Há 3 anos, foi morto no dia seguinte à conciliação

O conselho de caciques da etnia Terena, da Terra Indígena Buriti, em , a 70 quilômetros de Campo Grande, se reuniu na manhã desta quinta-feira (20), para receber a documentação do MPF MS (Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul) sobre a conclusão da investigação que aponta que a bala que matou Oziel Gabriel, 35 anos, saiu de uma das armas da Polícia Federal.

A morte ocorreu durante a reintegração da Fazenda Buriti, em 30 de maio de 2013. As lideranças se organizam pois uma nova audiência de conciliação foi marcada para o próximo mês.

De acordo com o cacique Jânio Reginaldo, da Aldeia Água Azul, o temor dos indígenas é que a conciliação, que desta vez é sobre outra fazenda onde está localizada a terra indígena, não seja bem sucedida. “Não existe conciliação para nós, mas vamos estar presente na audiência. O que vamos esperar, se naquele dia [em 2013], viemos aqui e no dia seguinte aconteceu a reintegração de posse daquele jeito?”, questiona a liderança. 

Em 2013, os indígenas ocuparam a Fazenda Buriti em 15 de maio, foi realizada audiência de conciliação na 1ª Vara da Justiça Federal em Campo Grande, no dia 29 do mesmo mês e, no dia seguinte, uma operação da Polícia Federal cumpriu ordem de reintegração de posse. Durante a ação, indígenas e policiais ficaram feridos no confronto e Oziel Gabriel morreu atingido por um tiro. 

A Polícia Federal instaurou inquérito para saber quem era o responsável pelo disparo, mas concluiu a investigação sem achar um responsável. O MPF não aceitou a conclusão e seguiu com as investigações na última quarta-feira (19), foi divulgada a conclusão do procedimento que indicou que a munição saiu de uma arma de uso exclusivo da PF. O autor do disparo não foi determinado.

“Vamos nos reunir para tratar de forma conjunta. É uma situação muito diferente da que imaginávamos quando começamos a lutar pelas nossas terras. Imaginávamos tudo o que poderia acontecer, menos que a polícia pudesse matar o nosso guerreiro”, diz o cacique Jânio. Terenas se mobilizam para nova conciliação em região de conflito

Após a conclusão, o MPF pediu a julgamento por improbidade administrativa da delegada Polícia Federal Juliana Resende Silva de Lima, que deu parecer na sindicância interna da PF, que apurou as possíveis falhas na reintegração de posse. A delegada é esposa de um dos comandantes da operação, o delegado Eduardo Jaworski de Lima, um dos principais interessados no arquivamento. 

Ainda conforme o cacique, as lideranças terão ainda nesta quarta-feira reunião no Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) e uma viagem a Brasília está sendo programada para tratar da audiência de conciliação. 

Na Terra Indígena Buriti vivem aproximadamente 5 mil pessoas.