Festejada com carnaval e fogos de artifício, criação de MS é esquecida
Não há qualquer celebração ou monumento em alusão à data
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Não há qualquer celebração ou monumento em alusão à data
Em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto Geisel assinava a criação de Mato Grosso do Sul. As ruas do centro de Campo Grande, a partir de então Capital do nascente Estado, foram tomadas por cerca de 50 mil pessoas que comemoravam a polêmica separação. Passados 38 anos da data, em nada a Avenida 14 de Julho lembra àquela do passado. As construções cresceram, os comércios aumentaram e o feriado em homenagem à data foi criado. Mas as pessoas, essas sumiram das ruas (por ocasião do feriado) e nenhuma alusão à data, comemoração ou monumento existe por lá ou em qualquer parte da cidade.
Mesmo antes da assinatura, as fronteiras que separam os estados já estavam muito bem delimitadas pela população. Na véspera do ato solene, que aconteceu em Brasília, as famílias mais tradicionais de Campo Grande já se reuniam em bailes organizados em clubes como o Rádio Clube, região central da Capital, e no dia 11 a passeata comemorativa terminou em carnaval com a presença de escola de samba e fogos de artifício.
Porém, neste domingo, 11 de outubro, nada. Nenhuma festa ou comemoração pela data histórica. O governo do Estado fez homenagem à data com uma série de matérias especiais em site institucional.
Para quem acompanhou esta história de perto, a falta de alusão à data é, no mínimo, triste. José F. Neto, militar aposentado, de 63 anos, chegou ao então Mato Grosso em 1971. Como soldado, cabo até chegar à patente de sargento, José serviu em Campo Grande e fazia rondas diárias pelo quadrilátero central da cidade. “Depois da Prefeitura tudo era mato. Não tinha nada aqui”, conta.
Ele explica, que a separação não aconteceu assim, de uma hora para outra, pelo contrário, foi um longo processo. “As pessoas já discutiam isso já tinha um tempão. Não foi de repente, não”. Como assessor parlamentar, José acompanhou em Brasília a assinatura do decreto que regulamenta a separação. “Eu estava lá, vi de perto esse momento histórico, o discurso.”
Para ele, perceber que os personagens dessa história estão, aos poucos, desaparecendo é motivo de lamentação. “Eles estão indo, não é? Quem vai contar esta história? Não temos um busto, não temos um monumento, não temos nenhuma comemoração para a data e isso é muito sério”, reclama.
Acompanhado do filho, Éric Cézar, 19 anos, o militar aposentado diz se entristecer também com a falta de vontade dos atuais agentes políticos. “Eles não tem força para comemorar uma passagem histórica nem para tocar a política do Estado que está em ruínas”, disse ao explicar que se envergonha do atual cenário.
Para pai e filho, a possibilidade de unir o rural e o urbano segue como característica mais marcante e digna de maior orgulho para o Estado. “São poucos os lugares que conseguem unir esses dois mundos tão bem quanto este Estado. Isso fez com que eu nunca fosse embora”, diz José.
Os amigos Antônio Rodrigues, 75 anos, e Hilton José Miguel, 76, também acompanharam a data. Para eles, de lá para cá, obviamente, muita coisa mudou, mas nada os tira da cabeça a ideia de que a separação foi melhor para o Mato Grosso.
“Para o Sul ficaram meia dúzia de produtores rurais, apenas. O Mato Grosso se desenvolveu muito mais e enquanto temos 79 cidades pelo interior eles têm muito mais”, diz Antônio ao explicar que mesmo tendo certeza de que tudo que possui importância em Mato Grosso do Sul está ligado à terra, nossa economia, interesses e cultura se desenvolveu para muito além desse vínculo.
Para os dois, o fato de não haver em toda a cidade um só monumento em homenagem a data é mais que esquecimento. É não valorizar a memória do Estado, do povo que o forma, uma questão de identidade.
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