Para militantes que fizeram vigília, morte de 50 nos EUA é dor que se sente todo dia

Cerimônia aconteceu no coreto da praça Ary Coelho

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Cerimônia aconteceu no coreto da praça Ary Coelho

Por volta das 16h desta segunda-feira (13), um grupo iniciou a montagem do que seria, dali a cerca de uma hora, uma pequena cerimônia para lembrar 50 mortos e 53 feridos durante um ataque em uma boate gay de Orlando nos Estados Unidos, na madruga do último domingo. Mas, o encontro serviu para mais que isso, foi um lembrete de que é necessário solidarizar-se e manter-se resistente diante dos obstáculos diário de ser LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros).

Para o grupo, a sensação de Déjà vu foi forte ao ler as primeiras notícias do massacre, devido a lembrança de milhares de travestis, transexuais, lésbicas e gays que perderam a vida por meio da violência. A estatística aponta uma travesti morta a cada dois dias, por exemplo. De forma geral, as 50 mortes de Orlando soam familiar para eles. Por isso, a necessidade de sair de casa, de manter-se ocupado. De não baixar a cabeça para o medo que vem dos crimes de ódio.

O local escolhido foi o Coreto da Praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande. Não demorou para que cerca de 30 pessoas, que souberam da pequena vigília na internet, comparecessem para dividir dores e angústias do nefasto episódio que poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo. Velas eram acesas no chão, enquanto cartazes recém-produzidos eram fixados num painel, compondo uma espécie de altar. Mais acima, a flâmula LGBT, reconhecida de longe pelas cores do arco-íris, escudava e revelava que os que ali estavam não suportavam mais serem alvos.

“Estamos aqui porque é uma forma simples de demonstrar o quanto esse fato nos afetou. É a nossa reação. Poderia ser qualquer um de nós, e é fácil entender porque acontece. Enquanto houver esse avanço do conservadorismo, nós continuaremos a ser vítimas, explica o professor Cristiano Santos, que convocou a vigília.

Resistência

Entretanto, no lugar de orações ou lamentações, o que se observou no encontro foi resistência, além de respeito e solidariedade. Para a advogada transexual Amanda Anderson, a realidade enfrentada por LGBTs deve servir de referencial para a realidade que o grupo pretende mudar. “Não podemos admitir que mais pessoas morram, que percam suas vidas em nome do conservadorismo, dos retrocessos, do fundamentalismo. Não podemos nos conformar com as esquinas, com subempregos, com a necessidade de ser um gay aceitável, uma lésbica passável ou uma transexual mocinha. Não podemos admitir a violência, as mortes que acontecem todos os dias”, diz.

Enquanto alguns falavam, mais pessoas chegavam e mais velas eram acesas. Um homem reivindicou mais segurança nas boates. Outro destacou a necessidade de se ter empatia com as lutas alheias. “As pessoas que defendem a violência contra LGBTs são as mesmas que discriminam índios, negros, adeptos das religiões de matrizes africanas, mulheres. A secretaria nacional da mulher é contra aborto inclusive em casos de estupro. Isso é muito retrocesso”, afirmou.

A subcoordenadora de Políticas Públicas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) de Campo Grande, Cris Stefanny, também esteve presente e chamou atenção do grupo para a necessidade de resistir diante das dificuldades impostas a LGBTs. “Precisamos nos fortalecer enquanto comunidade, atuar na luta por nossos direitos. Uma boate consegue ficar lotada, mas os espaços de formação política estão sempre vazios. Isso está errado. Precisamos acordar, e também nos solidarizar aos outros grupos que são vítimas das mesmas pessoas”, concluiu.

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