Mulher que alugou casa para miliciano morto na Bahia é investigada

Uma veterinária do Rio de Janeiro pode ajudar os investigadores a descobrir o patrimônio oculto do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, morto em fevereiro na Bahia, e a entender como funcionava a “rede de amigos” que lhe dava proteção. Acusada de ser funcionária fantasma em uma agência do Tocantins, Juliana Magalhães da […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto em fevereiro.(Reprodução)
Adriano Magalhães da Nóbrega foi morto em fevereiro.(Reprodução)

Uma veterinária do Rio de Janeiro pode ajudar os investigadores a descobrir o patrimônio oculto do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, morto em fevereiro na Bahia, e a entender como funcionava a “rede de amigos” que lhe dava proteção. Acusada de ser funcionária fantasma em uma agência do Tocantins, Juliana Magalhães da Rocha alugou, por R$ 50 mil e em seu nome, uma casa na Costa do Sauípe, onde o miliciano passou a virada do ano.

Investigada pela polícia e pelo Ministério Público no Rio e na Bahia, Juliana já foi tratada por investigadores como prima e cunhada do capitão Adriano. A veterinária teria negociado o aluguel da casa de veraneio de 5 de dezembro a 5 de fevereiro com a viúva do ex-PM, Julia Emília Mello Lotufo. Parte do pagamento foi feito em dinheiro vivo, segundo a investigação. A polícia da Bahia cercou a casa no fim de janeiro, mas Nóbrega conseguiu escapar.

O nome da veterinária foi citado nas investigações pela primeira vez por Leandro Abreu Guimarães, competidor de vaquejadas da Bahia, que acolheu capitão Adriano em sua propriedade, em Esplanada, para onde o miliciano fugiu após a batida policial na Costa do Sauípe. “Juliana, na condição de veterinária, cuida de animais no circuito de vaquejada, e disse ter conhecido o Adriano em função da profissão”, diz registro do depoimento, em 12 de abril.

Preso por porte ilegal de armas, Guimarães ficou alguns dias na cadeia e foi liberado, com tornozeleira eletrônica. Ele disse desconhecer a ligação do amigo com a milícia e negou tê-lo ajudado na fuga. Nóbrega foi morto num povoado vizinho, na propriedade do vereador Gilson da Dendê (PSL), que também disse não ter nada a ver com o caso. Durante ano em fuga e, segundo investigadores, passou também por Tocantins, Sergipe, Rio Grande Norte e outros Estados.

Embora não seja foragida, Juliana nunca foi encontrada por investigadores, nem na apuração sobre capitão Adriano, nem para ser notificada no processo em que é acusada de ser funcionária fantasma no Tocantins.

Rachadinha

Investigadores seguem rastros do dinheiro movimentado pelo ex-PM em duas frentes: a que apura assassinatos, extorsão e formação de quadrilha da milícia Escritório do Crime e a que tem como objetivo supostos crimes de organização criminosa e peculato no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

A ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e a mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, trabalharam no gabinete de Flávio de 2007 a 2018. O Ministério Público do Rio afirma que as duas eram “fantasmas” e formavam um dos núcleos do esquema de “rachadinha”, quando assessores contratos devolvem parte dos salários para o deputado.

Danielle e Raimunda receberam R$ 1 milhão em salários da Alerj no período. Segundo os promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), pelo menos metade desse valor retornou por meio de transferências, cheques ou depósitos para conta do ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema.

Preso desde o último dia 18, Queiroz trabalhou com Nóbrega no 18 º Batalhão da PM, no Rio. Desde 2003, a dupla é investigada pela morte de um homem, durante abordagem na Cidade de Deus. O caso não foi concluído. Ainda de acordo com o MP, em dezembro, a mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, que está foragida, e um advogado de Flávio, Luiz Gustavo Botto Maia, se encontraram com a mãe do ex-PM no sul de Minas para discutir a fuga para família Queiroz.

O ex-assessor teria mantido “contatos recentes” com o miliciano e participado da rede de proteção de seus familiares, segundo o MP. No pedido de prisão de Queiroz, os promotores dizem que Raimunda foi orientada por ele a “permanecer escondida, temendo a retomada da investigação”.

Queiroz e Nóbrega são apontados como responsáveis por impedir que Danielle fosse a um depoimento no Ministério Público e ordenar que ela “não mencionasse em conversas telefônicas os crimes praticados na Alerj.” Segundo o MP, isso pode ser embaraço às investigações. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Conteúdos relacionados

lula