Ameaças e conflitos motivaram denúncias na Polícia Civil

Após a divulgação de casos de maus-tratos envolvendo funcionários de Ceinfs (Centros de Educação Infantil), clima de tensão foi instalado entre os pais das crianças e funcionários dos centros. No Ceinf Santa Edwirges, no bairro Aero Rancho, a situação é mais graver, já que na última semana novas denúncias surgiram. O problema, no entanto, é que funcionárias do local alegam que estão sendo ameaçadas e difamadas pelos pais, e já registraram dois boletins de ocorrência na 5ª Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Bairro Piratininga. Na quinta-feira (11) pela manhã, elas também ameaçam paralisar as atividades para denunciar as ameaças.

Uma das funcionárias do Ceinf Santa Edwirges passou mal durante a manhã de hoje (10). Ela afirma que foi ofendida por uma das mães de crianças que frequentam o local. O conflito teria feito com que a pressão da recreadora subisse, e manchas roxas surgiram no pescoço da funcionária, que foi atendida no posto 24h do bairro.

“A gente vem sofrendo essa pressão por causa de denúncias feitas por colegas, que de fato não ocorreram, e a gente vem trabalhando assim nessa pressão, nesse medo, a gente se sente coagida. Hoje uma mãe de um aluno chegou lá e sem cumprimentar, sem nada. A criança queria me dar um abraço, ela puxou, falou: ‘não, abraça a mãe’ e já foi falando: ‘é o seguinte, eu estou sabendo de tudo que está acontecendo, eu sei dos meus direitos, se eu ouvir falar que aconteceu alguma coisa com o meu filho eu nem do que sou capaz de fazer”, contou.

Ela afirma que respondeu à mãe. “Ele é da minha sala, cuidei dele o ano passado e esse ano, creio que o meu trabalho ela conhece. E falei: ‘mãe, eu tenho três filhos, como ia querer pra outro filho uma coisa que não quero pros meus’?”.

Outra funcionária do local afirma que as denúncias estão generalizando a situação e que  trabalhadores se sentem ameaçados.

“Quinta-feira passada que começou tudo isso. Duas funcionárias que trabalhavam lá divulgaram um caso que ocorreu em 2014. Só que esse caso foi julgado e encerrado. E conhecemos a pessoa acusada, sabemos que é incapaz de fazer aquilo. Estão generalizando, falando que todas as recreadoras cometem abusos”, afirmou.

Denúncias

Na semana passada, um grupo de pais e professoras apresentou denúncias sobre o Ceinf, na sede do sindicado das servidoras. Eles alegam que uma criança havia sido obrigada a comer seu próprio vômito, além de afirmarem que um professor investigado por estupro de vulnerável continuou lecionando no centro. Os casos eram referentes a 2014 e 2015, e foram relembrados após a divulgação de vídeo em que uma funcionária maltrata uma criança, feito por uma colega, que acabou sendo dispensada. Ontem, houve nova demissão.

A assessoria de imprensa da Prefeitura afirmou que “toda e qualquer denúncia de agressão em unidades escolares municipais é rigorosamente apurada e em se constatando a veracidade são tomadas as providências necessárias, inclusive com demissão e encaminhamento ao MPE”.

Perseguições

As funcionárias que denunciaram os supostos casos de maus-tratos também afirmam que foram punidas pela administração municipal como represália. O Senalba (Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Estado de Mato Grosso do Sul) informou que o departamento jurídico do sindicato estuda a questão.

“Vamos fazer uma denúncia de que ela [ex-funcionária do Ceinf Santa Edwirges] sofreu a relaliação por denunciar os maus-tratos. A Semed [Secretaria municipal de educação] chamou ela ontem e demitiu. É assim que acontece, por isso elas ficam com medo”, declarou a presidente do Senalba, Maria Joana Barreto.

A assessoria de imprensa Prefeitura afirma que as funcionárias demitidas estariam inseridas no plano de demissões das empresas terceirizadas Omep (Organização mundial para educação pré-escolar) e Seleta – sociedade caritativa e humanitária, determinado pela Justiça, após ação apresentada pelo MPE (Ministério Público Estadual) de irregularidades na contratação.

Tensão

A delegada responsável pelas ocorrências registradas, Franciele Candotti, afirma que o conflito entre os pais e as funcionárias se intensificou. “Essa história já vem acontecendo há algum tempo. Já tinham vindo aqui em um outro plantão meu, foi feito um boletim de ocorrência, salvo engano de difamação, e calúnia também, e injúria. Mas hoje criou uma proporção maior. Essa de hoje acho que envolve umas dez vítimas”, explicou. A ocorrência foi registrada como injúria, calúnia e ameaça.

“A denúncia é em desfavor de autoria ‘a apurar’ porque elas não souberam qualificar os autores dos delitos. Calúnia porque acusou da prática de um crime, a injúria porque chingaram elas de tudo quanto é palavrão e ameaçaram dar uma coça nelas”, pontuou a delegada.

Por meio da assessoria de imprensa, a Prefeitura afirmou que “em relação a questão do ceinf Santa Edwirges, a Secretaria Municipal de Educação está mediando a situação para resolver e evitar quaisquer conflitos”.