D. Odilo critica prece anti-homofóbica em SP: ‘inadequada’

A iniciativa foi adotada pela igreja Nossa Senhora do Carmo

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A iniciativa foi adotada pela igreja Nossa Senhora do Carmo

A iniciativa foi adotada pela igreja Nossa Senhora do Carmo, onde, domingo passado, uma oração comunitária pediu aos fieis que rezassem contra “ a ofensiva homofóbica, fundamentalista e histérica presente no Congresso Nacional” e a enfrentar situações como essa “com ousadia e serenidade” e em defesa de “causas libertárias”. A paróquia, contudo, não pertence à arquidiocese, mas à diocese de São Miguel Paulista, também no leste paulistano.

Neste sábado, a assessoria de imprensa de dom Odilo encaminhou nota ao Terra na qual critica o tipo prece conduzida na paróquia de Itaquera. “O arcebispo de São Paulo considera inadequadas as citadas ‘preces’ para a celebração litúrgica, que não deve ser instrumentalizada para luta ideológica de nenhum tipo”, informa o texto.

Ainda por meio da assessoria, dom Odilo – que chegou a ser cotado, em 2013, para a sucessão de Bento 16, que renunciara – fez questão de enfatizar que o pároco da Nossa Senhora do Carmo em Itaquera, Paulo Sérgio Bezerra, 61 anos, “não pertence ao clero da Arquidiocese de São Paulo” e “não perguntou a opinião do arcebispo de São Paulo sobre suas iniciativas” [na missa de domingo]. Padre Paulo é pároco no local há 33 anos –a maior parte de seus 35 anos de ordenação.

O tipo de oração considerada “inadequada” pelo arcebispo, além das críticas contra práticas supostamente homofóbicas por parte do Congresso, tinha ainda outro trecho que pedia pelo diálogo sobre as sexualidades, para que isso levasse “as igrejas cristãs a superar a demonização das relações afetivas”. A criminalidade sexual – que fez o Brasil liderar o ranking de assassinatos de homossexuais , ano passado – seria citada outras duas vezes, pelo fim dela, bem como para que os direitos individuais pudessem ser resguardados a cada indivíduo.

A reportagem tentou ouvir dom Odilo sobre o porquê de preces que condenam atitudes de ódio ser avaliadas como instrumentos “para luta ideológica” a ser evitada na cerimonia litúrgica. O pedido de entrevista foi negado.

Procurado, o padre em Itaquera evitou polemizar com o arcebispo. “Respeito o cardeal de São Paulo”, disse, para completar: “As preces estão dentro de um contexto de sete domingos de celebrações nos quais o tema geral são as ‘provocações da vida e as respostas da fé’. Não se trata de nenhuma ideologia, a não ser buscar na palavra de Deus, nas ciências e na liturgia as respostas da fé para as provocações da vida, só isso”, definiu.

“As preces são um momento em que o Espírito sopra onde quer, são livres, sequer fui eu que as escrevi. Tenho total respeito ao cardeal, mas estou na Igreja como membro dela e tentando dialogar com as questões que o mundo coloca, entre as quais, a sexualidade – mas, veja bem,  o mundo coloca, não eu. E as respostas que a fé dá são plurais”, encerrou.

Causas “libertárias” envolvem indígenas e LGBT

A reportagem ouviu esta semana padre Paulo sobre a repercussão que a oração ganhou na internet e sobre quais seriam, afinal, as “causas libertárias” que deveriam contrapor a chamada “ofensiva homofóbica” citadas na oração. De acordo com o religioso, elas vêm sendo apresentadas uma a cada domingo, no planejamento feito já há um ano. Vão desde a ameaça sofrida por povos indígenas – tanto por terras demarcadas quanto por fatores ambientais – a questionamentos sobre felicidade e corrupção.

“Não estamos desconectados de nada que o papa Francisco vem pedindo – por exemplo, sobre casais que não dão mais certo juntos, e, moralmente, devem se separar. Não queremos brigas, mas precisamos soltar a língua e parar de ter medo de falar aquilo que precisa ser dito”, justificou.

A cada domingo de manhã, conforme o padre, o tema expresso na “oração dos fiéis”, durante a liturgia, é discutido durante a missa com um convidado. Além dos teólogos e sociólogos que já participaram, as duas últimas celebrações “libertárias” do ciclo terão o deputado federal Chico Alencar (PSOL) para falar sobre a crise política e a onda conservadora, neste domingo, e, no seguinte (5), o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, para falar sobre a importância dos movimentos sociais como forma de participação política. A paróquia fica na rua Flôres do Piauí, 170, em Itaquera.

 

 

 

 

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