Sozinhas, mulheres comandam barracos e famílias em favelas da Capital
Companheiros abandonam mulheres e crianças
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Companheiros abandonam mulheres e crianças
Morar em uma favela não é uma situação pela qual alguém quer passar, pela falta de infraestrutura e falta da segurança. Mas se já é difícil estar em uma situação assim tendo com que contar, imagine quando se está só. Na favela Cidade dos Anjos, no Jardim das Hortências, região norte de Campo Grande, parte da força de trabalho é composta por mulheres. 90% dos moradores são mulheres e seus filhos, deixados pelos companheiros.
Cristiane da Silva, vendedora, tem três filhos e desde que chegou ao local praticamente mora sozinha, já que seu ex-companheiro a abandonou logo que foram morar na favela. “Aqui é praticamente de mulheres, os homens são muito poucos aqui. Nós que fazemos tudo”, explica. O ex-companheiro de Cristiane, pai de seus três filhos a deixou por não concordar em morar no local, e hoje segundo a vendedora o ex vive com a mãe.
E quem acha que elas têm medo e não sabem fazer nada, está enganado. Fazem tudo mesmo, até trocar as ‘telhas’ dos barracos que são levadas com o vento, nos dias de chuva, ou puxar a fiação elétrica muitas vezes desligada pela concessionária. O local virou uma grande família, onde todos se ajudam. “Se nós não fizermos isto, quem vai fazer por nós? Mulher aprende a fazer as coisas, os homens não agüentam”, fala entre risadas Cristiane, que tem um coro logo atrás de outras moradoras na mesma situação.
Viviane, de 25 anos, mãe de uma menina de 3 anos, também vive a mesma situação da maioria, foi abandonada pelo ex-companheiro, logo que se mudaram para a favela e com a filha recém-nascida. Ela conta que teve de construir sua casa sozinha, já que o pai de sua filha a deixou ainda de dieta do parto.
“Tinha acabado de ter bebe e ele foi embora. Tive de fazer tudo sozinha”, fala e quem pensa que ela quer o companheiro de volta engana-se. “Não quero mais ele, não preciso. Tive de me virar sozinha quando mais precisei, então não o quero mais”, diz com orgulho de quem conseguiu mesmo sozinha construir sua ‘casa’.
Entre risadas e alguns protestos, as mulheres da Cidade dos Anjos, são guerreiras como mesmo se definem, e lá formaram outra família. “Aqui é assim a gente se ajuda, e eu gostaria que ficássemos todas juntas”, fala Cristiane.
A vendedora de algodão-doce diz que o ex-companheiro já pediu para ela sair do local por não achar seguro, e voltar a morar de aluguel com ele, mas ela foi categórica ao falar que só sai da favela quando tiver um canto seu. “Não vou voltar a pagar aluguel, só saio daqui para minha casa”, ressalta. Entre lágrimas o único arrependimento da vendedora é ter parado os estudos, já que para ela se estivesse estudado não estaria nesta situação. “Vou continuar lutando, não vou desistir pelos meus filhos”, finaliza Cristiane da Silva.
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