Perfil já soma mais de 176 mil seguidores

“Eu queria mostrar que o ainda é tratado de forma muito natural pela sociedade. Mesmo ele estando presente todos os dias nas nossas vidas — em músicas, nas ruas, no trabalho, ainda passa despercebido por nós”.
 
Esse é o motivo pelo qual a advogada Camila Queiroz, 25 anos, criou a página Arrumando Letras, no Facebook. Nos posts, ela altera letras machistas de canções brasileiras que estão populares na mídia. Em apenas quatro dias, o perfil já soma mais de 176 mil seguidores. Entre os autores já citados estão Zeca Pagodinho, Henrique e Juliano, Matheus e Kauan e Henrique e Diego. 

Camila começou a questionar as músicas que cantava e a compartilhar em seu perfil pessoal as composições já “corrigidas”. Até que um dia resolveu divulgar uma dessas análises em um grupo privado da redes social, que viralizou. “Percebi então que seria legal se as pessoas pudessem ter acesso e compartilhar essas ‘novas' letras”, justificou.
 
A advogada criou a página na última sexta-feira (24/3). O post mais popular até o momento foi sobre a música Ciumento Eu, da dupla sertaneja Henrique e Diego. Segundo Camila, “não deu para salvar nada nela”. “Ciúme não, excesso de cuidado. Repara não, se eu não saio do seu lado. Tem uma câmera no canto do seu quarto, um gravador de som dentro do carro. E não me leve a mal se eu destravar seu celular com sua digital”, dizia a canção.  

Nascida em Capitão Leônidas Marques, um município do Paraná com 15 mil habitantes, Camila atualmente mora em Curitiba. Apesar de ter saído de uma cidade pequena, ela conta que foi vítima do machismo igualmente nas duas localidades: “Alguns homens ainda seguem a linha do patriarcado, mas nas cidades grandes convivi com pessoas instruídas que exerciam o machismo velado. E, sinceramente, eu não sei qual é pior”. 

Feminista, a paranaense se inspira nas mulheres com as quais conviveu em sua cidade natal para continuar na militância. Personalidades simples, mas fortes, que mesmo sem levantar qualquer bandeira,consegue se empoderar e lutar por direitos iguais aos dos homens. Até os 19 anos, a consciência de independência e igualdade foi criada através dessas personagens, protagonistas da vida de Camila. 

“Minha mãe sempre trabalhou fora e sustentou a casa. Minhas vizinhas são donas de casa e líderes da comunidade. A mãe da minha melhor amiga foi mãe solo e, contra tudo e todos, batalhou para ser independente. São nessas mulheres nas quais me inspiro”, orgulha-se.  Com a página, a jovem espera conscientizar o maior número de pessoas possíveis a respeito de atitudes abusivas, sexistas e limitadoras.