores encontraram em Itapina, SP, onde instalaram uma torre de fluxo, trabalho que demorou 2,5 anos para ser concluído e entrar em funcionamento.

A torre, que é uma das 25 instaladas pelo Brasil, tem a função de monitorar o fluxo de água, tanto pelas chuvas como pela evapotranspiração das plantas, a produção de CO2, e a taxa de recarga dos aquíferos. Os primeiros resultados, no entanto, já começam a aparecer.

Segundo Anache, um dos papéis do Cerrado é reduzir o escoamento superficial da água. Sua densidade e raízes profundas garantem que a infiltração da chuva seja mais lenta, ficando parcialmente retida em áreas do solo mais superficiais, o que possibilita o aproveitamento das plantas, que devolvem a água para a atmosfera por meio da evapotranspiração.

Nada disso, porém, acontece em uma região de pasto ou cana-de-açúcar. Com raízes menores e menor densidade da vegetação, a água escoa rapidamente em direção aos aquíferos. Dessa forma, há um aproveitamento menor da água pelas plantas e, consequentemente, uma interrupção no ciclo hidrológico por haver menor evapotranspiração. “Se tira o cerrado, com certeza tem alterações significativas no ciclo hidrológico”, conta Jamil.

O próximo passo das pesquisas é poder usar as informações do monitoramento para a criação de modelos matemáticos que para fazer previsões futuras considerando a variabilidade do clima. “Estão acontecendo constante mudanças, com chuvas se intensificando, períodos prolongados de seca, então com essa constante observação do Cerrado, vamos calibrar em modelos matemáticos para cenários futuros de clima.”

A partir desta segunda-feira, 15 de outubro, Jamil Anache estará por duas semanas reunido em Berlim com outros jovens cientistas de 24 países, além da elite de pesquisadores das áreas de ciência e sustentabilidade.

“É importante essa experiência internacional. Todo esse tipo de iniciativa que promove o intercâmbio de ciência é importante”, afirma Jamil. “Outra coisa são os contatos. Conhecer pessoas da área, de outros países e outras realidade. Vai ajudar meu meu desempenho profissional”.