Flagrante foi feito em frente de unidade hospitalar, em Colorado

As imagens de um cavalo passando por uma radiografia na carroceria de um carro, em frente a uma unidade de saúde, estão repercutindo nas redes sociais de Rondônia. De acordo com denúncias feitas ao Ministério Público de Rondônia (MP-RO), o equipamento de raio-X que aparece nas fotos pertence ao Hospital Municipal Pedro Granjeiro Xavier e foi usado ilegalmente em Colorado do Oeste (RO), município distante 800 quilômetros de Porto Velho.

A repercussão do caso começou quando o locutor Roni Freitas recebeu fotos de um funcionário esta semana. Após postar as imagens da radiografia na internet, Freitas marcou três vereadores do município e pediu que a situação fosse apurada. “O que mais me indignou foi a inversão de valores. Muitas pessoas não conseguem fazer um raio-X no hospital e sempre são encaminhadas para Vilhena ou Cerejeiras. Para o cavalo, o equipamento foi arrumado na hora”, desabafa.

Ao serem marcados na publicação online, os vereadores Jedeon de Souza Lima (PMDB), Almiro Dias da Silva (Solidariedade) e Mariley Novaki (PT) registraram uma denúncia na promotoria sobre o uso indevido do equipamento médico. “Temos várias reclamações que o aparelho de raio-X estava quebrado. A revolta da população é essa, pois as pessoas não conseguem ser atendidas, enquanto o cavalo foi atendido na hora”, enfatiza Mariley.

O promotor de justiça na cidade de Colorado do Oeste, Marcos Giovane Ártico, explica que um inquérito civil público foi instaurado e que os envolvidos no caso serão processados por improbidade administrativa. Ártico não descarta a possibilidade de eles serem responsabilizados na esfera criminal, por crime contra a administração pública.

Preocupação com o animal
Procurado, o enfermeiro que ajudou a fazer o raio-X no cavalo, Caio Mendes da Silva, assumiu a realização do exame e disse não se arrepender da atitude. “Fiz isso para ajudar, por causa da dor do animal. Não me arrependo. Caso eu perca meu emprego, estou dormindo tranquilo. Fiz esse procedimento para que ele não fosse sacrificado. E independente da raça ou do preço do animal, eu iria ajudar”, conclui.

Mendes, que foi afastado da função após a denúncia na promotoria, relembra que o atendimento ao animal ocorreu após um veterinário chegar à unidade de saúde pedindo uma caixa de gesso. Ao questionar sobre o uso do material, o solicitante explicou que um cavalo teria sofrido uma fratura. “Foi eu mesmo que sugeri fazer o raio-X para saber se o procedimento correto era engessar, mas orientei que ele pedisse autorização para os gestores. Ele voltou e disse ter conseguido a autorização”, esclarece.

O enfermeiro afirma que em nenhum momento o animal foi colocado dentro do hospital. Ele também revela que, após fazer raio-X, foi até o parque de exposição para ajudar a engessar a pata do cavalo, realizado com o material da unidade.

Atendimento não autorizado
O prefeito de Colorado do Oeste, Josemar Beatto (PSDC), garante que o procedimento não foi autorizado e que o caso está sendo averiguado através de uma sindicância. Um servidor efetivo estadual, cedido para a unidade e uma prestadora de serviços foram afastados do hospital. “Jamais autorizaria um ato desses, por mais que seja um ser vivo. Não sei se a pessoa agiu por sentimento, razão ou por juramento à profissão. Mas nenhum funcionário estava autorizado para usar equipamentos ou materiais do hospital dessa forma”, enfatiza. 

Segundo Beatto, há dois aparelhos de raio-X no hospital e um deles apresentava falhas. No entanto, o prefeito não soube precisar qual equipamento foi utilizado na radiografia do cavalo.

Caso o Ministério Público comprove a improbidade administrativa em Colorado do Oeste, os envolvidos na radiografia podem perder o cargo público, sofrer multa, ter a suspensão dos direitos políticos e ser proibido de contratar com o poder público. “Vamos apurar e ouvir cada um, e no final do procedimento vamos valorar em qual conduta criminal eles incorreram com essa conduta ilícita. O ilícito civil é certo, agora vamos apurar o ilícito criminal. Seriam duas responsabilidades em esferas distintas”, salienta o promotor de justiça Marcos Ártico.