Famílias permanecem em área invadida e prometem resistir à desocupação
Algumas casas já foram demolidas pela Prefeitura
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Algumas casas já foram demolidas pela Prefeitura
Ambientes apertados, mas que abrigam grandes sonhos. Assim são as casas construídas em uma área pública invadida no Jardim Montevideu, na região norte de Campo Grande. O espaço é ocupado por mais de 60 famílias que chegaram aos poucos há cerca de nove meses. Ao longo do tempo moradias de tábuas e alvenarias foram erguidas, ganhando forma de lares, no entanto, o local pertence à Prefeitura e uma ordem de reintegração de posse determina que eles saiam. Por outro lado, os moradores justificam não ter para onde ir e são unânimes em afirmar que vão resistir.
Na tarde dessa quarta-feira (18), equipes da Prefeitura estiveram no local para cumprirem a ordem de reintegração de posse. A ação de despejo da Emha (Agência Municipal de Habitação) foi tumultuada e contou com 20 guardas civis municipais. Duas casas chegaram a ser demolidas. Uma delas, foi a de Michele Bianca Sanches, de 23 anos, que afirma ter investido até o dinheiro do aluguel, que já está atrasado, para poder construir a casa onde pretendia morar com o filho, de três anos.
“Tenho um filho de três anos e comecei a construir minha casa aqui para morar com ele. Ontem quando cheguei do meu serviço e não tinha mais nada. Agora não sei o que fazer porque meu aluguel está atrasado, investi tudo aqui e nunca notificaram a agente. Se tivessem feito isso, não iríamos gastar até o que não temos para ficarmos aqui”.
Ainda ontem, durante a ação, foi estipulado o prazo de cinco dias para que as famílias desocupem a área. A determinação não é aceita entre os moradores.
“Eu não fui notificada. Não vou sair daqui, vão ter de passar por cima. Não quero que isso aconteça, não quero ver nada disso acontecendo”, diz Adriana Mislan, de 32 anos, que mora, em uma casa com menos de cinco metros quadrados, com o marido, de 28 anos, e com as filhas de 8 e 7 anos.
Marcia Luzia de Oliveira de 49 anos, está há cerca de nove meses no local e é uma das moradoras mais antigas. Segundo ela, no início da invasão as famílias foram informadas de que o local seria regularizado.
Francisco Gomes Carvalho Filho, de 60 anos, está no local há seis meses. Doente e desempregado, ele depende da ajuda dos vizinhos e tem esperança de que não tenha de deixar o barraco que ele mesmo construiu.
“Para mim isso é uma covardia. Porque não mexem com quem tem dinheiro? Só mexem com a gente que é pobre e não tem condições nem de ter uma casinha melhor. Eu não tenho pra onde ir. Fiquei viúvo depois de 30 anos de casado, não tenho filho e não tenho para onde ir. Ou me dão um bom lugar, ou vou ter de morar na rua”, declara.
Na manhã desta quinta-feira (19), o prefeito, Marquinhos Trad (PSD) defendeu que as casas derrubadas ontem eram usadas como ponto de tráfico. “Que fique bem claro que os que foram retirados, foram aqueles que em dois ou três dias ergueram casa. Nenhuma casa foi derrubada com as famílias dentro. A de ontem que foi derrubada, foi erguida em dois dias por uma pessoa que não tinha condições financeiras para fazê-la, ou seja, ela foi financiada. Os próprios moradores hoje agradeceram porque ali estavam fazendo ponto de tráfico de entorpecentes durante à noite”.
Em nota, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Campo Grande explica que o ato de invadir áreas públicas do município é ilegal e que se identificado, o invasor é impedido de participar dos programas habitacionais durante quatro anos, conforme a Lei Complementar nº 109 de 21 de dezembro de 2007.
Ainda segundo a Prefeitura, equipes da Emha e da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), fazem levantamento das áreas públicas invadidas na Capital. O objetivo é identificar e notificar os responsáveis para que as áreas sejam desocupadas.
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