A redução de uma taxa cobrada de quem vende títulos do Tesouro Direto corrigidos pela Selic (juros básicos da economia), anunciada ontem (5), elimina o risco de o papel render menos que a poupança em algumas ocasiões, esclareceu o Tesouro Nacional. Segundo o órgão, a medida foi necessária para diminuir o receio de investidores de aplicar em títulos públicos.

O Tesouro Direto oferece papéis de diversos tipos. No entanto, o Tesouro Selic era o único que eventualmente perdia da poupança. No caso de resgates próximos à data de aniversário da caderneta, a poupança rendia mais que o Tesouro Selic se o dinheiro fosse retirado até seis meses depois da aplicação.

Essa situação só perdurava nos dias próximos ao aniversário da poupança. Isso porque a caderneta não paga o rendimento todos os dias, apenas uma vez a cada 30 dias, contados a partir da data em que o correntista transferiu dinheiro para a caderneta. O Tesouro Selic paga rendimentos todos os dias, até a correção atingir 6,5% em um ano, equivalente à variação da taxa Selic. A poupança, em contrapartida, rende apenas 70% da Selic nas condições atuais do mercado.

“Como o Tesouro Selic rende um pouquinho a cada dia e a poupança rende de uma só vez a cada mês, o aplicador poderia perder em algumas ocasiões se resgatasse os títulos públicos no curto prazo”, explica o diretor-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira. Ele enfatiza que a diferença não está nas taxas de rendimentos, sempre mais altas no Tesouro Selic, mas no fato de que o rendimento da poupança é concentrado um dia no mês.

Para contornar a situação, o Tesouro reduziu, de 0,04% para 0,01% ao ano o spread do Tesouro Selic. O spread é a diferença de preços entre o momento do investimento e o momento do resgate antes do vencimento de um título. No curto prazo, a diminuição da taxa iguala o rendimento da poupança e do Tesouro Selic próximo aos dias de aniversário da caderneta. No médio e no longo prazo, amplia a vantagem dos títulos públicos.

Migração

O diretor-presidente da Anefac elogia a medida e diz que essa era uma reivindicação antiga dos investidores, que eliminou o risco de os títulos públicos perderem eventualmente da poupança. Ele, no entanto, diz não acreditar em migração em massa da poupança para o Tesouro Direto.

“A redução do spread ajuda a equiparar a poupança ao Tesouro Selic, mas uma debandada em massa para os títulos públicos não deve ocorrer porque a caderneta ainda é uma aplicação simples, isenta de Imposto de Renda e com retirada imediata. Muitos investidores continuarão a preferir a poupança, mesmo ela rendendo menos”, explica.

Por render diariamente, o Tesouro Selic é o papel mais indicado para quem quiser fazer uma reserva de emergência, como na poupança, desde que o dinheiro fique pelo menos 30 dias parado. O saque não é imediato, como na caderneta. Caso o aplicador peça o regate, o dinheiro só é retirado no dia útil seguinte, se a operação tiver sido feita antes das 18h, ou dois dias úteis mais tarde, se a ordem tiver sido dada depois das 18h.

Aplicação

O Tesouro Direto foi criado em janeiro de 2002 para popularizar esse tipo de aplicação e permitir que pessoas físicas pudessem adquirir títulos públicos diretamente do Tesouro, via internet, sem intermediação de agentes financeiros. O aplicador só tem de pagar uma taxa à entidade responsável pela custódia dos títulos, embora muitas corretoras e bancos tenham zerado a taxa. Mais informações podem ser obtidas no site do Tesouro Direto.

A venda de títulos é uma das formas que o governo tem de captar recursos para pagar dívidas e honrar compromissos. Em troca, o Tesouro Nacional se compromete a devolver o valor com um adicional que pode variar de acordo com a Selic, índices de inflação, câmbio ou uma taxa definida antecipadamente no caso dos papéis prefixados.