Reuters

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, vai explorar na segunda etapa da disputa presidencial os escândalos de corrupção que envolveram o PT —como a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva— e intensificar a apresentação de propostas para conquistar novos eleitores que não o apoiaram na primeira etapa, colocando-se na posição de o único capaz de unir o país.

Bolsonaro já deu o tom da campanha ao partir para o ataque contra o adversário Fernando Haddad na transmissão ao vivo nas redes sociais após a confirmação do segundo turno, no dia 28. O ex-capitão do Exército disse que Haddad se aconselha com Lula na prisão —o presidenciável petista reuniu-se na manhã de segunda-feira com Lula.

“Nosso país é grande e próspero, não uma facção criminosa para ser comandado de dentro da cadeia”, disse na noite de domingo Bolsonaro, no Twitter. Ele encerrou o primeiro turno com 46 por cento dos votos válidos, ante 29 por cento de Haddad.

Na mesma linha de atacar as gestões petistas, a campanha do presidenciável do PSL, segundo pessoas ouvidas pela Reuters, vai insistir nos argumentos de que o país só vai piorar e se tornar uma Venezuela, caso o candidato do PT seja eleito. E que, ao contrário do que pregam, Bolsonaro vai buscar a união do país e que é a única candidatura capaz de propor mudanças que vão reaquecer a economia e gerar novos postos de trabalho.

O candidato a presidente do PSL deverá usar as redes sociais e, a partir de sexta-feira, a propaganda eleitoral no rádio e na TV para fazer campanha. Agora ele contará com tempo igual ao do adversário nesses meios de comunicação, longe dos exíguos 8 segundos do primeiro turno.

O presidenciável já disse publicamente que pretende participar dos debates no segundo turno —ele só foi a dois na primeira etapa, porque foi alvo de uma facada que o deixou hospitalizado durante três semanas. Mas essa decisão de enfrentar pessoalmente Haddad vai depender de autorização dos médicos, uma vez que se recupera das perfurações no abdômen.

DIFERENÇAS CRISTALINAS

Embora tenha destacado a expressiva vitória de Bolsonaro no primeiro turno, o presidente licenciado do PSL e deputado federal eleito, Luciano Bivar (PE), afirmou que a disputa final contra Haddad não será fácil.

Para Bivar, as três semanas a mais vão servir para que fiquem cristalinas as diferenças entre os projetos. A falta de apresentação de ideias por Bolsonaro foi uma das principais críticas de adversários no primeiro turno.

Segundo Bivar, a intenção é explorar dicotomias como o bem contra o mal, a liberdade de agir contra um povo estatizado, os recursos públicos na mão de poucos contra a descentralização de verbas, a economia de mercado aberta e outra fechada.

“Por um lado, a gente está sendo coordenado por um homem que dedicou a vida toda dele à retidão, a trabalhar pelo bem sem nenhuma mácula de corrupção. E o outro partido é ‘presidido’ por um presidiário. Então a diferença é brutal, é brutal. Eu não tenho a menor dúvida que dia 28 nós teremos a homologação do nosso Jair Bolsonaro eleito como presidente da República”, disse.

Segundo Bivar, as derrotas de Bolsonaro na votação no Nordeste ocorreram em razão dos resultados no interior. Ele afirmou que, de modo geral, nas capitais e regiões metropolitanas, a candidatura teve mais votos que o PT. Ele aposta que a onda Bolsonaro vai se alastrar no interior nordestino. O presidenciável já destacou em pronunciamentos e em redes sociais vitórias que teve em locais da região, um tradicional reduto petista.

“Hoje mesmo recebi ligação de vários prefeitos do sertão já querendo aderir à candidatura do Jair Bolsonaro”, disse.

“Estava tudo muito infiltrado e fake o que eles faziam. Todos esses programas sociais eles diziam que era o PT e não era o governo, o país, mal sabendo eles que aquilo eram engodos para manter aquela massa de manobra o que vai ser diferente”, disse.

“Vamos continuar estimulando o Bolsa Família, mais habitação, tudo isso vai ser muito melhor para o nordestino do que esse governo passado que teve aí”, completou.

Segundo o cientista político da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Kramer, que participa do chamado Grupo de Brasília —núcleo de especialistas, cientistas políticos, militares e civis que, coordenados pelo general da reserva do Exército Augusto Heleno, elabora estratégias de campanha para Bolsonaro— a narrativa do candidato deve se voltar agora aos eleitores de centro-direita que votaram em outros nomes no primeiro turno.

A ideia é reforçar a rejeição a Haddad e ao petismo, utilizando tanto o discurso do combate à corrupção, quanto o da submissão do petista a Lula, preso em Curitiba após condenação no caso do tríplex no litoral de São Paulo.

“O Haddad é prisioneiro do aparelho”, avaliou.

“A única opção para o chamado campo democrático na política brasileira, na sociedade brasileira, é ele, o Bolsonaro. Por quê? Porque o Bolsonaro acredita que todo o poder emana do povo, enquanto o Haddad acredita que todo o poder emana da cadeia”, explicou.

O candidato do PSL já usou as redes sociais nesta segunda-feira para afirmar que não vai “colar” a tentativa de se dividir o Brasil. Ainda assim, em entrevista nesta manhã à rádio Jovem Pan, ele disse que não vai virar o ‘Jairzinho Paz e Amor’, em referência à suavização da imagem que Lula passou em 2002.

“Olha só, eu não posso virar o ‘Jairzinho Paz e Amor’ e me violentar. Eu tenho que continuar sendo a mesma pessoa. É lógico que a gente usa sinônimos, de vez em quando eu falava palavrões, eu não falo mais”, disse Bolsonaro.