Pesquisadora sobre almas penadas em evento

Pesquisadora das histórias de fantasmas de Paraty, Thereza Maia tem certeza de que há mais mortos do que vivos a zanzar pelas ruas de pedra da cidade. ‘Até mesmo durante a Flip?’, perguntam. Ela não sabe essa resposta. “Mas eles estão aqui, sim”, diz. A historiadora foi convidada a falar das almas penadas da cidade […]

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Pesquisadora das histórias de fantasmas de Paraty, Thereza Maia tem certeza de que há mais mortos do que vivos a zanzar pelas ruas de pedra da cidade. ‘Até mesmo durante a Flip?’, perguntam. Ela não sabe essa resposta. “Mas eles estão aqui, sim”, diz.

A historiadora foi convidada a falar das almas penadas da cidade fluminense no último dia do festival literário, neste domingo (29). O tema ecoa a fase em que a escritora Hilda Hilst, homenageada da edição, tentou falar com os mortos.

Além de Maia, o debate contou com a presença do escritor baiano Franklin Carvalho, que também flerta com a morte; ele é autor do romance “Céus e Terra” (ed. Record), protagonizado por um menino-defunto.

“Cresci cercado de medos, mas houve uma hora em que achei que tinha que encarar isso”, conta o escritor. Seu personagem, Galego, é “um menino que sai do cemitério e começa andar pela cidade à procura do que falam do além”.

Autora de “Paraty: Encantos e Malassombras”, Maia empilhou histórias sobre os vários fantasmas e demônios da cidade. Os principais:

– A noiva sedenta. Após morrer de escarlatina, uma moça foi logo enterrada. O noivo, inconformado, dizia que a mulher morreu com sede. Anos depois, ao remexer nas catacumbas, viram que o caixão estava aberto e que sua mão implorava por algo. O fantasma dela ronda pela cidade com uma jarrinha, vai até o chafariz e volta.

– O dançarino do pé de cabra. Numa xiba (dança típica), conta-se que uma moça bailou a noite toda com um moço que tinha os pés de cabra. “O Coisa”, segundo Maia, morava numa gruta perto do mar e gargalhou que ninguém percebeu quem ele era. O pai da garota ficou preocupadíssimo; depois de ter dançado daquele jeito, ia ser difícil achar marido.

– O caso da rua Dona Geralda. Isso aconteceu no próprio sobrado em que mora a historiadora. Após uma desilusão amorosa, um tipógrafo deu cabo da sua própria vida num quartinho. Até hoje, diz, ouve-se o barulho das chaves que ele joga na mesa “após voltar do serviço”.

– A canoa dos 12. “É um terror do mar”, define Maia. Trata-se um barco com vários remadores alucinados. E nenhuma outra embarcação pode chegar perto deles, ou são derrubados.

– A canoa dos 30. Essa se refere ao navio em que noiva, noivo e convidados naufragaram no dia do casamento. Quem cruza o mar a caminho das ilhas locais pode ver os fantasmas dos náufragos convidando para uma grande festa.

A historiadora diz que não teve medo algum das histórias que ouviu. “Quanto mais contato eu tinha, mais eu gostava”, disse ela, que diz que o sobrenatural ronda a cidade desde que ela foi fundada.

“Quando o Diabo perguntou a Deus o que sobraria a ele na Terra, Deus apontou um lugarzinho no mapa: ‘É para ti’. É por isso que aguardente aqui é boa.”

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