PF afirma que Marcelo Odebrecht tentou ‘atrapalhar’ investigação antes da prisão

Anotações encontradas citam autoridades públicas e influências junto às instituições, inclusive o Judiciário

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Anotações encontradas citam autoridades públicas e influências junto às instituições, inclusive o Judiciário

A Polícia Federal apresentou trechos do relatório  que justificou o indiciamento de Marcelo Odebrecht, presidente da holding Odebrecht S.A, na segunda-feira (20), apontando que o executivo tentou “atrapalhar” as investigações da Operação Lava Jato antes de ser preso.

Anotações encontradas em celulares citam autoridades públicas, doações de campanha, pagamentos diretos e influências junto às instituições, inclusive o Judiciário.

“Marcelo [Odebrecht] ainda elenca outros passos que devem ser tomados identificando-os como ‘ações B’, tido aqui como uma espécie de plano alternativo ao principal. Dentre tais ações estão ‘parar apuração interna’, ‘expor  grandes’, ‘desbloqueio OOG’ (Odebrecht Óleo e Gás), ‘blindar Tau’ e ‘trabalhar para para/anular (dissidentes PF…)’”, diz trecho do relatório.

As anotações também mostram preocupação em relação às subsidiárias da Petrobras.

“Chama a atenção também a preocupação de Marcelo em relação às Cias da Petrobras estarem sendo conduzidas por ‘xiitas’ e, nas palavras dele, com seguinte linha de pensamento: temos que encontrar ‘culpado’ caso contrário vamos ser acusados de ‘incompetentes e/ou coniventes’!”

“Entretanto, diante da possibilidade de que as informações produzidas pelas Cias não fossem fidedignas seria de esperar um esclarecimento idôneo por parte da Odebrecht, ao contrário da negativa rasa ou a estratégia de ‘cortina de fumaça’ que tem sido aplicada a cada novo indício de ilicitude que surge em relação ao grupo Odebrecht”, afirma a PF no relatório.

Odebrecht utilizava em seu aparelho e siglas como GA (referência ao governador Geraldo Alckmin), MT (Michel Temer), GM (Guido Mantega), JS (neste caso a Polícia Federal utilizou uma tarja preta para não identificar o contato), FP (a PF usou também uma tarja preta para não identificar o contato) e ECunha, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ).

Em duas ocasiões, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Alckmin em outubro de 2014, e com o vice-presidente Michel Temer em 21 de novembro do ano passado.

Há ainda o tópico “notas antigas”, no qual há referência “adiantar 15 p/JS” e em seguida a anotação “IPI até dez e pis/Cofins até jan”. Há também o título “Contribuição” com referências a valores e siglas que a Polícia Federal ainda não identificou.

De acordo com o relatório, “outro ponto polêmico na anotação 10048, se refere a questão urdida por Marcelo para que Marcio Faria e Rogério Araújo não movimentem nada e que serão reembolsados, bem como terão suas famílias asseguradas, pelo que se verifica, trata-se de estratégia para que Marcio Faria e Rogerio Araújo não movimentem contas bancárias (remanescendo a dúvida se tais contas seriam nacionais ou não), que todos os gastos dos mesmos serão ressarcidos, bem como suas famílias não sofrerão desgastes financeiros.”

“Temos ainda a clara intenção de Marcelo em proteger Marcio Faria e Rogério Araújo, quando este anota que é preciso “higienizar apetrechos MF e RA”, para evitar distorções no significado de tal expressão, temos que higienizar significa “tornar limpo ou higiênico”, e apetrecho condiz com “acessórios, ferramentas, instrumentos, etc”, desta forma a referida anotação traduz a ideia de que os apetrechos (a exemplos de telefones, tabletes, notebooks, pendrives, etc) sejam limpos, impedindo assim que em possível apreensão, tais apetrechos possam conter informações prejudiciais aos supracitados.

“Marcelo ainda anota que é preciso “vazar doação campanha”, mas não especifica sobre qual campanha, nem candidatos. Em outro ponto questiona um nome para ter contato “ágil/permanente” com o grupo de crise do governo, visando o repasse de informações, bem como a realização de “ações coordenadas”. “

“Marcelo ainda anota as seguintes siglas: GA, FP, AM, MT, Lula e ECunha,acompanhadas de ponto de interrogação, contudo, sem relaciona-las diretamente a qualquer assunto. Tais siglas se referem possivelmente a Geraldo Alckmin, Fernando Damata Pimentel, Adriano Sá de Seixas Maia (diretor jurídico da Odebrecht Transport), Michel Miguel EliasTemer Lulia, Lula e Eduardo Cunha.”, diz o relatório.

 

A Odebreccht divulgou nota:

“Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivo  e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação à Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente  interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal  de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras.”

 

Polícia Federal indicia presidente da Odebrecht

A PF (Polícia Federal) indiciou oito pessoas no inquérito da 14ª Fase da Operação Lava Jato envolvendo a empreiteira Odebrecht pelos crimes de fraude à licitação, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, crime contra a ordem econômica  e organização criminosa. Os indiciados foram Marcelo Bahia Odebrecht, Rogério Santos de Araújo, Alexandrino de Salles Ramos de Alencar, Márcio Farias da Silva, César Ramos Rocha, Celso Araripe de Oliveira, Eduardo de Oliveira Freitas Filho e João Antônio Bernardi Filho.

O relatório foi protocolado no processo eletrônico da Justiça Federal na segunda-feira (20). A 14ª fase da Lava Jato foi deflagrada no dia 19 de junho, com mandados envolvendo a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Neste domingo (19), nove pessoas foram indiciadas pela PF no inquérito relacionado à Andrade Gutierrez, entre elas o presidente da empreiteira, Otávio Marques de Azevedo.

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), as empresas tinham esquema “sofisticado” de corrupção ligado à Petrobras, com depósitos no exterior.

De acordo com delegado federal Eduardo Mauat da Silva, Marcelo Odebrecht ficou em silêncio durante seu depoimento.

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