Cidades que mais desmatam na Mata Atlântica estão na fronteira do Cerrado

Os principais fatores são a derrubada de árvores

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Os principais fatores são a derrubada de árvores

Os municípios com as dez maiores áreas de floresta derrubada na Mata Atlântica estão em áreas próximas ao Cerrado, indica um novo mapeamento. Na opinião dos pesquisadores que realizaram o trabalho, a falta de governança no bioma do Brasil central está “contaminando” seu vizinho.

O detalhamento do desmate na região foi realizado pela ONG SOS Mata Atlântica, que tem produzido mapas anuais da devastação do bioma em pareceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), desde o ano 2000. A partir desse ano, os dados consolidados passam a ficar disponíveis em um site na internet (www.aquitemmata.org.br), com previsão de ativação para a manhã desta quarta-feira (11).

Os novos mapas, referentes ao período 2013/2014, mostram que os principais focos de desmatamento na Mata Atlântica estão em municípios do centro do Piauí, nordeste de Minas Gerais e oeste da Bahia. O Mato Grosso do Sul possui também um município entre os dez maiores desmatadores.

Carvão, grãos e eucalipto

Segundo a ONG que produziu os mapas, os principais fatores de pressão sobre o Mata Atlântica são a derrubada de árvores para produção de carvão vegetal (sobretudo em Minas), e para o plantio de grãos (soja e milho) e eucalipto. São problemas típicos de áreas do Cerrado, onde há mineração e onde ocorre hoje a maior parte da expansão agropecuária.

“Isso mostra a necessidade de medidas urgentes para proteger o Cerrado”, afirma Márcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica. “Essa pressão sobre a Mata Atlântica agora, na verdade, mostra que o que está indo para o espaço é o cerrado brasileiro.”

O município campeão do desmate no período, Eliseu Martins (PI), com 4.287 hectares desmatados entre 2013/2014, está justamente nessa interface entre os dois biomas. Baianópolis (BA), o segundo colocado, com 1.522 hectares derrubados, está na mesma condição.

Apesar de a Mata Atlântica ter restantes apenas 12,5% de seus remanescentes originais e estar extremamente fragmentada, a ONG afirma que hoje não há como comparar a extensão do desmate ali com aquela do seu bioma vizinho. “O Cerrado está praticamente sem nenhuma ação em termos de proteção”, diz Hirota.

Tanto a Amazônia quanto a Mata Atlântica, além disso, possuem levantamentos detalhados sobre suas áreas desmatadas, enquanto no bioma entre eles os dados são bem menos precisos. As cotas de desmate legalizado no Cerrado, permitido pelo código florestal também são maiores.

A entidade já havia divulgado em maio deste ano os rankings dos estados mais desmatadores, do qual o Piauí foi o campeão, com 5.600 hectares desmatados (área de aproximadamente 5.000 campos de futebol).

São Paulo

A SOS Mata Atlântica divulga também nesta quarta-feira as listas dos dez municípios mais desmatadores para cada estado. São Paulo, segundo a ONG, não está entre as maiores preocupações, porque é uma das oito unidades da federação onde o desmatamento foi menor que 100 hectares.

Os poucos municípios que tiveram um desmatamento perceptível no estado no período 2013 e 2014 foram aqueles em áreas de construção do rodoanel viário, obra que requisitou o corte de floresta em alguns trechos, inclusive na capital.

Os municípios que mais tem conseguido evitar depredação são aqueles na Serra do Mar e no litoral, como Ubatuba, Mongaguá e Ilha Bela, onde o relevo acidentado e unidades de conservação conservam a mata.

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