Senadores estão entre beneficiários de US$ 40 milhões em propina, diz MPF

Operação Blackout, a 38ª fase da Lava Jato, mira operadores financeiros ligados ao PMDB

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Operação Blackout, a 38ª fase da Lava Jato, mira operadores financeiros ligados ao PMDB

A 38ª fase da Operação Lava Jato, a Operação Blackout, que tem como alvos dois operadores ligados ao PMDB, apura o pagamento de US$ 40 milhões de propinas ao longo de dez anos. Entre os beneficiários estão senadores, outros políticos e diretores da Petrobras, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

A operação mira os operadores financeiros ligados ao PMDB, Jorge Luz e o filho dele Bruno Luz, investigados pelos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas, lavagem de dinheiro dentre outros. Segundo a PF os dois estão nos Estados Unidos, um deles desde agosto de 2016 e o outro desde janeiro. O delegado Maurício Moscardi Grillo disse que os nomes de Jorge e Bruno foram incluídos na difusão vermelha da Interpol.

Em nota, o PMDB informou que os operadores “não têm relação com o partido e nunca foram autorizados a falar em nome do PMDB.

O procurador da República Diogo Castor de Mattos disse que a PF vai entrar em contato com autoridades estrangeiras para que Jorge e Bruno voltem ao Brasil espontaneamente ou por meio de processo de extradição. Bruno Luz tem cidadania portuguesa.

O procurador disse que o pagamento de propina investigado nessa fase foi feito a “agentes [políticos] com foro privilegiado” e, por esse motivo, não podem falar quem foram os beneficiários.

As investigações identificaram o pagamento de US$ 40 milhões a a agentes públicos e agentes políticos, principalmente ligados ao PMDB.

De acordo com as investigações, os operadores foram identificados como facilitadores na movimentação de recursos indevidos pagos a integrantes das diretorias da Petrobras. A dupla também é suspeita de utilizar contas no exterior para fazer repasse de propinas a agentes públicos, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

Os mandados protocolados pela força-tarefa tiveram como base principal os depoimentos de colaborações premiadas reforçados pela apresentação de informações documentais, além de provas levantadas por intermédio de cooperação jurídica internacional.

“Entre os contratos da diretoria Internacional, os alvos são suspeitos de intermediar propinas na compra dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000; na operação do navio sonda Vitoria 10.000 e na venda, pela Petrobras, da Transener para a empresa Eletroengenharia”, disse o MPF.

Para realização dos pagamentos de propina de forma dissimulada, a dupla utilizava contas de empresas offshores na Suiça e nas Bahamas, ainda de acordo com o MPF.

“As prisões foram decretadas para garantia de ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, tendo em conta a notícia que os investigados se evadiram recentemente para o exterior, possuindo inclusive dupla nacionalidade”, disse o procurador Diogo Castor de Mattos.

Ao autorizar a 38ª fase, segundo o MPF, o juiz federal Sérgio Moro destacou que o caráter serial dos crimes, com intermediação reiterada de pagamento de vantagem indevida a diversos agentes públicos é indicativo de atuação criminal profissional.

Cerveró diz que recebeu propina através de Jorge Luz

Em seu primeiro depoimento na condição de delator da Lava Jato, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou ao juiz Sérgio Moro que o senador Renan Calheiros, do PMDB, recebeu propina de dinheiro desviado da Petrobras através de Jorge Luz.

“O Jorge Luz era um operador dos muitos que atuam na Petrobras. Eu conheci o Jorge Luz, inclusive nós trabalhamos, também faz parte de uma propina que eu recebi, que faz parte da minha colaboração na Argentina. E foi o operador que pagou os US$ 6 milhões, da comissão. Da propina da sonda Petrobras 10.000, foi o Jorge Luz encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros…”, disse Cerveró. A assessoria de Renan Calheiros disse que ele nega irregularidades.

Conforme a PF, o nome da operação é uma referência ao sobrenome dos dois operadores.

“A simbologia do nome tem por objetivo demonstrar a interrupção definitiva da atuação destes investigados como representantes deste poderoso esquema de corrupção”, disse a PF. Os presos serão levados para a Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

O que dizem as defesas

Em nota, a assessoria de imprensa do senador Renan Calheiros reafirmou que a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é zero.

“O senador reitera ainda que todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais. Embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há dez anos”, diz a nota.

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