Elize Matsunaga é condenada a 19 anos de prisão por matar e esquartejar o marido
Julgamento durou sete dias e foi um dos mais longos da história da Justiça de São Paulo
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Julgamento durou sete dias e foi um dos mais longos da história da Justiça de São Paulo
A justiça de São Paulo condenou na madrugada desta segunda-feira (5) a bacharel em direito Elize Matsunaga a 19 anos, 11 meses e 1 dia de prizão em regime fechado, por ter matado e esquartejado o marido, Marcos Kitano Matsunaga, diretor da Yoki alimentos. A pena máxima prevista para os dois crimes era de 33 anos de reclusão, mas o Conselho de Sentença eliminou duas das três qualificadoras no homicídio. Apesar de comemorar o entendimento dos jurados, a defesa de Elize considerou a pena alta e vai recorrer.
O julgamento durou sete dias e foi um dos mais longos da Justiça de São Paulo, demorou mais do que outros casos de repercussão, como o de Suzane Richthofen, Gil Rugai e do casal Nardoni. O júri foi formado por quatro mulheres e três homens. Eles ficaram reunidos por mais de 2h30 para definir o julgamento. Várias vezes, os comentários atravessados arrancaram risadas da plateia, composta principalmente por estudantes de Direito. O juiz Adilson Paukoski deu a sentença às 2h07 desta segunda-feira.
Responsável pela acusação, o promotor José Carlos Cosenzo chegou a declarar que iria considerar uma “derrota”, caso Elize fosse condenada a menos de 25 anos de prisão. O júri, no entanto, entendeu que o recurso que impossibilitou a defesa da vítima foi o único agravante do homicídio.
Os jurados derrubaram as qualificadoras de motivo torpe e meio cruel. Ou seja, para eles, Elize não agiu por interesse financeiro e nem por vingança, após descobrir a traição do marido. Também não ficou provado para o Conselho de Sentença que Marcos estava vivo quando foi esquartejado.
O crime aconteceu em maio de 2012, no apartamento do casal, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Aós ser baleado na cabeça, o executivo teve o corpo cortado em sete partes, jogadas à beira de uma estrada em Cotia, na Grande São Paulo.
O juiz Adilson Paukoski, da 5ª Vara do Júri, estabeleceu pena de 18 anos e nove meses pelo homicídio qualificado, além de um ano e dois meses por destruição e ocultação de cadáver.
O depoimento do médico legista Sami El Jundi, convocado pela defesa, foi fundamental para a defesa de Elize. O especialista foi responsável pelo relato mais longo do júri. Falou por mais de nove horas e foi o único dos peritos a afirmar que Marcos morreu imediatamente após ser baleado no cabeça.
Ao convencer os jurados, a testemunha afastou a hipótese de que o crime foi cometido por meio cruel. Para Cosenzo, a quantidade de laudos sobre a morte de Marcos atrapalhou na decisão. “São muitos termos técnicos, é difícil para o júri acompanhar”, disse. Ao todo, 16 testemunhas prestaram depoimento.
Ré confessa, Elize foi ouvida em um interrogatório que durou mais de quatro horas, mas não respondeu às perguntas da acusação. Ela chorou ao lembrar do passado como garota de programa, da filha do casal, hoje com 5 anos, e também dos xingamentos de Marcos. “Deus sabe do meu coração. Se eu tenho de aprender mais alguma coisa, Ele sabe”, afirmou.
A fase de debates foi conturbada, com réplica e tréplica. A acusação investiu em elementos para emocionar o júri e explorou o sofrimento que a morte causou aos familiares do empresário. “Elize, quando sair do cárcere, encontrará sua Helena. Mas isso jamais acontecerá com a mãe do Marcos”, afirmou o advogado Luiz Flávio D’urso, assistente de acusação.
Já o promotor Cosenzo, que usou parte do tempo para recitar poemas e fazer reflexões sobre morte, lembrou a dimensão que o crime ganhou. “Sem as qualificadoras, ela sairá daqui na frente de vocês, como quer a defesa”, disse aos jurados. “O Brasil todo está esperando uma decisão de vocês.”
Por sua vez, os advogados de defesa tentaram reconstruir o passado humilde de Elize, como uma menina que saiu do interior do Paraná e se prostituiu para pagar a faculdade. Sustentando a tese de que ela havia reagido a uma provocação injusta, a defesa abordou questões de violência doméstica. “Nem sempre a violência é física. O olho roxo desaparece; o sentimento, jamais”, afirmou o advogado Luciano Santoro.
Santoro chegou a pedir aos jurados que considerassem Elize culpada, mas por homicídio simples. “Ela merece ser condenada, mas merece ser condenada pelo que cometeu”, disse.
Na sustentação, a defesa também jogou com a dúvida. Sustentou que haviam apenas suposições sobre a dinâmica do crime, mas que não havia provas apresentadas pela promotoria. De certo, apenas que Elize matou e esquartejou o marido – e porque ela mesmo confessou. “Aqui é lugar de certeza, e não de ‘possivelmente’”, afirmou Santoro.
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