Visita é definida na recepção e pode não ocorrer em dias de chuva

Muita gente não sabe, mas boa parte da lotação nas unidades de saúde de  poderia ser evitada com o uso adequado da chamada ‘saúde da família’. Atualmente o programa do SUS (Sistema Único de Saúde) tem 42 UBSFs (Unidades Básicas da Família), 101 equipes e 80 médicos atuando na capital sul-mato-grossense. Mas, na prática, toda esta estrutura não tem desafogado o sistema.

Os problemas vão desde a falta de conhecimento por parte da população, que não sabe ao certo quando procurar uma UBSF, um CRS (Centro Regional de Saúde) ou uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), até a falta de estrutura. Atualmente há apenas 4 automóveis para atender as 42 unidades, e o controle da frequência dos médicos também é precário. Quando chove, visitas são canceladas porque os médicos usam carros próprios e muitos locais são de difícil acesso.

Apesar da organização teórica traçada, na prática ainda há dificuldades em desfrutar do serviço, que pode ser cancelado até em virtude de mudanças climáticas. Durante visitas em quatro unidades pertencentes a cada um dos distritos sanitários da cidade, a reportagem mapeou pontos fortes e fracos que a atenção domiciliar enfrenta.

O programa médico da família existe, mas esbarra em diferentes obstáculos que seguem as particularidades que vão desde o profissional responsável, às condições de trabalho e a boa vontade do atendimento ainda na recepção.

Distrito Sanitário Norte

A equipe de reportagem do Jornal Midiamax foi à UBSF Jardim Noroeste – Dr. Cláudio Luiz Fontanillas Fragelli -, no local uma enfermeira bem educada explica que àqueles que dependem de atendimento do médico da família em casa, precisam apresentar apenas o cartão do SUS e o endereço da residencia, na unidade mais próxima de onde mora. Depois disso, o médico responsável pela região fará a visita obedecendo o cronograma de visitações. Um decreto estadual especifica que cada profissional deve fazer o mínimo de 20 atendimentos domiciliares por mês.

Ao ser questionada sobre a possibilidade de não haver consulta domiciliar na data agendada, a enfermeira apresenta um dos problemas a serem enfrentados pelo paciente que por alguma razão não pode se locomover até a unidade: “eles vão sempre que tem visita agendada, ao não ser que chova”, responde. 

Logo a enfermeira tenta amenizar a realidade e justifica que a maioria dos médicos da família utiliza condução própria para atendimento domiciliar. “Dependendo do local, os médicos não vão em dia de chuva porque pode estragar o veículo. É carro próprio, ninguém quer que estrague”, defende. Isso ocorre porque em cada distrito sanitário existe apenas um veículo disponível para o serviço. Observa-se, então, que são quatro automóveis disputados por 42 UBSFs. 

Distrito Sanitário OestePrograma que poderia desafogar saúde na Capital para até por causa da chuva

Do outro lado da cidade, na UBS Dra. Sumie Ikeda Rodrigues – que atende o Serradinho, Nova Campo Grande, Jardim Carioca e Vila Eliane, pacientes afirmam que naquela unidade é possível ter o sistema funcionando em uma região e ignorado em outra. 

Segundo relatos, no Jardim Carioca, as visitas são frequentemente esquecidas, porém, não há nenhuma fiscalização em relação ao médico responsável pelos atendimentos domiciliares e a população fica à mercê de aparecimentos cada vez mais esporádicos, com intervalos de até seis meses, o que não atende a necessidade do paciente. “O médico vem quando quer. Quem cuida se as visitas são feitas, ou não, é a gerência da unidade e sempre fica por isso mesmo”, lamenta um usuário da rede pública de saúde da região.

Por outro lado, também existem casos de exemplo. O frentista Eberly Oliveira Maciel, de 48 anos, cuida da mãe Veracy Oliveira Maciel, de 75 anos, que teve o lado esquerdo do corpo paralisado depois de sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Ele elogia o serviço e remete o bom atendimento ao relacionamento de amizade e confiança estabelecido com a agente comunitária de saúde da região.

Filho elogia atendimento médico domiciliar e remete bom serviço à agente comunitária de saúde

“Sempre que minha mãe está mal, nem preciso ir ao posto. A agente aqui é muito boa. É só falar com ela, que no mesmo dia marca com a médica e a visita está garantida. Quanto ao atendimento domiciliar, não tenho o que reclamar. Temos um anjo da guarda que nos ajuda. O único problema ainda é a falta de materiais e suplementos que sempre temos de comprar”, frisa. São cerca de R$ 370,00 gastos apenas com os materiais que deveriam ser facilmente disponibilizados na unidade.

Distrito Sanitário Sul

Na UBSF Aero Rancho IV – Dr. Nelson Tokuei Simabukuro – o fluxo de atendimento é grande. Para conseguir apenas a informação sobre o que era necessário para agendar consulta domiciliar foram cerca de 10 minutos de espera até que o  atendente passasse a informação. O procedimento é o mesmo: cartão do SUS e comprovante de residência, no entanto,  a consulta pode ocorrer mais de 15 dias após o agendamento. 

Distrito Sanitário Leste

Na UBSF Itamaracá – Edson Quintino Mendes – o problema não é particularidade do local. A dificuldade está no agendamento. Na recepção, ao perguntar sobre o que é necessário para a consulta domiciliar, além da resposta padrão sobre cartão do SUS e comprovante de residência, a recepcionista deixa escapar, ao esclarecer uma dúvida com uma colega de trabalho, que dependendo da região é possível que não haja atendimento, porém, a informação repassada à reportagem é diferente: “mesmo que não tenha médico para atender a região, nós damos um jeito. O paciente não fica sem consulta”, garante, porém, sem apresentar qualquer firmeza na resposta.

 

Sesau

A informação de que médicos utilizam veículo próprio nas visitas domiciliares é confirmada pela assessoria de comunicação da  (Secretaria Municipal de Saúde) que complementa ao dizer que o profissional não ganha a mais por isso, no entanto, cada médico da família recebe R$ 2.860,00 de repasse do Ministério da Saúde pela designação para atendimento numa UBSF, além de, R$ 1.021,00 por produtividade paga pela Sesau se o profissional atingir a média de 20 consultas diárias realizadas no mês, na unidade.