Médico descobre que ex-secretário atendia com seu nome e CRM falso

Falso médico é acusado de homicídio  

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Falso médico é acusado de homicídio

 

Imagine descobrir que tem alguém se passando por você e ter de ‘caçar’ esta pessoa para se livrar de problemas com as autoridades. Parece enredo de filme, mas foi exatamente o que viveu um médico em Campo Grande. Marcel Marques Peres, formado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), atua no Hospital Universitário e descobriu o esquema de um falso médico que usava o nome dele.

Marx Honorato Ortiz é acusado, pelo MPE (Ministério Público Estadual) de homicídio doloso de um paciente no Hospital Municipal de , 477 km de Campo Grande. Além do crime, a Promotoria de Justiça de Sete Quedas acusa Marx de exercício ilegal da medicina, falsa identidade e crime de desobediência. Marx utilizava o nome de Marcel como “Marcell”, com CRM falso.

Marcel foi quem “descobriu” o esquema do falso médico e ingressou na Justiça. Marx é ex-secretário de gabinete de Amambai e teria atuado como falso médico em outras cidades de MS. Agora, Marcel pede indenização por danos morais de R$ 93 mil.

O que consta no processo judicial é que o ex-secretário teria atuado como falso médico em Amambai, Dourados e Coronel Sapucaia. O esquema pode ter implicações junto ao poder público municipal das cidades citadas no processo, que são acusadas de negligência e participação, pela advogada.

“Enquanto que dentro da secretaria já se sabia, pois a Secretária havia comentado em reunião anterior que o “Dito” médico, teve problemas no hospital da vida em Dourados-MS, mas abafaram, tudo depois do evento acontecido em Paranhos”, afirma o processo. “Foi necessário buscar a cooperação do Delegado de Polícia de Paranhos Dr. Fabricio Dias dos Santos para pressionar os Gestores e conseguir os referidos documentos, conforme e-mail do dia 23.03.2016”, complementa.

Marx foi nomeado como Secretário de Gabinete para atuar na Secretaria Municipal de Saúde de Amambai em junho de 2014. Em 4 de março de 2015 ele foi exonerado. A morte do paciente João Maria Padilha da Silva ocorreu no Hospital de Paranhos no dia 14 de dezembro de 2014, período em que ainda atuava como Secretário de Gabinete. Ele teria atuado durante três meses no Hospital.

Acusação de homicídio

No dia 14 de dezembro, conforme o inquérito policial, os filhos de João, então com 56 anos, levaram o pai até o Hospital Municipal de Paranhos. Consta no boletim de ocorrência registrado pela filha, que ele teria sido atendido por volta das 13h30 pelo falso médico que “o medicou, em seguida o liberou, alegando problemas emocionais e mandando para casa”. Durante o dia João piorou e foi levado novamente ao hospital de ambulância. A família, no entanto, foi comunicada pelo falso médico que às 22h30 o pai havia falecido.

Os familiares teriam pedido à Marx que o pai fosse encaminhado a outro município, no que o falso médico contestou, negando que o paciente precisasse de transferência, e que “ele é que seria formado em medicina, para que não se preocupasse”, conforme consta no boletim.

O médico da UFMS descobriu o esquema ao ser alvo de sindicância do CRM. “A surpresa foi grande para o autor, pois o mesmo não tinha informação alguma sobre os fatos, pois se quer, sabe de quem se trata a pessoa de JOÃO MARIA PADILHA DA SILVA, referida vítima que veio a óbito, em conformidade com o prontuário médico acostado na Sindicância. Como também nunca atendeu a nenhum paciente no referido Hospital Municipal. O autor é originário da cidade de Cuiabá-MT, encontra-se em Campo Grande/MS, há aproximadamente três anos, onde é aluno e médico residente, no Hospital Universitário de Campo Grande/MS em ortopedia e traumatologia, sendo que o mesmo nunca esteve na cidade de Paranhos-MS, desconhecendo inclusive sua localização”, explica a advogada.

Além de processar o falso médico, Marcel, conforme os autos, registrou boletim de ocorrência imediatamente após a sindicância. Em uma das idas até a delegacia, a família da vítima compareceu ao local e comprovou que o autor do processo não era o médico que atendeu a vítima em dezembro de 2014.

“Ao tomar conhecimento dos presentes fatos, a primeira providência tomada pelo notificado, foi procurar a autoridade policial competente, relatar os fatos e registrar um boletim de Ocorrência n. 437/2015, (doc. Anexo), solicitando providências na esfera policial, pois tal fato com certeza poderá trazer problemas de grande monta para o autor”, complementa a advogada.

Uma das possibilidades é que Marx teria conseguido utilizar a identidade, de acordo com a suspeita da advogada, após Marcel ser furtado e seus documentos terem desaparecido. “O autor conforme Boletim de Ocorrência 11048/2014 fora vítima de furto, e furtaram do mesmo, entre outros objetos, um carimbo com CRM, porém não se pode afirmar, que se trata do mesmo carimbo furtado, pois o carimbo utilizado no Prontuário Médico, são diferenciados”, explica ela.

Agora, o MPE pediu a prisão preventiva de Marx, e afirma que ele está escondido na Bolívia. “Pois, segundo a investigação policial, o falso médico não compareceu a delegacia para prestar depoimento, além do que há informações de que estaria exercendo ilegalmente a medicina em outros hospitais, bem como estaria se escondendo na Bolívia (local onde supostamente teria estudado) desde que o fato veio à tona”, explica o MP.

Ainda não há uma decisão judicial sobre o caso, e a Promotoria também pediu que o acusado vá a júri popular.

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