Abner Ferreira: ‘Nenhum candidato será demonizado’

A denominação pentecostal tem um acordo para apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro

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Um dos principais líderes religiosos da Assembleia de Deus, o bispo Abner Ferreira, de 58 anos, afirmou que a igreja não vai “demonizar” nenhum candidato ao Palácio do Planalto neste ano. A denominação pentecostal tem um acordo para apoiar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, mas rechaça fazer campanha contra outros candidatos. “Nenhum pastor tem direito de dizer ‘Esse é de Deus e esse é do diabo’. E eu descobri que Deus e o diabo estão em todos os partidos”, disse Ferreira ao Estadão. O bispo não vê, porém, espaço para a terceira via nas próximas eleições. O Ministério de Madureira, comandado pelo clã Ferreira, é um dos mais poderosos da Assembleia de Deus.

O ex-juiz Sérgio Moro quer atrair o segmento evangélico para sua campanha presidencial. Ele tem chances?

Toda candidatura é legítima. Se vai ter apoio ou não é uma outra questão. Hoje nós temos um apoio declarado ao presidente Jair Bolsonaro.

Moro procurou os bispos de Madureira? Ele tem porta aberta para conversas?

Nunca conheci o senhor Sérgio Moro. Acho que ele terá muita dificuldade para ter sucesso entre os evangélicos, em razão do apoio a Bolsonaro. Mas nenhum candidato será demonizado na Convenção de Madureira. Nenhum pastor tem direito de dizer ‘Esse é de Deus e esse é do diabo’. E eu descobri que Deus e o diabo estão em todos os partidos.

O bispo primaz Manoel Ferreira, seu pai, fez uma reunião com o ex-presidente Lula e posou abraçado com ele. É indicativo de voto?

Foi um encontro de um pastor que foi cumprimentar alguém que já foi presidente da República e com quem tivemos uma relação muito respeitosa. Eu tenho respeito pela história do Lula, não nego jamais.

Institutos de pesquisa indicam certa simpatia pelo ex-presidente Lula entre evangélicos, similar ou até maior que a Bolsonaro. A razão é a economia?

Não é só isso, não. Lula tem um capital político, ninguém tira isso dele. Estamos a menos de um ano da eleição e as pedras começam a ser colocadas. Não vejo lugar para uma terceira via. Os outros candidatos são legítimos, mas acho que temos dois projetos de poder muito claros.

O que a igreja evangélica espera do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, em pautas como aborto, por exemplo?

Que ele seja um excelente ministro do STF e, nos julgamentos, os faça fundamentado na Constituição e nas leis vigentes. Ele não tem cargo político. Ele é magistrado.

Se Lula vencer, as igrejas vão fazer oposição?

A Bíblia nos ensina a orar por todas as autoridades constituídas. Depois de proclamado o resultado, aquele que for eleito ou reeleito passará a ter o respeito e as orações da igreja.

A condução do governo na pandemia mereceu críticas?

Não só aqui, no mundo inteiro. Todos os governos tiveram acertos e erros. Nós estamos vivendo com um inimigo invisível. Eu fiquei quatro meses pregando para banco, na catedral em Madureira. Eu disse que, se o banco não se convertesse agora, eu não converteria mais.

O nome da igreja foi citado em delação na Lava Jato por suspeita de lavagem de dinheiro do então deputado Eduardo Cunha. O que o sr. pode falar sobre o caso?

Não quero falar sobre isso. A verdade sempre prevalece. Nunca fizemos qualquer tipo de apoio fundado nesse tipo de relação. A igreja trabalha com duas fontes de recurso voluntárias, oferta e dízimo. O que passa disso é malvadeza, especulação e querer levar a igreja para essa raia miúda. Sou pastor há 37 anos e nunca recebi dinheiro público.

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