Após denúncia contra Vale, bióloga diz que minério só muda gosto da água, mas não polui

Despejo no Rio Paraguai foi denunciado dia 21

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Despejo no Rio Paraguai foi denunciado dia 21

O despejo de minério de ferro nas águas do Rio Paraguai, no Pantanal sul-mato-grossense, segundo bióloga e professora do curso de Engenharia Ambiental da Uniderp, Edinéia Lazarotto Formagini, não causa problemas “em baixa quantidade”. Segundo ela, os principais impactos causados pela presença de ferro estão relacionados à utilização da água para abastecimento humano, porque o composto altera as propriedades de coloração e sabor.

Na quarta-feira (23), a empresa admitiu despejo de minério no Rio Paraguai na altura do Porto Esperança, mas informou que a ocorrência foi um “um desvio operacional pontual”, e que já foram tomadas medidas para evitar novas ocorrências. A confirmação da empresa veio apenas após denúncia publicado no Jornal Midiamax no dia 21 deste mês.

De acordo com a bióloga, a presença ou contato do minério de ferro com a água não apresenta riscos aos ecossistemas aquáticos, “desde que não esteja em concentrações muito elevadas. A foto publicada na reportagem não acredito que vá causar muitos impactos no ambiente aquático, considerando que é somente minério de ferro que está entrando em contato com a água”, citou.

Edinéia comenta que o maior problema está no rejeito do minério de ferro. “Estes podem conter substâncias tóxicas, como metais pesados, que em baixas concentrações podem provocar intoxicação e até a morte de animais e plantas aquáticas. Também é um composto predominantemente inorgânico e com alta densidade, o que reduz a capacidade degradação deste composto pelos organismos aquáticos”, disse.

Segundo ela, outro aspecto a se levar em conta é que a presença deste rejeito em corpos d’água ocasiona a redução da passagem da luz para dentro do ambiente, “reduzindo assim a produtividade, e impactando todo o ecossistema. A magnitude do impacto é diretamente proporcional ao volume e a composição de rejeito presente nos corpos hídricos”, explica.

Edinéia Lazarotto, que é doutora em Saneamento Ambiental e Recursos Hídricos pela UFMS e Universidad de Valladolid/Espanha, explica que há maneiras de minimizar estes impactos: “controle eficiente do processo, evitando falhas; destinação e tratamento adequado para os resíduos gerados e; política eficiente na prevenção e minimização de acidentes, especialmente os ambientais“.

Sobre acidentes, como o ocorrido em Mariana/MG. “Infelizmente, hoje, o que vemos na grande maioria das empresas é uma redução na parte de prevenção de acidentes, com monitoramentos ineficientes dos riscos ambientais e a falta de planejamento correto do que fazer em caso de acidentes. Quando as atividades são realizadas de maneira ineficiente e sem os devidos controles qualquer bioma está em risco”, complementa a pesquisadora. Segundo ela, o ideal é que todas as medidas de controle e prevenção de danos ambientais sejam seguidas “integralmente, deste modo é possível que haja atividades de exploração com minimização dos riscos ambientais”.

Sobre o caso

Funcionários foram flagrados limpando plataformas da mineradora Vale e jogando rejeitos de minérios no Rio Paraguai, em Corumbá.  Segundo a denúncia, eles utilizam jatos de água para lançar os rejeitos na água, formando uma ‘lama vermelha’ em volta da plataforma. Essa não é a primeira vez em que denúncias de crimes ambientais são feitos na região. Em fevereiro, mudanças na cor da água do rio e a morte de peixes chamaram a atenção e coincidiram com a abertura de inquérito na 2ª Promotoria de Justiça de Corumbá, para investigar a situação de barragens.

A equipe de reportagem do Jornal Midiamax recebeu a denúncia de uma pessoa, que não quis se identificar, mas viu a cena no fim do ano passado no Porto Esperança. “A empresa lava ali as plataformas. Não foi a primeira vez que eu vi a mancha vermelha. Nunca vi denúncia anterior, acho que é porque dali para baixo não existe ocupação humana”, disse.

A empresa informou que a ocorrência foi um  “um desvio operacional pontual”.

“A Vale ressalta que não compactua com esse tipo de atitude e que possui procedimento específico para a limpeza do cais, que inclui retirada do material para retorno à área operacional, sem projeção de minério no Rio Paraguai”, cita. Segundo a Vale, já foram tomadas todas as medidas necessárias para evitar novas ocorrências.

A empresa ainda informou que não há a geração de rejeitos no Porto Esperança, apenas a movimentação de minério de ferro, “que é um elemento inerte e não se biomagnifica, ou seja, não se acumula no organismo dos animais”.

O Ibama de Mato Grosso do Sul informou que esteve na quarta-feira (23) fazendo vistoria na área do Porto Esperança, mas a equipe de reportagem ainda não teve acesso ao laudo. 

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