Morre aos 80 anos o tradicionalista Nico Fagundes
Artista foi um dos mais respeitados estudiosos da cultura gaúcha
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Artista foi um dos mais respeitados estudiosos da cultura gaúcha
Morreu na noite desta quarta-feira (24) o folclorista, poeta, historiador e apresentador Antonio Augusto Fagundes, conhecido como Nico Fagundes. Ele tinha 80 anos e estava internado há mais de um mês no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre. O óbito foi constatado às 21h10 na UTI do hospital, informou a instituição. As causas da morte não foram divulgadas a pedido da família.
Segundo familiares, o velório de Nico será a manhã desta quinta (25), no Palácio Piratini. A cerimônia será aberta ao público a partir das 9h. O sepultamento está marcado para as 18h, no Cemitério João XXIII, também na capital.
Nico Fagundes foi um dos mais respeitados estudiosos da cultura gaúcha, vestimenta, dança e culinária. Suas letras e canções já foram gravadas por dezenas de músicos. Graças a ele, o Rio Grande do Sul tem clássicos como o “Canto Alegretense” e “Origens”.
O folclorista ficou conhecido como o apresentador do Galpão Crioulo, programa da RBS TV que comandou por 30 anos. Nesse período, mais de 1,5 mil edições foram ao ar. Em 2012, se despediu da atração, que passou a ser apresentada por seu sobrinho, Neto Fagundes, e Shana Müller (veja a homenagem feita pelo programa no vídeo).
“Eu me sinto um veterano em fim de carreira, um veterano realizado. O que eu posso querer mais em termos de televisão?”, disse em entrevista na época.
Em 4 de novembro de 2014, Nico completou 80 anos. Para homenagear o artista, três fotógrafos amigos dos Fagundes selecionaram imagens que marcaram a trajetória da família e montaram uma exposição. Segundo Djuliane Rodrigues, a ideia era fazer a mostra apenas com imagens de Nico. Entretanto, foi difícil separá-lo da família.
Dois dias antes do aniversário, foi ao ar um programa Galpão Crioulo especial em homenagem a Nico. Os apresentadores convidaram artistas para interpretarem músicas do grupo Os Fagundes, formado em 2001 por ele junto aos sobrinhos Neto e Ernesto e ao irmão Bagre Fagundes.
No dia 20 de setembro de 2014, o especial “Bah! Um programa muito gaúcho” mostrou uma escola em Porto Alegre qua há mais de 7 anos faz uma invernada inspirada em Nico Fagundes. Como ele não pôde assistir de perto à apresentação, o vídeo foi levado à sua casa. O tradicionalista aprovou o que viu. Foi uma das suas últimas aparições na televisão.
“Que beleza. O Rio Grande é esta maravilha. Quando pensa que já fez tudo o que gostaria de fazer nesta área, surge mais uma coisa linda, que te atrai. Isso é maravilhoso”, declarou na ocasião.
Em 2000, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), mas se recuperou. Em 2010, chegou a ficar em coma induzido após uma infecção geral no organismo. Dois anos depois, voltou à UTI pelo mesmo problema.
Nico deixa a mulher, Ana Lúcia Piagetti Fagundes, com quem se casou em 2011, e seis filhos, sendo cinco do primeiro casamento e um do segundo.
Biografia
Nico Fagundes nasceu em 4 de novembro de 1934, em Inhanduí, interior de Alegrete. Nico iniciou a carreira jornalística aos 16 anos, como cronista e repórter do jornal Gazeta de Alegrete. No mesmo período, começou a atuar na rádio local, apresentando programa humorístico e gauchesco. Foi secretário dos Cadernos do Extremo Sul, editando diversos poetas.
Em 1954, mudou-se para Porto Alegre, onde ingressou no 35 CTG, a convite do poeta Lauro Rodrigues. No mesmo ano, tornou-se redator do Jornal A Hora, no qual atuou durante muitos anos escrevendo a página Regionalismo e Tradição.
Em 1955, passou a fazer parte do Instituto de Tradições e Folclore da Divisão de Cultura do Estado. Durante oito anos, estudou folclorismo, especializando-se em Cultura Afro-gaúcha. Eleito Patrão do 35 CTG, tornou-se professor de danças folclóricas e literatura gauchesca no Instituto de Tradições e Folclore. Viajou para a Europa como sapateador do grupo Os Gaudérios, morando em Paris por quatro meses.
Iniciou pesquisas de indumentária gaúcha, tornando-se a maior autoridade sobre o assunto no Rio Grande do Sul. Contratado como ator pela TV Piratini, foi um dos fundadores do Conjunto de Folclore Internacional, mais tarde batizado de Os Gaúchos, do qual foi diretor durante 15 anos.
Em 1960, fundou, no Instituto de Tradições e Folclore, a Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que funcionou durante seis anos. Atuou como titular nas cadeiras de danças folclóricas e indumentária gaúcha. Foi diretor da escola durante seis anos.
Formado em Direito, pós-graduado em História do Rio Grande do Sul e Mestre em Antropologia Social, todos os seus cursos foram realizados na UFRG (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Por todas essas suas qualificações, Antonio Augusto Fagundes é respeitado como autoridade em Folclore gaúcho, História do Rio Grande do Sul, Antropologia, Religiões afro-gaúchas, Indumentária gauchesca, Cozinha gauchesca e danças folclóricas.
Entretanto, a face menos conhecida deste intelectual é também sua face mais antiga, a de poeta. Ganhou prêmios e distinções importantes, como a Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro, a Comenda Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil, da qual é também advogado jubilado, e a Comenda do Mérito Oswaldo Aranha. Recebeu inúmeros prêmios em poesia, canções gauchescas, declamações, danças folclóricas e teses. É autor de mais de 100 músicas, entre as quais, “O Canto Alegretense”.
Escreveu o roteiro do filme “Para Pedro”. Atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme “Ana Terra”. Escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme “Negrinho do Pastoreio”, com Grande Otelo. Atuou ainda como ator no filme “O Grande Rodeio”, o qual também produziu e dirigiu.
Em 1976, ingressou na Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. Em 1990, fundou e assumiu o comando do grupo Cavaleiros da Paz, com o qual empreendeu cavalgadas por diversos países da América do Sul. Quatro anos depois, assumiu a presidência do IGTF.
Na RBS TV, Nico apresentou o Galpão Crioulo por três décadas, de 1982 a 2012. Sua despedida da televisão foi marcada por uma edição comemorativa do programa, gravada com grandes nomes da música regionalista em Venâncio Aires. No ar, Nico foi substituído pelo sobrinho Neto Fagundes e pela cantora Shana Müller.
Em 2000, teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral), e chegou a se afastar do Galpão Crioulo, mas se recuperou. Em 2001, juntou-se aos sobrinhos Neto e Ernesto e ao irmão Bagre Fagundes para formar o grupo Os Fagundes.
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