173 mil mortes por covid no Brasil podem não ter sido registradas oficialmente

No Brasil, pode ter havido até 173 mil mortes a mais do que o notificado

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa

A covid-19 pode ter provocado a morte de cerca de 18,2 milhões de pessoas em todo o mundo entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021, número que supera em três vezes as estatísticas oficiais divulgadas. A estimativa foi divulgada em estudo publicado na revista científica The Lancet nesta sexta-feira, 11, data que marca os dois anos do reconhecimento da doença como pandemia. No Brasil, pode ter havido até 173 mil mortes a mais do que o notificado.

Conforme a publicação, a primeira estimativa global de excesso de mortes a ser submetida à revisão por pares sugere que o impacto do novo coronavírus é muito maior do que as 5,9 milhões de mortes registradas nos dados oficiais disponíveis até o momento. Quanto aos dados brasileiros, a estimativa é que o total real de óbitos seja de 792 mil em vez dos 619 mil registrados oficialmente até dezembro.

Conforme a publicação, as infecções causadas por covid-19 não foram diagnosticadas com eficiência. Os pesquisadores sugerem que a grande diferença entre os números oficiais de óbitos e as mortes adicionais que aparecem nos registros pode ser explicada pela “falta de diagnóstico por carência de testes” e “problemas com a publicação” dos dados.

A Bolívia é o país que apresenta a maior excesso de mortalidade no período analisado, segundo os autores do texto, que ressaltam que em geral os países andinos sofreram particularmente com a pandemia. O governo boliviano reportou 19.700 óbitos pela doença até dezembro, no entanto, segundo o estudo, a estimativa de excesso de mortes é de 161 mil, ou seja, em média, 141.300 mortes a mais que as notificadas oficialmente. Desta forma, a taxa de mortalidade excessiva estimada por 100 mil da população é de 734,9.

Por regionalidade, países da zona andina da América Latina (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) são os mais atingidos com 512 mortes adicionais por 100 mil habitantes, seguidos pelo Leste Europeu (345 mortes), a Europa Central (316 mortes), o sul da África Subsaariana (309 mortes) e a parte central da América Latina (274 mortes).

Em números absolutos, segundo o estudo, a Índia foi o país com o maior número de excesso de mortes cumulativas (4,1 milhões), seguida por Estados Unidos (1,1 milhão), Rússia (também 1,07 milhão), México (798 mil) e Brasil (792 mil).

Entre esses países, a taxa de mortalidade excessiva foi mais alta na Rússia (374,6 mortes por 100 mil habitantes) e no México (325,1 por 100 mil), e foi semelhante no Brasil (186,9 por 100 mil) e nos EUA (179,3 por 100 mil).

Por outro lado, alguns países, que ficaram praticamente isolados do resto do mundo por meses, registraram uma taxa de mortalidade abaixo da média durante esse período, incluindo Islândia (48 mortes a menos por 100 mil habitantes), Austrália (38 mortes a menos) e Cingapura (16 a menos).

“Das 12,3 milhões de mortes adicionais em comparação com as mortes contabilizadas por covid-19, uma parte substancial provavelmente foi em decorrência de infecções causadas pelo Sars-CoV-2, vírus que originou a pandemia”, reforçam os pesquisadores.

‘Estatísticas oficiais dão imagem parcial do verdadeiro balanço da mortalidade’

Os especialistas reconhecem, no entanto, que seu estudo precisa ser complementado com mais pesquisas. “As estatísticas oficiais sobre as mortes de covid-19 dão apenas uma imagem parcial do verdadeiro balanço da mortalidade relacionado à pandemia”, dizem os autores. Se esses dados forem verdadeiros, a doença seria uma das principais causas de mortalidade no mundo em 2020 e 2021.

Os pesquisadores que prepararam a análise, coordenada pelo Instituto para Métrica e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington (EUA), ressaltam que é necessário mais trabalho para entender qual proporção dessa mortalidade é consequência direta da covid-19 e o que faz parte do peso dos efeitos indiretos da pandemia.

“Estudos anteriores sobre dados de países como Suécia e Noruega sugerem que o vírus é a causa direta de grande parte das mortes, mas agora há evidências suficientes disponíveis para determinar isso com maior certeza”, disse Haidong Wang, um dos autores do estudo.

Os pesquisadores coletaram dados sobre a mortalidade por todas as causas nos anos de 2020, 2021 e até 11 anos antes da pandemia, em alguns casos, de 74 países e 252 autoridades regionais, além de três grandes bancos de dados internacionais.

A partir dessas informações, construíram um modelo que permitiu estimar o excesso de mortes globais. Os autores alertam que a precisão de seus números tem limitações, pois usaram métodos estatísticos para estimar um possível excesso de mortalidade em países que não publicaram dados suficientes. No planeta como um todo, morreram 120 pessoas a mais por 100 mil habitantes do que seria esperado se a pandemia de coronavírus não tivesse se alastrado, segundo estimativa do estudo.

Já as mortes que não foram causadas diretamente pela doença podem ter ocorrido devido a causas como suicídio, uso de drogas motivado por mudanças de comportamento, bem como falta de acesso a cuidados de saúde e outros serviços essenciais, segundo os pesquisadores.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia alertado que o saldo da pandemia pode ser entre duas e três vezes maior do que o estimado até agora. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Conteúdos relacionados