Estudantes indígenas ocupam Funai em Campo Grande contra nomeação de coronel
Índios do interior do Estado dirigem-se à capital
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Índios do interior do Estado dirigem-se à capital
Cerca de 18 acadêmicos indígenas, além de lideranças Terena de Campo Grande, ocuparam o prédio da Funai (Fundação nacional do índio) no final da tarde desta quinta-feira (10) em protesto à nomeação do general da reserva militar Renato Vidal Sant’anna para a CR (Coordenação Regional) da Funai (Fundação nacional do índio) em Campo Grande. Conforme explicaram, os estudantes, pesquisadores e professores indígenas participavam de um Encontro de Acadêmicos Indígenas ‘quando foram surpreendidos com a nomeação’.
Natural de Aldeinha, em Anastácio, distante cerca de 135 km de Campo Grande, Hekere Terena afirma que o coronel é de Corumbá, onde, de acordo com ela, possui propriedade rural. “Ele é do CMO [Comando Militar do Oeste], é fazendeiro, e se é fazendeiro é ruralista, e não vai representar nossos interesses”, contou. De acordo com ela, índios de todo o Estado, incluindo os Guarani e Kaiowá, da região sul do estado, estão vindo para Campo Grande “para fortalecer a ocupação”.
Os funcionários administrativos deixaram o prédio no final desta tarde, que será ocupado, de acordo com os índios, por tempo indeterminado. Hekere também explicou que, no local, índios de comunidades de 7 municípios estão representados na ocupação: Aquidauana, Anastácio, Miranda, Nioaque, Sidrolândia, Bodoquena e Porto Murtinho.
“Esse novo governo já quis colocar um general na presidência da Funai e recuaram por conta da mobilização indígena. E o que eles pensaram é fazer isso pelas bases. Nós somos a favor do retorno do Evair [Evair Borges, Terena, ex-coordenador da CR de Campo Grande], sempre representou os patrícios”.
Algumas lideranças, segundo a Terena, reuniram-se nesta tarde com diretores da Funai em Brasília. “Falaram que vão ter uma resposta entre sábado e domingo”, afirmou Hekere. “Como é uma instituição pública que representa os índios, nós só aceitamos se for um indígena”.
Pesquisadora de saúde indígena, a enfermeira Terena Indiné, natural da aldeia Água Boa, em Aquidauana – distante cerca de 136 km de Campo Grande – que participava do Encontro de Acadêmicos, explicou que os jovens participam cada vez mais das instâncias políticas dos indígenas. “Não aceitamos um militar na Funai. Os estudantes tem participado cada vez mais e tem crescido o número de acadêmicos indígenas no estado. Mato Grosso do Sul é pioneiro nisso”, declarou.
Nomeação
A nomeação foi publicada nesta quinta-feira (10) no Diário Oficial da União. O coronel substitui Evair Borges, Terena que atua há 16 anos na Funai. Natural da Aldeia Lalima, no município de Miranda, ele estava na Coordenação Regional desde abril de 2014. Evair firmou que foi ‘pego de surpresa’ com a publicação. “Eu estava em reunião na polícia federal, e quando eu cheguei, como é de costume, olhei o Diário Oficial, e encontrei a minha exoneração e a nomeação de outra pessoa.
O coronel Renato Vidal Sant’anna é da reserva militar. Ele teria atuado, entre outros locais, no comando do 23º Batalhão Logístico de Selva, sediado em Marabá, no estado do Pará. Uma publicação do site do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) de 2004, afirma que o coronel é proprietário de uma fazenda em Marabá, que, à época, teria sido ocupada famílias da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri).
A CR de Campo Grande atende as terras indígenas Água Limpa, Buriti, Buritizinho, Cachoeirinha, Guató, Kadiwéu, Lalima, Limão Verde, Nioaque, Nossa Senhora de Fátima, Ofayé-Xavante, Pilad Rebuá e Taunay/Ipegue.
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