Professor cria ‘vaquinha’ para dar dignidade a índios em beira de estrada
Grupo de Guarani-Kaiowá voltou a viver às margens da BR-463
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Grupo de Guarani-Kaiowá voltou a viver às margens da BR-463
Uma “vaquinha” virtual foi criada para ajudar os guarani-kaiowá despejados na quarta-feira (6) da fazenda Serrana, em Dourados, a 228 quilômetros de Campo Grande. Ideia do professor universitário Tiago Botelho, arrecadou quase 80% do planejado em menos de 24 horas. A intenção, segundo o idealizador, é “transformar as margens da BR num local para se viver, construindo, assim, uma estrutura habitacional para se viver com um pouco dignidade”.
Liderados pela cacique Damiana, esses índios reivindicam parte da propriedade rural que, segundo eles, incide sobre território de seus antepassados, o Tekoha Apyka’i. Mas as seguidas tentativas de retomada, iniciadas em 1999 e que resultaram em ocupações da fazenda a partir de 2008, foram interrompidas essa semana quando a PF (Polícia Federal) cumpriu um mandado de reintegração de posse expedido pela 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados há 14 meses.
ACAMPAMENTO IMPROVISADO
Expulsos do local em que estavam acampados pelo menos desde 2013, os indígenas não quiseram se afastar do território que reivindicam; logo após o despejo, voltaram a erguer os improvisados barracos, desta vez na outra margem da BR-163, movimentada rodovia federal que já causou a morte de oito guarani-kaiowá por atropelamento, desde o início dos acampamentos.
É justamente para evitar mais mortes e dar melhores condições de vida que a vaquinha virtual foi feita, conforme sua descrição. “A comunidade ficará por algum tempo vivendo novamente na BR já que a (in)Justiça brasileira os despejaram da terra sagrada. Todo o dinheiro será investido na melhoria de vida da comunidade, sempre respeitando as determinações e necessidades da líder dona Damiana”, descreve o idealizador do projeto.
DIGNIDADE
Criada na sexta-feira (8), mesmo dia em que o grupo de indígenas bloqueou por três horas o KM 6 da BR-463, em protesto por mais rapidez nos processos demarcatórios, a vaquinha virtual tem objetivo de arrecadar R$ 10.000,00. Até agora, conseguiu R$ 7.910,00, fruto de doações feitas por 97 pessoas, dentre elas gente que mora fora do Brasil e simpatiza com a causa indígena.
“Todo o dinheiro arrecado será dado transparência às doadoras e aos doadores. O objetivo central é transformar as margens da BR num local para se viver, construindo, assim, uma estrutura habitacional para se viver com um pouco dignidade, uma vez que, a comunidade, ficará por algum tempo vivendo novamente na BR já que a (in)Justiça brasileira os despejaram da terra sagrada. Todo o dinheiro será investido na melhoria de vida da comunidade, sempre respeitando as determinações e necessidades da líder dona Damiana”, explica o professor universitário no post referente ao objetivo da vaquinha.
PROJETO HABITACIONAL
Na mesma publicação, Botelho informa que os guarani-kaiowá expulsos da fazenda Serrana “estão vivendo nas margens da BR-463 no KM 5 em barracos improvisados de lona, sem água e a mínima estrutura”. O professor foi testemunha da operação de reintegração de posse executada às 6h da gelada quarta-feira, dia em que os termômetros de Dourados computavam queda de 16 graus em menos de 24 horas.
“Estamos em contato com professores de engenharia e arquitetura para um projeto barato, sustentável e removível caso o sonho da terra sagrado seja demarcado e devolvido à Damiana”, anunciou numa rede social o professor da Faculdade de Direito da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). A Funai (Fundação Nacional do Índio) já confirmou que existe um estudo para identificar e demarcar a terra indígena na região.
CACIQUE DAMIANA
Líder do acampamento Apyka’i, a cacique Damiana assumiu essa condição após a morte do marido, Ilário Cario de Souza, morto atropelado em 2002 num acampamento nessa mesma região, crime até hoje não esclarecido. “Essa aqui não é de fazendeiro e nem de arrendatário. É nosso território. Morreram aqui nove pessoas”, lamentava a indígena no dia do despejo, citando nomes de familiares mortos desde o início da ocupação da fazenda, arrendada para a Usina São Fernando.
Em 2009, depois que os guarani-kaiowá passaram a ocupar a propriedade rural entre expulsões, o dono da fazenda, Cassio Guilherme Bonilha Tecchio, acionou o Judiciário. O processo, que tramita na 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados, menciona a área do acampamento indígena como Curral de Arame, que seria o nome de um córrego da região.
No decorrer dessa demanda judicial, houve uma sentença que estabelecia a compra de 30 hectares da fazenda pela União, com o objetivo de acomodar os índios. Mas outra decisão judicial extinguiu essa ordem e reafirmou um mandado de reintegração de posse que já estava em aberto há meses, cumprido nesta quarta pela PF.
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