Novos prédios com foco em idoso incluem posto de saúde e até robôs

Em vigor desde 2020, a Lei de Acessibilidade promove, indiretamente, a inclusão dos idosos no mercado imobiliário

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Com o aumento da população idosa no Brasil, o mercado imobiliário tem olhado com cada vez mais atenção para esse público. Entre as novidades com foco no público mais velho estão condomínios que incluem ambulatórios médicos internos, espaços adaptados e até robôs que ajudam na rotina dos moradores.

Em um residencial sênior, você usufrui de serviços incluídos no valor do condomínio e pode agregar outros, pagos à parte, à medida em que envelhece. É o conceito aging in place, consolidado nos Estados Unidos, mas que ganha força agora por aqui: moradias para quem tem mais de 60 anos com infraestrutura que acompanha as demandas que surgem com a idade.

O condomínio Vintage Senior Residence, projeto da Cyrela em Porto Alegre, oferece enfermeiro 24 horas a partir de uma parceria com o Grupo ATS, especializado em gestão da saúde. Além disso, os botões antipânico dos 120 apartamentos (um no quarto e outro no banheiro) acionam a recepção e o ambulatório.

A enfermeira Mariana Guaragna conta que os atendimentos mais comuns envolvem a medição de pressão arterial, temperatura, saturação de oxigênio e glicose. Em quase seis meses de funcionamento, a única emergência foi um caso de desidratação grave de um paciente com covid-19. A ambulância foi chamada, mas ele não precisou de internação.

Um dos moradores é o aposentado Gentil Sancandi, de 85 anos. Sem problema grave de saúde, ele conta com orgulho que sua pressão está quase sempre na casa dos 12 x 8, conferida no condomínio. Sancandi faz exercícios de alongamento na academia, algo que nunca tinha feito na vida, e gosta de caminhar. Prefere as áreas verdes porque a esteira é rápida para ele, que usa andador. O prédio tem piscina, mas o idoso tem receio por causa do aparelho auditivo. Esses serviços estão incluídos no condomínio, de R$ 1,1 mil. As duas sessões de fisioterapia que ele faz por semana são pagas à parte.

Após viver em sua própria casa e num lar de idosos no interior, o gaúcho quis ficar mais perto das filhas na capital. “Ele é bem ativo, aproveita bem as coisas do condomínio. No interior, ficava só no quarto”, relata a cuidadora Daisy Peixoto.

Tecnologia

Em Curitiba, a construtora Laguna promete também usar a tecnologia como aliada. O empreendimento Bioos tem duas torres: uma residencial, com 108 apartamentos, e outra que é um centro médico, com um hospital-dia para procedimentos de baixa complexidade, que vai atender também os não residentes no condomínio. Com entrega prevista para 2025, o empreendimento tem apartamentos entre R$ 550 mil e R$ 1,1 milhão.

O empreendimento vai oferecer aos moradores um robô de telepresença. Além de assistências virtuais, como acender e apagar a luz e sintonizar o programa de TV favorito, o robô se movimenta pela casa e o idoso não precisa levantar toda hora. Quem quiser comprá-lo gastará cerca de R$ 60 mil.

Em São Paulo, o Matture Home Life, da construtora Matushita, prevê uma parceria na área de telemedicina, que vai oferecer atendimento para consultas de emergências aos moradores. O edifício será erguido na região da Vila Mariana, zona sul. As obras começam neste semestre e têm entrega prevista em 30 meses.

Para Luiz França, que preside a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, a demanda crescente de São Paulo ainda não é atendida. Ele se ampara em estudo da Fundação Seade que aponta aumento da expectativa de vida no Estado de 17,7 anos em cinco décadas. “Certamente, é um segmento com alto potencial”.

Lei de 2020 obriga imóveis a ter mais acessibilidade

Em vigor desde 2020, a Lei de Acessibilidade promove, indiretamente, a inclusão dos idosos no mercado imobiliário. Embora fixe normas de acessibilidade das pessoas com deficiência, ela prevê, por exemplo, a necessidade de corredores e elevadores mais largos para macas e cadeiras de rodas.

“A norma está sendo implementada, mas alguns empreendimentos imobiliários anunciam isso como diferencial. Isso é básico, elementar”, afirma a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski, que assina projetos de condomínios para idosos no Brasil e no exterior. “Velhice não é doença, é um período da vida”, continua.

O engenheiro Norton Mello, autor do livro Senior living — conceito, mercado global e empreendimentos de sucesso, afirma que o mercado ainda está no início no Brasil. “Há um problema na formação técnica de arquitetos e engenheiros. Não há disciplinas formais sobre projetos de saúde e bem-estar nos cursos. Só na pós”, avalia.

Claudio Bernardes, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis (Secovi) em São Paulo, vê sinais de mudança. “Verificamos aumento do público, o que permitirá escala suficiente para novos empreendimentos”.

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