Jornalista e escritor Zuenir Ventura toma posse na ABL
Jornalista ocupa a cadeira 32, que era de Ariano Suassuna
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Jornalista ocupa a cadeira 32, que era de Ariano Suassuna
A ABL (Academia Brasileira de Letras) ganhou mais um imortal nesta sexta-feira (6). Aos 83 anos, o escritor e jornalista mineiro Zuenir Ventura tomou posse na cadeira 32, antes ocupada pelo paraibano Ariano Suassuna.
Com os olhos embotados de lágrimas, Zuenir Ventura se disse “alegre e tenso” ao chegar à ABL trajando o fardão dos imortais. “O peso simbólico [da vestimenta] é muito maior que o real. O principal peso é entender essa imortalidade”, disse.
O jornalista reiterou ter sido surpreendido ao receber a maioria dos votos na eleição para ocupar a cadeira de número 32. “Eu nunca pensei que a academia tivesse tanto carinho por mim”, declarou.
Nos últimos meses, Zuenir se debruçou sobre a obra de seu antecessor, o paraibano Ariano Suassuma, de quem se diz um grande admirador. “Fazer um discurso sobre Ariano Suassuna é muito difícil. Fiz uma homenagem modesta, imperfeita e incompleta”, comentou a respeito de seu discurso de posse, acrescentando que Suassuna “é insubstituível, insuperável, eu vou apenas sucedê-lo”.
“Ariano Suassuna debochava quando era chamada de anacrônico. Assim como usava o humor como antídoto ao trágico”, afirmou o novo imortal em seu discurso de posse.
Zuenir foi recepcionado pela acadêmica Cleonice Bernardinelli, que foi sua professora na Faculdade Nacional de Filosofia. Ele é o quinto ex-aluno que a imortal recebe na Academia. Foram seus discípulos Ana Maria Machado, Antônio Carlos Secchin, Domício Proença Filho e Affonso Arinoa de Mello Franco. No fim do mês, Cleonice receberá o sexto ex-aluno na ABL, Evaldo Cabral de Mello.
“Relembrando versos do velho amigo Manuel Bandeira, um confrade que aqui nos precedeu, digo convicta: Entre Zuenir, você não precisa pedir licença”, disse Cleonice ao encerrar seu discurso.
Após o discurso de Cleonice, Zuenir recebeu a espada dos imortais das mãos de Eduardo Portella. Na sequência, Merval Pereira lhe entregou o colar e Domício Proença Filho o diploma. Por fim, foi declarado empossado pelo presidente da entidade, Geraldo Holanda Cavalcanti.
Geraldo Holanda Cavalcanti disse que a ABL “se enriquece com a presença de um observador arguto da contemporaneidade brasileira” ao destacar que o novo imortal é reconhecido “pela conviviabilidade amena, generosa e aberta que tão bem caracteriza a personalidade de Zuenir”.
Carreira
Bacharel e licenciado em Letras Neolatinas, Zuenir Ventura é jornalista, ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola Superior de Desenho Industrial, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Colunista do jornal “O Globo”, ingressou no jornalismo como arquivista, em 1956. Nos anos 1960 e 1961 conquistou bolsa de estudos para o Centro de Formação dos Jornalistas de Paris. De 1963 a 1969, exerceu vários cargos em diversos veículos: foi editor internacional do “Correio da Manhã”, diretor de Redação da revista “Fatos & Fotos”, chefe de Reportagem da revista “O Cruzeiro”, editor-chefe da sucursal-Rio da revista “Visão-Rio”.
No fim de 1969, realizou para a Editora Abril uma série de 12 reportagens sobre “Os anos 60 – a década que mudou tudo”, posteriormente publicada em livro. Em 1971, voltou para a revista Visão, permanecendo como chefe de Redação da sucursal-Rio até 1977, quando se transferiu para a revista Veja, exercendo o mesmo cargo. Em 1981, transferiu-se para a revista IstoÉ, como diretor da sucursal. Em 1985, foi convidado a reformular a revista Domingo, do Jornal do Brasil, onde ocupou depois outras funções de chefia.
Em 1988, Zuenir Ventura lançou o livro 1968 – o ano que não terminou, cujas 48 edições já venderam mais de 400 mil exemplares. O livro serviu também de inspiração para a minissérie “Os anos rebeldes”, produzida pela TV Globo. O capítulo “Um herói solitário” inspirou o filme O homem que disse não, que o cineasta Olivier Horn realizou para a televisão francesa.
Em 1989, publicou no Jornal do Brasil a série de reportagens “O Acre de Chico Mendes”, que lhe valeu o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Vladimir Herzog. Em 1994, lançou Cidade partida, um livro-reportagem sobre a violência no Rio de Janeiro, traduzido na Itália, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de Reportagem. Em fins de 1998, publicou O Rio de J. Carlos e Inveja – Mal Secreto, que foi lançado depois em Portugal e na Itália. Já vendeu cerca de 150 mil exemplares. Em 2003, lançou Chico Mendes – Crime e Castigo.
Seus livros seguintes foram Crônicas de um fim de século e 70/80 Cultura em trânsito – da repressão à abertura, com Heloísa Buarque e Elio Gaspari. No cinema, codirigiu o documentário Um dia qualquer e foi roteirista de outro, Paulinho da Viola: meu tempo é hoje, de Izabel Jaguaribe. Suas obras mais recentes são Minhas histórias dos outros, 1968 – o que fizemos de nós e Conversa sobre o tempo, com Luis Fernando Verissimo. Seu livro mais recente é o romance Sagrada Família.
Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país nos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.
Ao comentar sua série de reportagens sobre Chico Mendes e a Amazônia, The New York Review of Books classificou o autor como “um dos maiores jornalistas do Brasil”. A revista inglesa The Economist definiu-o como “um dos jornalistas que melhor observam o Brasil”.
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