Ex-morador de favela, brasileiro é PhD e dá aula nos EUA

Aluno de escola pública, André Luiz Souza chegou aos Estados Unidos com US$ 25 no bolso

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Aluno de escola pública, André Luiz Souza chegou aos Estados Unidos com US$ 25 no bolso

Passar raspando no final do ano, com notas no limite da média e com aquela ajudinha da professora. Quem nunca? André Souza nunca. Nascido na favela de Vera Cruz, em Belo Horizonte, o brasileiro de 34 anos sempre ralou muito para garantir boas notas logo no primeiro semestre.

A determinação e a disciplina para os estudos o levaram para bem longe da comunidade em que foi criado, pelo pai, motorista de ônibus;  e a mãe, manicure. Atualmente, André tem o título de PhD, é professor e pesquisador do departamento de Psicologia da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.

As dificuldades foram muitas: a família, simples, foi despejada duas vezes e chegou a morar em um galpão por um período. Quando não tinha luz, por falta de pagamento, o pai acendia velas para que as crianças não deixassem de fazer a lição de casa.

A família, segundo André, foi a base mais forte quando a vontade de desistir aparecia, e os pais nunca permitiram que os filhos deixassem os estudos para trabalhar.

Na comunidade, oportunidades para ganhar dinheiro “fácil” também surgiram, mas André dispensava. “Uma coisa que meus pais sempre me ensinaram: a gente pode ser pobre, mas não precisa ser desonesto.”

 

Lavar pratos todo dia

Concluído o ensino básico, André decidiu ir atrás de um sonho. “Sempre quis vir para os Estados Unidos para ganhar dinheiro.” Mas o que a princípio era uma simples vontade de mudar de status financeiro acabou se desenhando como sua definição profissional.

Em 2000, começou a cursar Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A faculdade mantinha um convênio com a Universidade do Texas, no qual mandava os melhores alunos para um intercâmbio de quatro meses.

André foi um dos selecionados, mas apenas os custos com universidade seriam bancados pela instituição. “Eu não tinha na verdade nem o dinheiro da passagem. Tudo que o que consegui foi de amigos que me ajudaram. Cheguei nos Estados Unidos com US$ 25.”

Dessa quantia, “torrou” US$ 15 em um cartão para ligar para a mãe e avisar que chegou bem. No entanto, logo arrumou uma forma de ganhar dinheiro. “Nunca tive preguiça de trabalhar, então qualquer tipo de emprego, para mim, era válido.”

Em um primeiro momento, cortava a grama e limpava as calhas da vizinhança. Depois, conseguiu uma ocupação em um restaurante, como lavador de pratos. A alegria, no entanto, durou pouco, porque André não poderia trabalhar estando no país como estudante. Foi denunciado, teve que fazer as malas e voltar para o Brasil.

 

Um dia eu volto

Para manter contato com a faculdade americana, André deu um jeito de preparar a sua volta. “Entrei em contato com uma professora do departamento de Psicologia da Universidade do Texas e ela estava fazendo uma pesquisa com brasileiros. Me ofereci para ajudar a fazer essa pesquisa no Brasil, para manter o vínculo com a universidade.”

André terminou então o curso de Letras, e entrou para o mestrado, ainda na UFMG. À convite da mesma professora com a qual vinha mantendo contato, voltou para o Texas para fazer seu doutorado.

Lavou mais uma porção de pratos para sobreviver, mas, algum tempo depois, já estava dando aula, sempre conciliando também o trabalho de pesquisa. “Comecei a me especializar na área que trabalho hoje, que é psicologia cognitiva e modelamento estatístico.”

Seguindo esta mesma linha de pesquisa, também fez pós-doutorado na Universidade de Concórdia, em Montreal, no Canadá, por um ano; e em Oxford, na Inglaterra, por mais um ano.

De volta aos Estados Unidos, voltou a lecionar no Texas e, atualmente, dá aula na Universidade do Alabama. Para ele, o diferencial que o levou tão longe foi o foco em sua área de estudo. “Comecei a me dedicar a aprender as coisas da minha área de uma forma muito detalhada. Como estamos na era da internet, a informação vem muito fácil, temos muito conhecimento superficial sobre muita coisa. O que criou esse diferencial para mim foi o fato de eu pegar algumas coisas da minha área e aprofundar muito, níveis de detalhes que as pessoas geralmente não ligam muito.”

Com base em sua própria experiência, ele atesta: “o sucesso é demorado”. “Se você quer ter sucesso em qualquer área, dedique tempo a ela”, indica. E para quem quer ir longe, a dica também é certeira. “Ser curioso e saber muito além do conhecimento superficial”, finaliza.

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imagem: Freepik
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