Integrante da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse hoje (31) que apresentará uma moção contrária à fusão do Ministério do com a Agricultura, como tem sido cogitado pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro. Integrantes da frente se reuniram nesta quarta-feira no Congresso Nacional com entidades ambientalistas para discutir e criticar a possível integração entre as pastas, chamando atenção para as consequências também ao agronegócio brasileiro. O grupo é suprapartidário e tem atualmente com 228 parlamentares.

Alencar informou à Agência Brasil que deve apresentar uma proposta de minuta para uma moção de repúdio à medida. Durante o ato, ele disse que sugerirá a assinatura, na semana que vem, de todos os parlamentares e ex-ministros do Meio Ambiente. “[A moção será] divulgada nacional e internacionalmente, mostrando os riscos que uma intenção dessa traz e repudiando essa possível medida. Inclusive chegando ao papa Francisco, cuja encíclica sobre o cuidado da Casa Comum foi a de maior repercussão na história da Igreja Católica. Portanto a questão ambiental está no coração dos povos do mundo”, disse.

Segundo o coordenador da frente, deputado Alessandro Mollon (PSB-RJ), a possível “subordinação” do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura é uma “péssima ideia” e tem problemas que vão “muito além da agricultura e pecuária”. “Se o presidente eleito não voltar atrás, o que a gente espera que ocorra, que haja um raio de luz e de bom senso, vamos tomar todas as medidas legislativas e judiciais possíveis e necessárias para evitar esse retrocesso que tantos prejuízos vai causar ao Brasil”, disse.

O ex-ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney (PV-MA), citou os prejuízos que o setor da agricultura e pecuária podem sofrer a nível internacional. “Os nossos concorrentes vão usar esse argumento. Nos últimos dois meses, só com o fato de termos um candidato com intenções de votos majoritária, que disse que ia extinguir o Ministério do Meio Ambiente, o desmatamento na Amazônia cresceu mais de 30% em relação aos mesmos dois meses do ano passado”, disse.

De acordo com Maurício Guetta, consultor do Instituto Socioambiental, um estudo feito este ano pelos cientistas Carlos Nobre e Tom Lovejoy indica que caso a Amazônia atinja entre 20% e 25% de desmatamento, ela entraria em processo de “savanização”, podendo se transformar em uma floresta com vegetação “mais similar ao cerrado do que à que conhecemos hoje”. “É a floresta amazônica que permite que o ciclo hidrológico brasileiro leve água para as fazendas que produzem o alimento e os produtos para exportação. Então além de um equívoco ambiental, trata-se também de um equívoco gravíssimo para a área e social”, disse.

Além dos deputados, estiveram presentes no ato integrantes da organização não governamental WWF, da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Meio Ambiente e um representante indígena do Pará. Mais cedo, os ministros do Meio Ambiente e da Agricultura manifestaram-se sobre o assunto . Na semana que vem, os parlamentares devem convocar uma audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir o assunto, convidando também entidades ligadas ao agronegócio.