Uma tia diz que o engenheiro já tinha ameaçado o filho de morte

Amigos e parentes do estudante universitário Guilherme Silva Neto, de 20 anos, que foi morto pelo pai, o engenheiro Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos, em Goiânia, dizem que a relação dos dois sempre foi conturbada. Segundo relatos, o homem , que se suicidou após atirar no filho, pressionava o jovem constatemente por ser contra a ligaçao dele com movimento sociais.

Gabriel Soares, um amigo do rapaz, conta que Guilherme fazia desabafos sobre os prblemas que tinha em casa. “Ele contava sobre os abusos psicológicos que o pai dele fazia. Ele xingava bastante o Guilherme. O pai não sabia aceitar o posicionamento dele”, disse.

Uma tia da vítima, que prefere não quer se identificar, contou que o engenheiro era possessivo e já tinha até ameaçado matar o filho, mas ninguém nunca imaginou que a promessa seria cumprida.

“Nunca imaginei que ele fosse fazer isso que ele fez, achava que era terrorismo. O menino tinha horário para chegar. Se ônibus atrasasse, ele já ficava mandando mensagem o tempo inteiro. Desde criança ele foi preso, não teve vida. Era criança e não podia sair de casa e brincar com os amigos dele. Só fui sair com ele agora, com 20 anos, uma única vez. Levei ele em uma festa. Nunca sai com meu sobrinho. Porque o pai nunca deixou. Nem eu ir no cinema. Ele era muito possessivo”, contou.

A tia ainda diz que a mãe de Guilherme, a delegada aposentada Rosália de Moura Rosa Silva, está muito abalada com o crime. “A vida da minha irmã acabou. Porque ela só tinha ele [Guilherme] de filho. E ela viveu esse tempo todo com esse homem, esse psicopata, por medo”, relatou.

O corpo do estudante foi enterrado na tarde de quarta-feira (16) no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. Familiares e amigos, que acompanhavam Guilherme em protestos e ocupações de escolas, estiveram no local para se despedir dele. Já o corpo do pai foi enterrado no Cemitério Vale da Paz, sem velório.

O jovem estudava matemática na Universidade Federal de Goiás (UFG). Na manhã desta quarta-feira, estudantes que ocupam o campus Samambaia fizeram um protesto e aproveitaram para homenagear o estudante. Em uma das paredes do campus foi pichada a frase: “Guilherme eterno. Lutar sempre, desistir jamais!”.

Conforme consta no registro de ocorrência, Alexandre não concordava com o comportamento e o modo de ser do filho, considerado “alternativo e revolucionário”. Guilherme era ligado a movimentos sociais, incluindo as ocupações de escolas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que estabelece teto para o aumento dos gastos públicos.

Em uma conta nas redes sociais, Guilherme demonstrava interesse em assuntos ligados a questões sociais e política. Além disso, ele também participava de comunidades de assuntos como o fim da cultura do estupro, legalização do aborto e se posicionava contra a gestão de Organizações Sociais (OSs) na Educação.

Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que “lamenta profundamente” as mortes de Guilherme e de Alexandre e que presta solidariedade e respeita o luto da família e amigos. O órgão ressalta que, embora o caso tenha relação com a relação entre pai e filho, “enxerga com preocupação” o fato de que a briga tenha sido motivada por discussões sobre preferências políticas.

A UNE destacou ainda que é necessário “reafirmarmos o diálogo e a democracia como principal saída para os diferentes pensamentos existentes na sociedade”.

Crime

O crime aconteceu na terça-feira (15), na esquina da Rua 25-A com a Avenida República do Líbano, na quadra acima de onde a família mora. De acordo com a Polícia Civil, o homem baleou o filho, que fugiu, mas foi perseguido e alcançado. Após matar Guilherme, Alexandre se debruçou sobre ele e atirou contra si. O engenheiro foi socorrido e levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas também morreu.

Conforme o delegado Hellynton Carvalho, o engenheiro proibia o rapaz de ocupar escolas. “Parentes disseram que os dois tinham conflitos recorrentes, mas o que culminou na tragédia foi uma briga pelo fato do pai tentar impedir que o filho participasse da ocupação de uma escola”, relatou.