Suicídios de índios em MS repercutem com crítica ao governo no Canadá
País da América do Norte vive crise semelhante
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País da América do Norte vive crise semelhante
O crescente número de suicídios entre índios residentes em Mato Grosso do Sul repercutiu de forma negativa e com crítica no Canadá. Nesse país da América do Norte, um fenômeno semelhante tem ocorrido, mas a imprensa de lá destaca que seu governo, ao contrário do brasileiro, trata a situação como uma crise que precisa ser contida.
Em março, o conceituado jornal canadense The Globe And Mail enviou ao Estado sua correspondente na América Latina, Stephanie Nolen. Acompanhada do fotógrafo Aaron Vincent Elkaim, a jornalista visitou áreas indígenas onde vivem os guarani-kaiowá, cuja taxa de suicídios chegou a 117.97 a cada 100 mil habitantes em janeiro de 2016.
Esse índice é apresentado na reportagem “Os esquecidos: por dentro da crise de suicídios indígenas no Brasil”, que o apresentou para ilustrar essa crescente preocupante. A atenção do jornal canadense voltou-se para Mato Grosso do Sul porque entre os Nunavut Inuit, povos tradicionais que lá vivem, a taxa de suicídios chegou a 108.70 a cada 100 mil habitantes no mesmo período de referência.
Ao passar por aldeias e acampamentos indígenas da região sul do Estado, em Dourados e Amambai, a correspondente do The Globe And Mail colheu depoimentos de guarani-kaiowá que perderam familiares dessa forma trágica. Especialistas que atuam na área também foram ouvidos e a conclusão da jornalista foi crítica.
“A situação no Brasil tem muitos paralelos com o fenômeno do Canadá, porém com uma diferença notável: no Canadá, os suicídios indígenas são chamados de ‘crise’. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, afirmou que adotará medidas urgentes contra o suicídio indígena. Seus ministros prometeram uma intervenção em âmbito federal (embora líderes indígenas reclamem que tanto um plano de ação quanto os recursos para implementação ainda são inexistentes).
No Brasil, no entanto, não se fala de crise. Em 2015, o governo federal anunciou um plano de prevenção para o que considera as aldeias mais afetadas (prometendo reduzir o suicídio em 10 per cent), mas não informou o orçamento previsto ou em que locais esse plano está sendo implementado. A resposta tardia e imprecisa reflete, em parte, o fato de que o país, já atolado em uma turbulência econômica e política, tem cortado recursos e desviado o foco da maioria dos problemas sociais. Mas, mesmo nos melhores momentos do Brasil, os 900 mil indígenas que vivem no país sempre foram profundamente negligenciados, os cidadãos mais pobres, menos lembrados, mais marginalizados (sic)”, reportou.
Ao ponderar que “de maneira geral, a taxa de suicídios indígenas no Brasil é maior do que a nacional em todo o país, mas em alguns locais específicos ela é ainda maior”, a correspondente do jornal canadense destaca a situação crítica de Mato Grosso do Sul, mais antiga do que possa parecer.
“O fenômeno chamou a atenção no Brasil pela primeira vez com uma série de suicídios entre o seu povo, os Guarani-Kaiowa, em 1986, quando autoridades brasileiras de saúde indígena notaram um aumento incomum – de cerca de 5 casos por ano para 40. As estatísticas coletadas desde 1996 mostram uma média de 46 suicídios por ano – uma taxa 21 vezes maior que a nacional. Muitas pessoas que desenvolvem trabalho de campo nessa área afirmam que a estatística, provavelmente, é seguramente subestimada, uma vez que as mortes de indígenas quase nunca são submetidas à análise de um legista, ou muitas vezes, simplesmente, não são registradas”, descreveu.
Ao tentar entender esse fenômeno ocorrido em terras sul-mato-grossenses, a jornalista canadense encontra as mesmas respostas que o editor de meio ambiente do jornal inglês The Guardian, John Vida, obteve ao visitar o acampamento Apy Ka’y, em Dourados, em maio de 2016.
“No lado brasileiro da fronteira, os Guarani-Kaiowa contam com nove aldeias no sul do Mato Grosso do Sul, estado no coração do lucrativo agronegócio brasileiro. O território, cuja principal vocação é a produção de grãos, é um vasto mar de campos verdes de soja, cana-de-açúcar e milho que pertencem a algumas poucas empresas gigantes, muitas delas multinacionais. Enquanto o resto do Brasil cambaleia sob o peso de uma economia estagnada, ainda se faz muito dinheiro aqui: a fome do mercado asiático pela soja brasileira e pela carne bovina alimentada com soja não diminuiu. Vez ou outra, ao dirigir pelas estradas, as terras de uma fazenda são interrompidas por alguma cidade, construída ao redor de uma praça, com algumas lojinhas de roupas e presentes, uma ou duas padarias e filas de caminhões pesados esperando, no semáforo, para continuar a viagem.
Você pode dirigir durante 15, 20 minutos em linha reta e passar apenas por pastagens de gado Bhraman. Depois de um tempo, você percebe que muito mais terra aqui foi dada às vacas do que aos humanos indígenas”, relata Stephanie Nolen.
A perda de territórios tradicionais, por fim, é considerada pela correspondente do jornal do Canadá como um dos motivos, talvez o principal, para a elevada taxa de suicídios entre os guarani-kaiowá de Mato Grosso do Sul.
“Quando perguntei às pessoas por que elas achavam que os jovens Guarani-Kaiowa estavam se matando, elas me contaram histórias sobre a perda de suas terras e rituais que não são mais realizados, sobre o fascínio que a cidade representa, com seus sapatos caros e celulares nas vitrines. Sobre doenças crônicas e o desemprego quase universal. Sobre abuso de álcool e de drogas, e uma geração de filhos cujos pais sentem que não podem mais controlar. (E uma geração de filhos que acham que seus pais não devem mais tentar controlá-los.) Ouvi sobre as características do Kaiowa, que alguns descreveram como um povo fechado, reservado, que não costuma compartilhar suas emoções e que, quando coloca uma ideia na cabeça, vai até às últimas consequências.
E também ouvi sobre mokoi e gwyra, os pássaros de proteção que podem ser espantados para longe. Essa explicação, no final, fazia todo o sentido assim como qualquer uma das outras que ouvi”.
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