‘O juiz Sérgio Moro está orientado por Deus’, afirma João de Deus, médium goiano
Religioso atende 1,5 mil pessoas por dia
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Religioso atende 1,5 mil pessoas por dia
Ao entrar no pátio da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, sob o sol a pino, parece que mergulhamos em um outro tempo. Saímos da cidadezinha do interior de Goiás e ingressamos em um espaço onírico. As figuras vestidas de branco movem-se lentamente e com extremo cuidado. Cada passo, cada gesto ou movimento é calculado meticulosamente. A razão da cautela e do silêncio reverencial é que os visitantes têm consciência de estar pisando em um território sagrado.
Os frequentadores formam uma comunidade internacional de brasileiros, norte-americanos, chineses, alemães e franceses, entre outros. Tudo gravita em torno do médium goiano João de Deus, reconhecido internacionalmente na condição do maior curador vivo da atualidade. Para milhares de pessoas do mundo inteiro, ele é John of God.
Com a colaboração de uma corrente espiritual de voluntários, João de Deus atende, em média, 1.500 pessoas por dia, todas as quartas, quintas e sextas-feiras. A corrente de voluntários ajuda na incorporação de entidades e na execução de cirurgias espirituais que desafiam e colocam em questão os limites da ciência racionalista. O fato é que inúmeros testemunhos atestam a eficácia das intervenções de João em pessoas desenganadas pela medicina oficial: “Nunca atendi ninguém. Quem atende é Deus. Nunca curei ninguém. Quem cura é Deus. Eu sou só o mensageiro”.
As salas imaculadamente brancas exalam a fragrância de ervas aromáticas. Na Casa Dom Inácio de Loyola, João recebe tanto personagens anônimos, quanto celebridades nacionais e internacionais, sem distinguir credo, cor ou religião. A lista de visitantes inclui Oprah Winfrey, a mais famosa apresentadora da televisão americana, o cantor Paul Simon, o ex-presidente Lula, a atriz Giovanna Antonelli, o ministro do STF Luís Roberto Barroso, entre outros. Todos têm de obedecer às regras, pegar as filas, se alimentar da mesma comida e calçar as sandálias da humildade.
No ano passado, João enfrentou mais uma dura prova: venceu um câncer agressivo e superou a doença. Quinta-feira passada, ele recebeu o Correio para uma conversa. Mas não espere uma entrevista convencional. Aos 74 anos, João de Deus se movimenta livremente inspirado pela vontade, pela intuição ou pelas orientações das entidades que recebe.
Provoca, brinca, se comove, chora, ri e inverte as posições de entrevistado e entrevistador. Não fala de política, mas, de repente, emenda uma opinião desconcertante: “O juiz Sérgio Moro está orientado por Deus”. João é afetuoso, divertido, bravo, bem-humorado e imprevisível. E parece animado por uma fé capaz de abalar montanhas de ceticismo: “Se você tem certeza de que tem Deus dentro de você, nada é impossível, tudo se resolve”.
Como era a vida do senhor em Brasília?
Eu e o dono de postos de gasolina, o senhor Braz Bueno, gostávamos muito de comer a feijoada que uma senhora do Rio de Janeiro fazia na W3 Sul. A vida era comer churrasquinho na casa do outro. Em Brasília, mexia com fazenda, perto de Taguatinga. Naquele tempo, todos invadiam as terras. Eram todas doadas pelo governo.
Qual a visão que o senhor tem de Brasília?
Brasília é a pátria do evangelho. Nós temos amor, acreditamos em Deus; e, em Brasília, estão todas as seitas religiosas.
Como é a história do senhor com Brasília?
Morei na Cidade Livre e morei no Cruzeiro Novo, quando era abandonado, os militares não queriam ir para lá. Eu fui o primeiro morador que se mudou para o Cruzeiro. Eu tenho uma história de amor por Brasília e pelo povo de Brasília.
(João de Deus mostra uma declaração de um delegado da polícia. A autoridade atesta que conhecia João Teixeira de Farias, conhecido por João de Deus, pessoa honrada, um verdadeiro escravo da caridade, trabalhando incansavelmente em favor dos menos favorecidos da sorte, lhes dando amparo.)
Por que o senhor precisava das declarações de honradez e da caridade da sua atividade espiritual de cura?
Se eu chegasse em um lugar e fosse atender o povo, primeiro tinha de visitar as autoridades. Vou te mostrar um documento. Revela que fui embargado em uma cidade em um domingo. Na segunda-feira, houve resposta. O povo fez um movimento e as autoridades suspenderam o embargo. Se não fosse o aval dos delegados de polícia e de outras autoridades, eles me prenderiam e me bateriam.
Existiram momentos particularmente difíceis em sua vida? Como o senhor encarou e encara esses momentos?
Se você tem certeza que tem Deus dentro de você, nada é difícil, tudo se resolve.
“Nunca curei ninguém. Quem cura é Deus”
O senhor tem alguma explicação para o processo de cura das pessoas que atende?
Nunca atendi ninguém, quem atende é Deus. Nunca curei ninguém. Quem cura é Deus. Vou te falar um negócio muito sério. Quem é responsável pela minha missão são vocês, os jornalistas. Todos me ajudaram. Nunca vi uma operação. Sou um inconsciente. Nunca uma pessoa bate e eu fecho as portas. Fora do centro, sou uma pessoa comum. Nos outros dias, mexo com garimpo, com fazenda, vivo trabalhando.
A sua inspiração espiritual foi Chico Xavier?
A minha inspiração foi Santa Rita de Cássia. É a minha protetora. Quando tinha oito anos, fui visitar o povoado de Nova Ponte, com a minha mãe. De repente, avisei à minha mãe que estava vindo uma grande tempestade, que destruiria muitas casas no vilarejo. E isso aconteceu mesmo. Uma tromba d’água arrasou com umas 40 casas. Eu vi a ventania e a chuva. Comecei a dizer que fulano ia morrer, e morria. O povo me chamava de bruxinho.
O senhor gosta do papa Francisco?
Gosto muito, porque sempre prega a palavra de Deus, sempre prega só amor e caridade.
Estamos vivendo em um mundo conturbado, em que parece que a injustiça vai vencer e o crime compensa. Como o senhor vê essa situação?
Quando vejo muita chuva, espero uma boa colheita.
Mas isso não pode afetar a vida das pessoas?
Levo amor, caridade e equilíbrio.
O senhor acha que, apesar de todos os problemas, a vida melhorou da sua infância até agora?
Há 30 ou 40 anos, a gente trabalhava um dia para comprar um quilo de toucinho. Hoje, compra um porco inteiro. A solução é trabalho e estudo.
“Não falo de política”
O senhor já fez menções elogiosas ao juiz Sérgio Moro. Ele é admirável em que sentido?
Carrego duas bandeiras no peito: a bandeira do Brasil e a da Polícia Federal. Se o juiz saísse para ser candidato a presidente da República, traria esperança e fé. E saberia repassar o que recebeu da família. Ele tem berço de família.
Seria o melhor para o Brasil?
Gosto de você, a casa é sua, mas não falo de política. O político foi escolhido pelo povo, não foi escolhido por mim.
Por que o senhor tem uma foto do governador Rollemberg na parede?
Este moço é um homem bom (fala apontando para a foto de Rollemberg pendurada na parede da sala de visitas). Ele é humilde, simples e honesto. Enfrentou um período de dificuldade, mas já se recuperou. Ele bate o joelho na pedra todos os dias para pedir, com orações, pela família e por Brasília. Não pensem que é fácil administrar a capital da República. Este moço é responsável e do bem.
E o senhor fala sobre os médicos?
Os médicos são missionários de Deus. Eu gosto também dos jornalistas. Nunca vi jornalista rico. Você trabalha seis dias para comer churrasco e contar piada. E eu estou no meio. Eu devo a vida aos jornalistas.
E por quê?
Eles falam a verdade e a mentira. Não é o que a pessoa é; é o que está fazendo. Os jornalistas vêm aqui umas duas ou três vezes, observam, investigam, analisam e se tornam meus amigos. Jornalista não gosta de dinheiro. Oferece dinheiro a jornalista para ver a m… que dá. (risos)
“Deus me quer mais um pouquinho aqui na Terra”
Recentemente, o senhor enfrentou um câncer agressivo e superou. A doença é uma prova de fogo?
Não tive doença, acredito no poder de Deus. Eu fui ao médico e pedi: quero que você veja o que está pinicando a minha barriga. Ele olhou e disse: você tem mesmo algo, é coisinha à toa. Eu respondi: não, pelo amor que você tem à sua mãe. Bota aquela sonda que entra pela boca e examina o que está acontecendo. Aí, ele disse: “Você tem 15 dias de vida, porque o seu sangue já foi embora. Respondi: “Então, tira os meus olhos e os meus órgãos e doa. Ele comentou: “Você não aguenta operação”. Falei: aguento, pode operar”. Depois de certo tempo, ele olhou e mostrou: ficou um corte na barriga. Dois meses depois, não tem nada, nenhuma marca (João levanta a camisa e mostra a barriga). O doutor Rômulo comentou: é de encabular, tiramos um pedaço do seu estômago e não tem nenhum sinal. Eu queria fazer uma cirurgia plástica para restaurar a pele, mas não foi preciso.
A que o senhor atribui a cura?
Acredito que Deus me quer mais um pouquinho aqui na Terra. Não acredito na morte.
Por que o senhor recebe nesta casa de saúde pessoas de todas as religiões?
Acredito em Deus, acredito em Moisés, acredito em Buda. Jesus tem 2 mil anos. Mas a cultura japonesa tem 10 mil anos. Eu tive a honra de ir aos Estados Unidos para conhecer a primeira igreja adventista. E tiro o chapéu. Só não concordo com o dízimo. Em minha casa, quem quiser ajuda.
Falta perdão na vida das pessoas?
Perdão sempre. Porque, sem o perdão, você não consegue nada.
De que maneira uma pessoa descobre a missão que tem de cumprir na Terra?
Minha missão é criar uma menina, que faz aniversário amanha. Todas as pessoas que acreditam no que eu falo e faço são meus filhos. Estou feliz, porque mandei o terno para um filho que se formou advogado. Ele vai brilhar, vai ser honesto.
O que é a morte para o senhor?
A morte não é nada, acredito na vida eterna. A morte é não acreditar em você mesmo. Você tem um sobrinho e gosta. Você não ajuda porque é bonito. Ajuda porque acredita no poder maior. Esse Moro está sendo orientado por Deus.
O senhor acha que a fé é um ato de vontade ou é um dom?
A sua vontade é pouca ou muita?
É muita.
Então, você acredita, então, você tem muita fé.
E a fé em Deus, como se manifesta?
Na sua casa, você tem quantas pessoas?
Tenho seis pessoas.
Tem filha?
Sim
Gosta dela?
Muito!!!
Então, você ama muito a Deus.
“Para mim, todos (que atendo) são iguais”
E como foi a sua infância?
Com 10 anos de idade, fazia calça, trabalhava em alfaiataria. Fui servente de pedreiro, sei fazer casa, mexi com fazenda e com garimpo. Uma coisa que nunca aprendi foi roubar.
O que representa o roubo do ponto de vista social? O que é o roubo?
É nada, porque não se aproveita de nada. Quem faz isso acaba em nada.
O senhor pensa em sucessores para a casa quando o senhor desencarnar?
Cristo pregou com 12 anos de idade, encarou os doutores. Ele só se dedicou a transmitir uma doutrina durante dois anos, dos 30 aos 31 anos. Eu pergunto: qual o sucessor de Cristo? Hein?
O senhor recebe pessoas anônimas e celebridades nacionais e internacionais. Para o senhor, existe alguma diferença?
Para mim, todos são iguais. Você entra e vê como são atendidas todas as pessoas.
O senhor é uma pessoa conhecida no mundo inteiro. O senhor se sente feliz?
Não parei para pensar. Só cumpro a minha missão. No Aeroporto em Goiânia, falei com a moça da recepção, que não estava me tratando bem. Aí, botei óculos escuros, fui lá e disse: deixa o ceguinho passar. Aí, ela falou: tudo bem.
Existem instantes na vida em que a gente não vislumbra nenhuma perspectiva. O que recomenda fazer nesses momentos?
Sentar, meditar e pensar no criador que é Deus, que é pai de todos. Acredito em Deus, no poder da luz, Deus é o que você respira, está dentro de você.
Andanças de um devoto de Santa Rita
João de Deus guarda com zelo documentos em uma pasta. Neles, é possível ler recomendações de delegados, de juízes e de políticos atestando a idoneidade, a eficácia, a compaixão e a generosidade de suas cirurgias espirituais, oferecidas a todos os necessitados, sem qualquer pagamento. É que, durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, ele chegou a ser perseguido muitas vezes em razão da denúncia de médicos. Na astúcia de sertanejo, descobriu que as recomendações de autoridades eram a melhor salvaguarda para garantir o direito de realizar a obra de caridade.
Em certa ocasião, foi abordado pela polícia, levou bordoadas violentas e ficou preso. Mas, ao receber o delegado para se submeter a interrogatório, João incorporou uma entidade que se sensibilizou com a injustiça. Toda a dor cruciante que sentia foi transferida para o delegado. Atormentada, a autoridade não teve outra alternativa e determinou a soltura de João.
João de Deus morou em Brasília nos tempos pioneiros da cidade, primeiro na Cidade Livre e, em seguida, no Cruzeiro. Ele diz que leva um pedaço de Brasília a todos os lugares por onde vai. Conheceu o então presidente Juscelino Kubistchek, que era médico, mas sempre se interessou por tratamentos espirituais e prestigiou João. Apresentou o médium a pessoas influentes, que permitiram que João trabalhasse com mais tranquilidade em face das denúncias de exercício ilegal da medicina.
Em razão das pressões de padres da igreja católica, João de Deus cogitou mudar a sede para outra cidade, em 1983. No entanto, ele foi convencido a permanecer graças a um bilhete do médium Chico Xavier, que reafirmou Abadiânia como lugar ideal para o centro: “Prezado João, caro amigo, Abadiânia é o abençoado recinto de sua iluminada missão e de sua paz”. Mas João segue inabalável na postura de acolher pessoas de todas as religiões na Casa Dom Ignácio: “Sou o primeiro médium no mundo a ser ordenado na condição de curador espiritual pela igreja católica”, orgulha-se João, mostrando o diploma em uma pasta.
João é devoto de Santa Rita de Cássia e de Dom Ignácio de Loiola. Quando tinha 16 anos e vagava sem emprego pelo Mato Grosso do Sul, faminto e desconsolado, entrou em um rio para tomar banho. Lá, teve uma visão com a encantadora santa. Na esperança de reencontrá-la, retornou ao local no dia seguinte. No entanto, em vez da santa, recebeu uma mensagem espiritual orientando para que procurasse o Centro Espírita Cristo Redentor, em Campo Grande. Essa peregrinação iniciática fez com que, desde a adolescência, João se identificasse com Dom Ignácio de Loyola, o santo que abandonou a vida de fidalgo e preferiu a errância e a mendicância. Em 1976, criou a Casa de Dom Ignácio de Loiola, em Abadiânia, que provocou uma mudança radical na cidadezinha, a 119 Km de Brasília, transformada em centro de visita internacional.
Devo muito do que sou aos jornalistas
“Eu tenho muito carinho pelo Correio Braziliense, porque, quando morei em Brasília, sempre fui tratado com respeito pelo jornal. Depois, quando vim para Abadiânia, o Correio também me deu apoio, mostrou de forma verdadeira o que eu estava fazendo aqui. Os jornalistas me projetaram para o Brasil e para o mundo. Devo muito do que sou aos jornalistas e ao Correio. O jornal faz um jornalismo de qualidade e tem compromisso com os leitores. Guardo todas as reportagens e fotos que saíram no jornal desde sempre (mostra uma pasta com documentos e reportagens). A foto de que mais gosto é uma daquele japonês (Tadashi Nakagomi, autor da foto abaixo). Sem os jornalistas, não seria possível eu ajudar tantas pessoas na Casa de Dom Inácio.”
Moro está sendo orientado por Deus
“Se Sérgio Moro sair candidato à presidência da República, vocês vão ver o que vai acontecer. Ele traz esperança. Ele faz o que é necessário, ele age na correção e não teme as perseguições. Ele é um homem que estudou, que sabe a importância da educação que a família deu para ele, que sabe reconhecer valores, que tem berço de família. A presidência não é para qualquer um. Ele tem estudo, é um homem respeitável e honesto. O Moro está sendo orientado por Deus.”
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