Empresas enrolam serviço para esconder atrasos dos ônibus, denunciam servidores

Georreferenciamento está previsto no edital, mas não funciona

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Georreferenciamento está previsto no edital, mas não funciona

Lembra quantas vezes você perdeu o ônibus porque ele passou tarde demais ou antes do horário previsto? Pois o problema deveria ser evitado desde dezembro de 2014, quando um serviço que revelaria atrasos no transporte coletivo deveria funcionar. Segundo denúncia de servidores da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande), a ‘enrolação’ e a ‘vista grossa’ com o descumprimento do prazo servem para esconder a falta de qualidade no serviço.

A denúncia é grave porque parte justamente de dentro do órgão municipal que deveria assegurar a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos campo-grandenses. “O transporte coletivo é uma das maiores caixas-pretas em Campo Grande. Aqui dentro tem coisa que, se a gente perguntar muito, já olham torto. Ninguém quer se expor, porque isso aí mexe com interesses poderosíssimos dos dois lados”, justifica o servidor que aceitou conversar com a reportagem.

O temor do funcionário público coincide com a dificuldade que o Jornal Midiamax tem enfrentado para ter acesso a informações simples sobre como é feita a gestão e a regulação do transporte coletivo urbano em Campo Grande. Detalhes como a listagem dos veículos que atualmente fazem parte da frota do Consórcio Guaicurus parecem ser mantidos a sete chaves.

Inúmeras tentativas de contato com a Agereg, todas documentadas e feitas por diversos canais, como assessorias, emails e telefones, foram feitas desde setembro de 2015. Todas sem sucesso. A Agência é o órgão responsável por, na prática, defender os interesses dos cidadãos e garantir que as concessionárias de serviços públicos cumpram as obrigações contratuais.

No caso do transporte coletivo, um dos mais lucrativos serviços sob concessão em Campo Grande, os valores são milionários. Quando assumiram o serviço em 2012, com lucro previsto de mais de R$ 3,4 bilhões em duas décadas de concessão garantidas nos final da gestão de Nelson Trad Filho (PTB), as empresas ficaram responsáveis em investir R$ 350 milhões no mesmo período.

Entre os serviços a serem oferecidos estão o Sistema de Informações Georreferenciadas que, por aplicativo no celular ou em qualquer dispositivo com acesso a internet, deve mostrar em tempo real onde estão os ônibus que deveriam circular pela cidade.

Antes de sair cedo ou tarde demais de casa, o usuário poderia consultar o dispositivo para saber onde o ônibus está. Esta meta deveria ser cumprida em até 24 meses após assumirem o serviço, em 2012.

Além do programa, a empresa ficou comprometida em aplicar os recursos em tecnologia de embarque e desembarque, em uma central de monitoramento com câmeras de vídeo nos ônibus, com GPS e com estrutura para atender as pessoas com deficiências. Outro ponto a ser destacado em modernidade consiste na aplicação do nível Euro 5 de política ambiental, que permitiria a redução de 99% de emissão de gases poluentes.

Outro item que ainda não foi divulgado pelo Consórcio é a Pesquisa Matriz OD (Origem Destino), uma etapa fundamental para o processo de planejamento do transporte. Na Matriz, são apresentadas a estimativa da demanda do transporte, com quantidade média de viagens realizadas.

Metas

Entre as metas já vencidas estão também a conclusão de uma garagem definitiva para as empresas e a padronização das estações de pré-embarque modulares. Em 36 meses, ou seja, até o fim do ano, o Consórcio precisa concluir as certificações e mostrar o levantamento da aferição do coeficiente de integração física.

A falta de implementação dos itens básicos que previam o edital de licitação, assumidos como compromisso do consórcio no ato da assinatura do contrato, evidencia a falta de investimento da empresa no transporte coletivo, como apontou levantamento sobre o serviço realizado pela equipe de trabalho do vereador Eduardo Romero (Rede).

“Falta brigada de incêndio, limpeza, manutenção e segurança aos usuários por um serviço que é caro para a população. Falta transparência para que a população e o legislativo acompanhem como está a aplicação dos recursos que deveriam ser destinados pela empresa”, comentou. O relatório foi enviado em 2015 para fiscalização da Prefeitura, Ministério Público do Estado e Bombeiros.

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