Mercado de cosméticos naturais cresce com millenials

Os mais jovens querem produtos que não agridam o ambiente. O mercado é promissor: a geração dos nascidos a partir de 1999 será o maior grupo de consumidores do mundo até 2020, atingindo um total de 2,6 bilhões de pessoas, segundo estimativas. Em junho, as feiras NaturalTech e Bio Brazil Fair, de produtos naturais e […]

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Os mais jovens querem produtos que não agridam o ambiente. O mercado é promissor: a geração dos nascidos a partir de 1999 será o maior grupo de consumidores do mundo até 2020, atingindo um total de 2,6 bilhões de pessoas, segundo estimativas.
Em junho, as feiras NaturalTech e Bio Brazil Fair, de produtos naturais e orgânicos, lançaram cerca de 1.500 itens de 500 marcas diferentes em São Paulo. De acordo com a empresa que organiza esses eventos, o mercado dos orgânicos brasileiro movimenta mais de R$ 3 bilhões por ano, com crescimento anual médio de 20%.
Acompanhando a tendência, empresas de cosméticos investem em insumos certificados e na divulgação de procedimentos éticos.
“Os millenials lêem rótulos e embalagens procurando informação sobre ações sustentáveis da marca e ingredientes naturais”, diz Maya Colombani, diretora de sustentabilidade da centenária multinacional de origem francesa L’Óreal, que abriu sua primeira fábrica no Brasil em 1960.
Criada em 2017, a coleção Aura Botânica, linha profissional de cuidados para os cabelos da L’Óreal, busca este público. Os produtos são livres de silicone e parabenos -uma família de conservantes sintéticos que têm uso controlado na cosmetologia, porque interferem no sistema endócrino de humanos e animais.
A fórmula tem 98% de seus ingredientes naturais, com cultivo controlado em vários países, como a manteiga de murumuru e o óleo de castanha do Pará brasileiros, o óleo de farelo de arroz, da Tailândia, o açúcar paraguaio, o extrato de aloe vera mexicano, o óleo de argan marroquino e o óleo de coco de Samoa. As embalagens usam ao menos 25% de Reciclados Pós-Consumo (RPC).
Na direção da sustentabilidade na L’Oréal, caminham paralelamente dois processos: o de fazer com que os produtos já existentes se tornem menos sintéticos, por meio da substituição de ingredientes, e o de criar novas fórmulas, com um menu de insumos cada vez mais livres de sintéticos, como é o caso da coleção Aura Botânica.
Maya Colombani conta que a eliminação total dos parabenos das fórmulas demorou nove anos e chegou a termo em 2015.
“Há cinco anos, começamos a acelerar o processo de produzir com cada vez mais insumos naturais e com cada vez menos conservantes sintéticos”, diz.
A empresa afirma que encerrou 2017 com 68% dos novos produtos produtos com perfil ambiental ou social melhorado no Brasil. A ideia é que, até 2020, 100% dos novos sejam mais sustentáveis, em três aspectos: embalagens recicláveis, fórmulas biodegradáveis e matérias-primas com ingredientes naturais.
O maior desafio, segundo Maya, é combinar os ingredientes naturais com a boa performance.
“Nos produtos em que há 98% de ingredientes naturais, os 2% que sobram são referentes a perfumes e conservantes”, diz.
No caso dos perfumes, provavelmente não serão atingidos os 100% de ingredientes naturais. Isso porque, explica Maya, perfumes naturais nem sempre são sustentáveis. “Alguns consomem muita matéria-prima, com água e espaço de cultivo enormes, para um rendimento muito pequeno. Nesses casos, é pouco provável que sejam substituídos os sintéticos por naturais.”
A sustentabilidade nos processos encarece os produtos? “Sim e não”, diz Maya. “Por um lado, o preço justo na remuneração dos agricultores pode encarecer o produto, e esse custo não será reduzido. Mas não há relação direta entre a ampliação do uso de material reciclado e o aumento de preço e nem da melhoria da biodegradabilidade da fórmula com o encarecimento”, diz. Os preços da linha variam entre RS 149 e 199.

CONTRA A CRUELDADE ANIMAL 

De março de 2017 a março de 2018, a carioca FaceIt, que comercializa batons feitos com produtos naturais, teve um aumento de 110% no faturamento, passando de R$ 34 mil para R$ 71 mil.  Foram produzidas 14 mil unidades até março de 2018 e serão produzidas mais 22 mil unidades até o fim de ano.
Os produtos da FaceIt possuem o selo da Peta, ONG contra a crueldade animal, e selo Vegano, fornecido pela SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira).
A marca criada por mãe e filha, Elza e Julia Barroso, idealiza cores, perfumes e texturas e terceiriza a produção de seus batons com duas fábricas. Os batons sólidos são fabricados pela italiana Labphyto e os líquidos vêm de uma empresa do Sul do Brasil.
São feitos de manteiga de cacau, óleo de oliva, extrato de semente de damasco, manteiga de karité e óleo de jojhoba, entre outros ingredientes. Não utilizam parabenos ou petrolatos.
“Buscamos fornecedores que já têm tradição de uso de matérias-primas naturais e acompanhamos de perto os procedimentos”, diz Julia Barroso.
“Optamos pela fábrica italiana porque não encontramos quem produzisse da forma como queríamos no Brasil. Temos a desvantagem da demora para lançar novas cores e a vantagem de ter o controle”, diz.
A FaceIt adotou a logística reversa de embalagens do selo Eu Reciclo, que dá destinação correta aos resíduos.
Julia, que tem formação em marketing e trabalhou por quatro anos no Parque Nacional da Tijuca, no Rio, acredita que o espaço para produtos naturais vai crescer muito nos próximos anos. “Na Europa e nos Estados Unidos, já está maduro. No Brasil, o mercado de produtos vegetarianos de forma geral cresce 40%, segundo a SVB. Os cosméticos devem ir nessa linha”, diz.
“São os mais jovens que puxam os mais velhos. Nas feiras que participamos, e nas vendas diretas, vemos as filhas influenciarem as mães para a adoção de produtos mais naturais”, conta.
A marca deve lançar dois novos batons em agosto, totalizando cinco novos produtos em 2018. Os batons custam de R$ 69 a R$ 79.

DA FAZENDA COM IMPORTADOS  

O cultivo de orgânicos para alimentação e a tradição familiar de fabricar sabonetes artesanais foram as bases da criação da Souvie, empresa que nasceu em 2014 no interior de São Paulo e que funciona na cidade de Itupeva.
Lá são cultivadas matérias-primas para óleos essenciais de camomila e lavanda usados nas fórmulas dos cosméticos. Em lugar de água, são usados hidrolatos, decorrentes da fabricação dos óleos. Esse aproveitamento permite economia de recursos e abaixa o preço, segundo a empresa.
A Souvie tem 95% de matérias-primas naturais e orgânicas em seus produtos, como óleo de andiroba, cera de abelha, óleo de milelauca, manteigas de cupuaçu e murumuru, extratos de melissa e calêndula. Os 5 % que podem ser sintéticos têm de estar na lista positiva da Ecocert. A empresa é a única de cosméticos a ter o selo no Brasil. O Ecocert é renovado anualmente e tem vistorias semestrais da cadeia de fornecedores.
O caminho para atingir 100% de orgânicos na fórmula é considerado muito difícil por Breno Bitencourt, um dos criadores da Souvie. “Não temos no país produção organizada de vários insumos. Por isso, infelizmente, importamos grande parte das nossas matérias-primas”.
Uma das matérias-primas importadas é a brasileiríssima tapioca. Ela é exportada para Israel, onde é processada e volta ao Brasil para ser usada como talco para bebês, em substituição ao óxido de zinco.
Os primeiros produtos da marca foram uma linha de cuidados para gestantes, com nove itens. Depois vieram os produtos para bebês de até 28 dias e, em seguida, os destinados à faixa etária dos 25 a 40 anos.
Até o fim deste ano, serão lançados 44 novos produtos, entre eles um desodorante. A linha para recém-nascidos tem preços em torno de R$ 60.
As embalagens usadas pela Souvie são de alumínio ou vidro, com válvulas plásticas. A empresa optou por um sistema de logística reversa terceirizado, com o selo Eu Reciclo, de destinação correta de embalagens.
“O mercado está crescendo e temos visto aparecem novas marcas. O Brasil está engatinhando nos orgânicos e tem muito espaço para crescer ainda. No exterior, as pessoas já entendem melhor o que é a certificação e o que representa em termos de controle de qualidade. Aqui, gasta-se muito tempo e dinheiro para dar essas informações”, diz.
“Mas esse esforço vale a pena, porque o nosso público é aquele que lê rótulo, que se interessa pela procedência do que usa”, afirma Bitencourt.
A Souvie já investiu R$ 30 milhões, para montar a fábrica, com destilaria, e se prepara para entrar no mercado americano no próximo ano.

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