Crise alcança até o mercado do sexo no DF
O mercado está parado
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O mercado está parado
È quase fim de tarde, e Sandra ainda não atendeu um cliente. Sentada na escada, ela mexe no celular para passar o tempo. Espera a chuva, o frio e a crise irem embora. Há tempos, a garota de programa não vê o antigo hotel, no centro de Taguatinga, tão vazio. “Está muito difícil. O mercado está parado. Não é mais como antigamente. Estamos até fazendo desconto para ver se o cliente fica”, conta a mulher de 31 anos. Para ela, 2015 foi o ano menos lucrativo desde que entrou para o mercado do sexo, há nove anos. “A crise atingiu a todos”, salienta.
Sandra lembra que, há dois anos, conseguia lucrar, no mínimo, R$ 6 mil por mês. Agora, lamenta: “Se eu faço R$ 3,5 mil é muito”. Segundo a garota de programa, os clientes estão sem dinheiro e pedem descontos. E, para não perder freguês, ela negocia: “Se for cliente antigo, faço mais barato. Por exemplo, normalmente, são R$ 65, com quarto no hotel, por uma hora. Se for uma pessoa antiga, amiga, digamos assim, tenho feito por até R$ 50. O que não dá é para perder os clientes”.
Site de acompanhantes
E na tentativa de não ficar para trás no mercado, Sandra apelou para sites que oferecem acompanhantes. Mas, para ela, não deu certo. “Eu estava em um que nos oferecia só R$ 50. Só que, em site, acaba saindo mais caro, porque tem o táxi, o motel. Mas eles insistiam em dar só R$ 50 . Então, saí de lá, tirei meu perfil”, fala. O jeito foi voltar para as ruas, onde, segundo ela, perde-se menos dinheiro. “Aqui não tem no que gastar. O que vem é só para mim”, diz.
Apesar de não haver dados oficiais revelando o quanto as profissionais desse mercado foram afetadas pela crise econômica, fato é que Sandra não é a única a reclamar. Quem está começando assegura que o mau momento econômico do País está, sim, afetando a libido dos brasileiros. “Os clientes preferem ‘carne nova’ e, mesmo assim, está bem complicado. Faz uns dois meses que comecei e, sinceramente, não sei se vou conseguir juntar dinheiro como queria”, desabafa Letícia, 29 anos.
Natural de Goiás, a garota de programa conta que “Brasília tinha fama de ser um bom lugar para esse serviço”. Mas, por enquanto, a capital não a impressionou. “Esperava mais. Vim para cá achando que tiraria, pelo menos, R$ 5 mil. Meu máximo foram R$ 4 mil”, revela. Diferente de Sandra, ela não faz descontos. “A gente deve ser mais exigente. Ou tem ou não tem”, opina a acompanhante, que oferece seus serviços por meio de sites.
Anúncios em sites e jornais e cartão de crédito
Outra garota de programa, que também trabalha por meio da internet, conta que “a clientela está mais reservada”. Segundo Mariana, de 38 anos, “as pessoas não estão mais querendo gastar com sexo. Querem pechinchar”, conta. Com os descontos, revela, o maior problema é que elas perdem valor de mercado. “Se a gente não ceder, acaba ficando sem. Mas tem cliente que quer descer tão baixo que, se cedermos, fazemos de graça. A crise realmente nos afetou”, completa.
Para competir e não perder clientes, conta Mariana, o jeito foi colocar anúncios em sites e jornais. “Ou passar no cartão de crédito. Isso foi uma opção boa para mim”, revela. Os preços variam de R$ 150 até R$ 1 mil. “ A gente tem que se virar. Antes, eram R$ 2 mil determinado programa. Hoje, é mais barato. Tenho um agente que faz divulgação em sites, pelo Whatsapp. A gente procura diversificar”, ressalta.
Segundo a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), Cida Vieira, apesar de 2015 ter sido um ano de conquistas para a categoria, a crise atingiu bastante o mercado do sexo. “Enfrentamos desafios e, para superar, investimos em parcerias como o uso da máquina de cartão de crédito. Hoje, um programa pode ser parcelado também, já facilita”, aponta. Em Minas, ela conta que há semanas promocionais. “A gente orienta as meninas a negociarem. Os dias de desconto atraem mais clientes”, explica. Mas, para ela, não dá para acompanhar a inflação e o aumento de gastos.
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