Uma série de negligências teriam ocasionado a patologia

O MPE (Ministério Público do Estado) recebeu nesta quinta-feira (4), denúncia de violência obstétrica. O presidente da Avermes (Associação das Vítimas de Erros Médicos), Valdemar Moraes, está intermediando o processo. Nícolas José de Souza Silva, nascido em 17 de agosto de 2015, em Dois Irmãos do Buriti, distante 106 quilômetros de , vive hoje em estado vegetativo e a família quer saber se a patologia é decorrente de negligência médica.

A agente comunitária Claudete de Souza conta que teve gestação normal e que o parto ocorreu com quase 41 semanas. De acordo com a mãe, nenhum risco foi constatado durante os pré-natais, entretanto exames mais profundos não foram realizados. “A última ultrassom que eu fiz foi de 6 pra 7 meses e eu falava pro médico que queria um exame mais detalhado”, diz Claudete.

Outra questão levantada por Valdemar Moraes é que o parto foi feito por um clínico geral e pela equipe de enfermagem, pois não havia obstetra nem pediatra de plantão no Hospital Municipal Cristo Rei no dia do nascimento de Nícolas. “Por que não enviaram a mãe para Campo Grande ou para Aquidauana já que não tinham obstetra e pediatra”, questiona Valdemar.

Nícolas foi levado ao hospital em seu segundo dia de vida, pois os pais estranhavam o fato de ele não sugar, não chorar e permanecer sempre dormindo, mesmo durante os banhos. Entretanto os médicos liberaram a criança. Claudete retornou com o filho dois dias depois pois ele apresentava cor arroxeada. Na ocasião, os médicos perceberam não conseguiam ouvir o pulmão e encaminharam o bebê às pressas para a Santa Casa de Misericórdia de Campo Grande. Claudete conta que após uma bateria de exames foi constatada desidratação severa por conta de uma infecção neonatal grave.

A mãe explicou que durante o tratamento a criança apresentou alguma melhora, acordava e sugava a mamadeira, porém com 36 dias de vida, quando retornaram para Dois Irmãos do Buriti, Nícolas voltou a apresentar sonolência. “Como em casa ele fica sem sonda e não temos como alimentá-lo, tivemos que voltar para o hospital para ele não desidratar novamente”, conta Claudete. “A ressonância acusou epilepsia focal, que segundo os médicos é causada pela falta de oxigênio no cérebro”, relata a mãe.

O presidente da Avermes informou independente do parecer do Ministério Público, eles pretendem entrar com uma ação cível. “Nós ainda não definimos valores de indenização, cabe ao advogado da entidade fazer isso”, explica Valdemar.

Rotina e cuidados

O pai, José Aparecido da Silva que está desempregado desde três meses antes do nascimento do filho, é quem toma conta de Nícolas com a ajuda de um técnico de enfermagem. Devido à condição da criança 9 remédios são ministrados diariamente, sendo 3 anti-convulsionantes e alguns são manipulados. Segundo o casal, a dieta da criança deve ser restrita em proteína, o que obriga a família a alimentá-lo com leite específico.

O Estado e o Município fornecem a alimentação específica e os medicamentos à família. “O problema é quando eles atrasam os remédios e a gente tem que comprar porque ele não pode ficar sem o medicamento”, relata Claudete. A família explica que mesmo recebendo a ajuda do governo e da prefeitura, o gasto é grande por conta das viagens para Campo Grande para buscar os remédios. Nícolas recebe um salário mínimo por meio do BPC/LOAS (Benefício da Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social).

A diretoria administrativa do Hospital Municipal Cristo Rei foi procurada pelo Jornal Midiamax, mas emitirá nota contendo documentos e laudo somente amanhã, 5.

Ouvida pela reportagem, a ginecologista Luciene Lovatti afirmou que gestações com mais de 40 semanas são normais, apresentando risco somente a partir de 42 semanas. “Dependendo do caso, são necessários exames para atestar a vitalidade fetal”, explica a médica.