Falta de creche faz mães deixarem de trabalhar para crianças não ficarem sozinhas
Dinheiro falta, mas medo do abuso infantil é maior
Arquivo –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
Dinheiro falta, mas medo do abuso infantil é maior
Campo Grande tem, hoje, um déficit de aproximadamente 9.335 crianças que aguardam vagas nos 99 Ceinfs (Centros de educação infantil) que funcionam em turno integral. Na periferia, ausência do Estado e pobreza combinam-se para deixar as mães ainda mais sobrecarregadas. Em lares onde o índice de abandono paterno chega a ser de quase 100%, cuidar dos filhos acaba sendo trabalho das ‘líderes do lar’. Sem ter onde deixar os filhos e temendo os riscos do abuso infantil, elas deixam de trabalhar para cuidar dos pequenos.
No ‘Bom Retiro’, na Vila Nasser, um dos locais para onde foram levadas as pessoas que vivam na favela Cidade de Deus, a falta de vagas em Ceinfs é observada em plena luz do dia. As crianças são vistas empinando uma pipa ou andando de bicicleta, enquanto as mães e pais estão longe.
Foi em uma rotina de brincadeiras como a das crianças do Bom Retiro que Kauan, de 9 anos, desapareceu e nunca mais foi visto. Hoje, estampa todos os jornais como possível vítima de abuso sexual infantil e assassinato, crimes ainda investigados.
Mães deixam de trabalhar
É temendo o abuso e ‘outras maldades’ de pessoas desconhecidas que as mães deixam de trabalhar para ficar de olho nas crianças. Muitas vezes, no entanto, tem de interferir na própria família para livrar as crianças de abusos diversos, a exemplo da negligência. As famílias ‘se viram no jeitinho’, contando uns com os outros e, outras vezes, sobra para os filhos mais velhos cuidarem dos menores.
É assim a rotina de Lia Mara dos Santos, 19. Nesta tarde, enquanto a mãe dela participava de uma reunião, ela cuidava dos sobrinhos no Bom Retiro. A avó conseguiu a guarda dos pequenos na Justiça após alegar negligência dos pais das crianças.
Foi assim que Margarida de Moura 62, outra moradora do Bom Retiro, criou os filhos em Aquidauana, a 143 km de Campo Grande. Enquanto ela trabalhava, os mais velhos olhavam os pequenos. Hoje, a avó e bisavó vê a nora deixar de trabalhar para não deixar a filha sozinha. O filho de Margarida, Ludson Moura de Freitas, 41, admite que a renda faz falta à família, mas declara que “não deixa a filha chegar sozinha até no portão”.
“Quando eu tinha meus filhos pequenos, eu não morava em Campo Grande, mas Graças à Deus, os irmãos, um cuidava do outro. Antigamente você podia deixar, hoje em dia não confio nem nas creches”, conta ela.
Miriam Salviano, 44, não trabalha no momento, mas faz um curso profissionalizante, visando melhoria da vida das 3 filhas. Sem ajuda, creches e auxílio nenhum, a filha mais velha, 21, cuida das menores. O temor do abuso é enorme, mas a falta de dinheiro, relata ela, também traz suas dificuldades.
“De manhã eles estão no colégio, e na parte da tarde a minha filha cuida deles. Não trabalho justamente por causa disso. Faz [falta do dinheiro] e muito. Me sinto mal porque é uma renda que ajudaria dentro da minha casa. Eu temo porque ela tem 10 anos”, relata apontando para uma das filhas.
“E ela tem 6, vai fazer amanhã. Eu morro de medo, levo no colégio, busco, faço curso, pego elas, trago e deixo elas com a minha filha”.
A sobrecarga fica para a mulher, é o que admite a mãe. “A mulher sempre fica sobrecarregada e muito”. Miriam relata que outras amigas que trabalham não conseguem ficar tranquilas.
“É um risco hoje que a gente corre de deixar os filhos em casa, porque você nunca sabe quem está do seu lado, e quem está próximo dos seus filhos. A Prefeitura e o governo estão falhando muito, é muito falho sim, porque se eles abrissem mais vagas nas creches ou um projeto para colocar as crianças, pelo menos a gente vai estar com a consciência mais tranquila de deixar eles seguros”.
A Prefeitura afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que em relação às escolas, apenas 2 das 94 funcionam em tempo integral. “Ao todo, 13 obras de Ceinfs que estavam paradas desde 2012 foram retomadas”, declarou.
Notícias mais lidas agora
- Polícia investiga ‘peça-chave’ e Name por calúnia contra delegado durante Omertà
- Ex-superintendente da Cultura teria sido morto após se negar a dar R$ 200 para adolescente
- Suspeito flagrado com Jeep de ex-superintendente nega envolvimento com assassinato
- Ex-superintendente de Cultura é assassinado a pauladas e facadas no São Francisco em Campo Grande
Últimas Notícias
Semana começa com 3556 vagas de emprego em Mato Grosso do Sul
São 956 vagas para a capital que abrangem diversas áreas e níveis de escolaridade
Com feira de adoção e desfile de pets, ação em shopping de Campo Grande reforça combate ao abandono animal
Evento foi realizado no shopping Bosque dos Ipês, na tarde deste sábado (14)
Grupo especializado em roubo de camionetes é ligado a facção e usava codificador de chaves
Investigações mostram que ordens de furtos vinham de presídio de Mato Grosso
Lula segue internado e fará exames de sangue, diz boletim médico
Alta está prevista para a próxima semana
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.