Dados obtidos com exclusividade

Uma empresa que deixa a porta do ônibus cair, e tem receita média de R$ 14,3 milhões por mês – somente com as tarifas em 2016 – o tem sentido o peso da falta investimentos: cada vez mais campo-grandenses arrumam jeitos de escapar do transporte público coletivo caro e de péssima qualidade. Mesmo com a queda no número de clientes, no entanto, o negócio é uma ‘mina de ouro’.

Dados oficiais da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) obtidos com exclusividade pela reportagem do Jornal Midiamax, depois de quase um ano de tentativas, revelam que os donos das empresas de ônibus em faturaram R$ 143 milhões somente entre janeiro e outubro do ano passado. E isso, porque o serviço  deixou de ganhar R$ 11,9 milhões com a perda de passageiros no período.

A quantidade de passageiros transportados por mês caiu de 47,6 milhões em 2014 para 44 milhões em 2016. Foi o maior rombo registrado dos últimos três anos, e um dos motivos apontados pelos clientes que preferem comprar motos de baixa cilindrada, carros usados, andar de bicicleta, mototáxi e até de Uber, é a falta de qualidade no serviço.

Na contramão do faturamento milionário – que poderia ampliar o número de carros, por exemplo-, o serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus esbanja superlotação, atrasos e falta de conforto, resultado do sucateamento da frota que não consegue atender a demanda, afinal,  são 575 veículos para mais de 260 mil pessoas. Para entender a situação, a cidade não compra novos ônibus desde 2012, e os novatos ainda são raridade nas ruas do município.

A redução da quantidade de passageiros parece não ter sido suficiente para que empresa melhorasse o serviço, e para recuperar a queda da receita, em dezembro do ano passado a tarifa foi reajusta de R$ 3,25 para R$ 3,55. Com isso, o ganho mensal passou a R$ 13 milhões, exatamente com os mesmos investimentos.

Ônibus precários afastam usuários

A receita da empresa por ano que era de R$ 154 milhões em 2014 passou para R$ 143 milhões no ano passado. A análise inclui as catracas rodadas por usuários pagantes, isso quer dizer, o cálculo não é feito pelo número de passageiros e sim de passagem pagas naquele mês.

A queda de passageiros acompanha os coletivos desde o ano retrasado, mas foi a partir de 2016 o desempenho do Consórcio Guaicurus apresentou sua pior desempenho, visto que em todos os meses houve perda de usuários.

O encolhimento mais visível aconteceu em outubro, e na comparação com o mesmo período de 2014, a perda é ainda mais impactante: Naquele período cinco milhões de pessoas utilizaram o transporte público, mas exatamente dois anos depois, a quantidade despencou para 4,1 milhões. A diminuição da receita neste período reflete em R$ 2,9 milhões a menos no caixa da empresa.

O décimo mês do ano passado foi o ponto alto do tombo da performance dos ônibus, coincidentemente na mesma época em que a Uber foi consolidada na Capital; a redução equiparada a setembro atingiu 12%. Na prática, a redução em apenas 30 dias representa 174 mil passageiros pagantes a menos, portanto, R$ 564 mil a menos para o Consórcio.

Calcula-se que por dia 1,4 milhão de pessoas utilizem o , e são nos horários de pico que o cliente do Consórcio Guaicurus passa o maior sufoco. Por vezes, o ônibus não conseguem sequer parar nos pontos para embarcar mais passageiros por causa da superlotação. E quem está do lado de dentro sofre com a ‘lata de sardinha’.

Na visão dos pesquisados, aqueles que utilizam diariamente os ônibus, os principais problemas do transporte público no Brasil é a falta de planejamento e gestão e a falta de recursos. “A passagem custa R$ 3,55 e não conseguem dar conta de arrumar isso daqui, é um caos”, disse uma passageira.

A cabeleireira Fátima Dias, 33 anos, destaca que, se tivesse outra opção, não pensaria duas vezes em dizer adeus às catracas. “O ônibus demora demais, sem contar que não sobra lugar nem pra gente sentar”, lamenta.