4,3 mil terceirizados perderam emprego

Tristeza e desolação. Assim começou o dia para as recreadoras, terceirizadas da Sociedade Criativa e Humanitária e da (Organização Mundial pela Educação Pré-Escolar), nesta segunda-feira (19). Sem permissão até para entrar no local onde trabalharam por anos, elas buscaram diretoras para maiores informações, pegar objetos pessoais e até devolver as chaves dos postos de trabalho. 

Na frente do Ceinf (Centro de Educação Infantil) Coração de Maria, Ana Cristina Cabreira, Adriana Paula de Souza e Léia de Morais Brito, todas recreadoras, esperavam na porta para falar com a direção e entregar as chaves do local. Por conta da decisão judicial que manda encerrar os contratos das entidades com a Prefeitura, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) decidiu adiantar as férias escolares e encerrar o ano letivo na última sexta-feira (16). 

O cargo de recreadora tem vencimento de pouco mais de R$ 900 e nos últimos meses, atrasos frequentes de vale-transporte e salários. Questionadas se mesmo assim o serviço compensava, elas são unânimes em afirmar que o amor pelo trabalho com as crianças é o que motivava, mesmo com as dificuldades. 

“É uma coisa que a gente faz por paixão pelas crianças. A maioria [das recreadoras] faz pedagogia. Elas [as crianças] já se tornam como nossos filhos”, diz Ana Cristina Cabreira, 37 anos, que trabalhava há oito no Ceinf. As recreadoras dizem não ter recebido nenhum comunicado e que a situação ainda é confusa. “Não sabemos como vai ser e nem como o ano [letivo] vai começar em 2017 com todas essas demissões”, completa a recreadora. 

Adriana Paula de Souza, estava há 2 anos trabalhando no Ceinf e diz que a situação é constrangedora e humilhante. “Temos famílias e fomos tachadas, praticamente, como bandidas. Estou no 5° semestre de pedagogia e jamais pensei que aconteceria tudo isso. Passei por um processo seletivo. Nosso Natal está incerto e triste por enquanto”, lamenta. 

Léia de Morais Brito, trabalhava há um ano no Ceinf e disse que a situação era muito triste. “Entrei por meio de currículo e de um processo seletivo. Não fui indicada por ninguém estava aqui pelo meu próprio esforço. Isso que estão fazendo é uma falta de respeito. A Prefeitura estava ciente, teve prazo e não quis solucionar. Parece até vingança de um prefeito que não conseguiu se reeleger e quer deixar a bomba para o próximo”, reclamou. 

Irregularidades e fantasmas

A maior parte dos terceirizados da Omep e da Seleta prestam serviço em Ceinfs (Centros de Educação Infantil), Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e nas próprias entidades para gerir os contratos. O MPE MS (Ministério Público Estadual de Mato Grosso do Sul) apontou diversas irregularidade nas contratações dos terceirizados. 
 
O Ministério Público já havia apontado uma série de irregularidades nas contratações, e desde 2011, ainda na gestão de Nelsinho Trad (PTB), vinha propondo mudanças nas contratações por meio da celebração de TAC´s (Termos de Ajustamento de Conduta). 

Na última terça-feira (13), o MPE MS e o Gaeco deflagraram a Operação Urutau com objetivo de cumprir 14 mandados de busca e apreensão de documentos, três prisões temporárias e sete conduções coercitivas com os dirigentes, prestadores de serviços e funcionários da entidade. Até a Câmara Municipal foi alvo de buscas e apreensões. Na mira principal do Gaeco estão os funcionários fantasmas – já confirmados na investigação -, que batizaram o nome: Urutau é uma ave, conhecida como “ave fantasma”. 

Na quinta-feira (15), a Justiça determinou a extinção dos convênios da Prefeitura com as entidades. No dia seguinte, o prefeito Alcides Bernal  confirmou que cumpria a decisão à risca, ou seja os 4,3 mil terceirizados seriam demitidos. O problema, é que não se sabe que  pagaria os direitos trabalhistas, uma vez que a Omep e a Seleta dizem não ter dinheiro em caixa e pela decisão, a Prefeitura também não pode mais fazer repasse. Durante o fim de semana, Bernal, em vídeo no Facebook, disse que a Prefeitura vai recorrer ainda nesta segunda da decisão judicial. 

(Foto: Cleber Gellio)