Um rali nos ativos brasileiros pode se estender se o candidato preferido pelo mercado, Jair Bolsonaro (PSL), vencer a eleição presidencial em 28 de outubro e avançar com reformas do sistema previdenciário e com privatizações, disseram investidores.

Mercados parecem estar dando de ombros para a falta de detalhes de Bolsonaro em suas propostas de políticas públicas durante a campanha, assim como para seu discurso misógino, homofóbico e racista. Eles também parecem estar rejeitando as preocupações de alguns brasileiros sobre o que seu discurso pode desencadear, em um país atolado em violência e profundamente polarizado.

“Nenhum investidor me disse ‘Não vou entrar no Brasil porque está muito polarizado’”, disse Alberto Bernal, chefe de mercados emergentes e estrategista global da XP Investments em Miami.

“A realidade é que a polarização que existe no Brasil não é diferente da que existe no Reino Unido, na Alemanha, nos Estados Unidos”, disse. “O mundo se tornou muito mais polarizado.”

Bolsonaro superou expectativas ao receber 46 por cento dos votos, quase 17 pontos acima de Fernando Haddad (PT), que ficou em segundo no primeiro turno, no domingo. Ele precisava de mais de 50 por cento para uma vitória no primeiro turno.

Investidores ainda temem que uma vitória do PT irá significar um retorno à economia comandada pelo Estado, que descarrilaria as reformas que o presidente Michel Temer (MDB) fez avançar parcialmente no Congresso. A vitória do partido de Bolsonaro sobre o PT na eleição do último fim de semana ajudou a valorizar ativos brasileiros

“Em jogo está um retorno às políticas intervencionistas do PT. Isto agora é menos provável, mas não impossível”, disse Alberto Ramos, chefe de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina.

“Se o mercado ficar mais confortável com implementação, há muito mais vantagem possível”, disse.

A reforma da previdência é o item mais importante nas mentes de investidores, disse Jim Craige, chefe de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners.

“Isto irá exigir destreza política da parte dele e nós ainda não sabemos o suficiente sobre ele para dizer com alto grau de convicção que isto será feito”, disse Craige.

“Isto irá se desenvolver conforme ele monta sua equipe”.

PACIFICADOR ORTODOXO

Bolsonaro transferiu suas políticas econômicas para seu provável ministro da Fazenda, o economista Paulo Guedes, treinado na Universidade de Chicago. A instituição é conhecida por suas visões conservadoras e ortodoxas sobre políticas econômicas. Ele abordou um número de executivos, a maioria de bancos, para eventualmente assumir posições em seu ministério.

“O mercado está dando o benefício da dúvida de que Bolsonaro será capaz de entregar algumas das coisas sobre as quais Guedes tem falado e está muito mais realista sobre o que está acontecendo. Privatizar tudo não vai acontecer”, disse Bernal.

O consenso geral entre analistas do mercado financeiro é que ainda há espaço para crescimento dos ativos brasileiros.