A Fitch Ratings vê uma “corrida” entre dois candidatos nas próximas eleições no Brasil: o ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva e o atual presidente, Jair Bolsonaro, de acordo com o analista sênior da Fitch Ratings para Américas, Lee Sutton. O próximo governo terá de lidar com reformas e uma inflação elevada, de dois dígitos, impactada pelo aumento nos preços de alimentos, energia e outras commodities em meio à invasão russa à Ucrânia, conforme destacou ele.

Sutton enfatizou, ao comentar sobre suas expectativas quanto ao Brasil, sobre o aumento de gastos do governo Bolsonaro durante a pandemia, com o pagamento do auxílio emergencial.

O analista chamou a atenção ainda para o fato de que o brasileiro está entre os mais agressivos do mundo e, após já ter elevado a taxa em mais de 9 pontos-base, deve chegar até o patamar de 13,25% “até o meio do ano” e alongar esse patamar até ao menos o 4º trimestre.

A Fitch espera que a economia brasileira fique “estagnada” em 2022, com leve crescimento de 0,7% ante uma expansão de 4,6% no ano passado, segundo Sutton, que participou de evento virtual sobre a América Latina.

Ele enfatizou ainda a valorização recente do real frente ao dólar e que a visão externa para Brasil começou a melhorar, uma vez que o País é um forte exportador e tende a se beneficiar, com outros mercados importando petróleo, ferro e commodities agrícolas de outros mercados por conta da guerra na Ucrânia.

Destacou que o real tem apresentado a melhor performance entre moedas de mercados emergentes neste ano. Ele também espera que o País continue se beneficiando dos maiores preços do petróleo em meio à guerra na Ucrânia, diante de uma maior demanda da Europa, que tem imposto sanções à Rússia por conta da invasão a Moscou.

“Se preços de commodities seguirem elevados até 2023, a exportação brasileira será ajudada”, previu Sutton, dando destaque ao desempenho ao setor de petróleo.

Reconhecimento da eleição

A Fitch Ratings vê uma “luta difícil” e momentos de tensão na corrida de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro pelo Planalto, mas não acredita que o atual presidente da República ficará no cargo caso não seja reeleito. “Há questionamentos sobre o risco de o presidente Bolsonaro não reconhecer o resultado. Nós reconhecemos esse risco, mas não é a nossa visão central, mas é um risco”, disse Lee Sutton, durante o evento virtual sobre a América Latina. “Não achamos que o presidente Jair Bolsonaro vá ficar no cargo apesar do resultado (em uma eventual não-reeleição), mas esperamos que haverá tensão”, acrescentou.

Por outro lado, pontuou Sutton, há uma pequena possibilidade de o ex-presidente Lula não reconhecer os resultados das eleições no Brasil.

“Diante da polarização existente no Brasil, e também em cada partido, certamente vai haver uma luta difícil entre as campanhas (de Lula e Bolsonaro) e depois do resultado (das eleições)”, disse Sutton.